Crédito da imagem: Flickr — Tim Evanson (CC BY 2.0)
Os EUA estão em um território de dívida inexplorado. Isso deveria nos preocupar.
Na quarta-feira 28 de abril, o presidente Biden apresentou um novo plano aos norte-americanos antes de uma sessão conjunta do Congresso: mais gastos.
O recém-lançado plano de US$ 1,8 trilhão, apresentado apenas algumas semanas depois de Biden sancionar US$ 1,9 trilhão em gastos com auxílio-Covid, inclui faculdade comunitária “gratuita”, assim como pré-escola universal para todas as crianças de três e quatro anos de idade.
“O Sr. Biden pode inaugurar uma nova era que expande fundamentalmente o tamanho e o papel do governo federal”, reportou o New York Times.
Quanta dívida é suportável?
O anúncio vem meses depois que o Escritório de Orçamento do Congresso divulgou um relatório projetando um déficit de US$ 2,3 trilhões em 2021.
O plano de Biden quase certamente tornará o déficit ainda pior. Embora o plano contenha vários aumentos de impostos para financiar seus programas, os impostos provavelmente ficarão bem abaixo dos gastos do governo, dizem economistas.
“As leis da economia são mais rígidas do que as leis do governo federal, e essas escaladas de impostos provavelmente não produzirão o milagre que Biden espera”, observou Joshua Jahani, diretor-gerente do Jahani and Associates, em um recente artigo na NBC News.
Como resultado, a dívida nacional de US$ 28,2 trilhões inchará ainda mais rápido. Pior ainda: se passivos não financiados fossem incluídos no balanço patrimonial, como as empresas privadas são legalmente obrigadas a fazer, a dívida ultrapassaria US$ 120 trilhões.
Quanto risco essas obrigações apresentam não está claro.
Há uma escola de pensamento que sugere que essas dívidas não representam um risco sério. Afinal de contas, na teoria, um governo pode rolar sua dívida indefinidamente. Porém, em um artigo recente para o Federal Reserve Bank of St. Louis, o economista David Andolfatto observou que, em última análise, o governo não decide quanta dívida é suportável. O mercado, sim.
“Presume-se que haja um limite de quanto o mercado está disposto ou é capaz de absorver na forma de títulos do Tesouro, para um determinado nível de preço (ou taxa de inflação) e uma determinada estrutura de taxas de juros”, escreveu Andolfatto. “No entanto, ninguém sabe realmente o quão alto a relação dívida/PIB pode chegar. Só poderemos saber quando chegarmos lá.”
Um nível de dívida perigoso?
Andolfatto tem razão ao dizer que ninguém sabe ao certo o ponto de inflexão da dívida. Mas é importante notar que a relação dívida/PIB dos EUA — essencialmente a dívida de um país comparada a sua produção econômica anual — era de 129% no final de 2020. Em outras palavras, a dívida oficial dos EUA era quase um terço maior do que toda a economia dos EUA.
Isso é consideravelmente maior do que a relação dívida/PIB da Grécia em 2010, quando ela recebeu um resgate do Fundo Monetário Internacional para evitar o calote de suas obrigações.
Os Estados Unidos não são a Grécia, claro. Seu potencial econômico é muito maior, e está operando sob uma moeda que controla. Mas não há como negar que os EUA estão em território desconhecido. Hoje, a relação dívida/PIB do governo federal é maior do que era no final da Segunda Guerra Mundial, quando a nação reuniu um dos maiores exércitos que o mundo já viu. Talvez ainda pior, o governo está acumulando dívidas mais rápido do que nunca.
Eventualmente, como observa Andolfatto, o mercado pode muito bem decidir que basta, e a demanda por títulos do Tesouro vai secar. Na verdade, esse é provavelmente um dos motivos pelos quais as criptomoedas estão florescendo bruscamente.
Quase que num piscar de olhos, as criptomoedas deixaram as discussões nos cantos de salas do Reddit e nos corredores das universidades e se tornaram um mercado de mais de US$ 2 trilhões. Não é exagero dizer que as criptos são agora populares; elas estão sendo engolidas por fundos de hedge e atletas famosos que assinam contratos de dez dígitos.
E não é difícil perceber por quê. O mercado está fazendo hedge. Como ratos em um navio afundando, muitos estão procurando uma saída, sentindo que os dias do dólar podem finalmente estar chegando ao fim, pois seu valor é corroído pelo bombeamento em massa.
Ignorando a História?
Em um artigo popular de 2016, o autor Richard Ebeling explorou como os planejadores centrais na Roma Antiga destruíram a economia.
Muito do que Ebeling descreve — dívida, gastos maciços, inflação e a destruição causada pelo controle de preços — soa estranha e assustadoramente familiar aos ouvidos modernos. E Ebeling naturalmente explora o antigo enigma: por que Roma falhou?
Por séculos, como qualquer fã de História sabe, pensadores de Edward Gibbon a Peter Heather e além, fizeram essa pergunta. As respostas variam. Alguns culpam os bárbaros, outros a imigração. Alguns alegaram que o Cristianismo foi o culpado, enquanto outros apontam para doenças ou o enfraquecimento das legiões romanas.
Todas essas teorias são interessantes e dignas de exame, mas não encontrei nenhuma explicação melhor do que a oferecida pelo economista Ludwig von Mises, que concluiu que a decadência de Roma resultou de sua rejeição ao individualismo e ao livre mercado.
“A maravilhosa civilização da antiguidade pereceu porque não ajustou seu código moral e seu sistema legal aos requisitos da economia de mercado”, escreveu Mises.
Ele continuou:
Uma ordem social está condenada se as ações que seu funcionamento normal exige são rejeitadas pelos padrões de moralidade, são declaradas ilegais pelas leis do país e são processadas como criminosas pelos tribunais e pela polícia.
O Império Romano se desfez em pó porque faltou o espírito do liberalismo [clássico] e da livre iniciativa. A política de intervencionismo e seu corolário político, o princípio do Fuhrer, decompôs o poderoso império, como necessariamente sempre desintegrarão e destruirão qualquer entidade social.
O presidente e político americano John Adams supostamente disse certa vez que há duas maneiras pelas quais nações são destruídas.
“Uma é pela espada e a outra é pela dívida”, disse supostamente Adams. (Embora a citação seja amplamente atribuída a Adams, não é suportada por nenhuma documentação escrita)
Não há dúvida de que dívida é um problema sério (é só perguntar aos antigos romanos e aos gregos modernos). Mas se Mises estiver certo, a explosão da dívida pode ser apenas um sintoma de um problema muito maior: o colapso do espírito de liberdade e o crescimento de um sistema hostil à livre iniciativa.
Devemos aprender com uma coisa que temos que os romanos não tinham: seu sinistro exemplo.
Nota do Cabeça Livre:
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Jon Miltimore em 02 de maio de 2021 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, pode ser conferido aqui: