Se você consegue fazer essas três coisas simples, você já está qualificado para ser um pai que ensina em casa.
Ao longo dos anos, ouvi muitos pais descartarem a possibilidade de educar seus filhos em casa porque não se sentiam “qualificados”.
“Eu não sou um professor.”
“Não sou bom em matemática.”
“Eu não era bom em X na escola, então nunca conseguiria ensinar ao meu filho aquele assunto.”
Todas essas suposições derivam de uma falácia sobre o que é educação e o que torna um indivíduo “qualificado” para ser professor.
A falácia: que sua habilidade de ensinar depende da sua experiência no assunto que você está ensinando. Embora isso possa ser verdade para vender seu ensino como um serviço – você não ganharia a vida dando aula de um tópico que não entende – não é um pré-requisito para efetivamente facilitar a aprendizagem do seu filho.
Se você possui ou não licenciatura, é um acessório irrelevante para sua capacidade de ensinar. Para ser um educador eficaz, tudo o que você precisa fazer é:
- Usar recursos de referência (como livros e Google)
- Encontrar as respostas para suas próprias perguntas
- Estimular a curiosidade em seus filhos
Se você consegue fazer essas coisas, você está qualificado para ser um pai que ensina em casa (ou, para usar o termo que está na moda, em inglês, “fazer homeschooling”).
1. Você não precisa saber tudo. Você só precisa ser capaz de encontrar as respostas para as perguntas do seu filho.
Na maioria dos casos, habilidades básicas de pesquisar no Google e a capacidade de explorar com seu filho é tudo que você precisa para ensinar seus filhos em casa.
Veja isso como um exemplo: seu filho está sentado do lado de fora, tomando sol, bebendo uma bebida gelada, e te pergunta por que o lado de fora da xícara está ficando molhado.
Sua reação é simultaneamente intimidação (não faço ideia) e interesse (talvez isso possa virar uma lição de ciências).
Você diz: “Não sei. Vamos descobrir.”
Cinco minutos e algumas pesquisas no Google depois, seu filho aprendeu sobre condensação, ponto de orvalho e os efeitos de um corpo quente em contato com um frio.
Seu filho tem a resposta. Ele tem o mesmo resultado que teria se tivesse perguntado a um especialista; ele agora sabe porque condensação se forma no seu vidro frio. A única diferença é que ele precisa ver seu processo ao longo do caminho – o que é uma vantagem, não um déficit, porque ele aprendeu algo sobre encontrar respostas para suas perguntas, um processo que será obrigado a repetir continuamente ao longo de sua vida.
Como pai, sua habilidade de usar suas técnicas no Google para ensinar se aplica a disciplinas inteiras, não apenas a perguntas pontuais. Os assuntos mais comuns sobre os quais ouço pais expressarem intimidação são Matemática e Ciências; disciplinas que muitas vezes consideraram desafiadoras na escola e não se sentem qualificados para ensinar aos filhos.
Com abundantes recursos gratuitos na Internet (como YouTube e Khan Academy), contanto que você saiba como encontrar uma resposta para uma pergunta – o que todo adulto que pode usar no Google faz – você pode facilitar a aprendizagem de seu filho em qualquer assunto, seja encontrando as respostas você mesmo, seja encontrando recursos que podem ensinar por você.
2. Uma das principais habilidades que as crianças precisam desenvolver é a capacidade de encontrar respostas para suas próprias perguntas
A capacidade de encontrar respostas para perguntas sempre foi importante, mas é especialmente importante na era da informação. Como disse Einstein,
“Nunca memorize aquilo que você pode encontrar nos livros.”
A resposta para quase todas as perguntas que já foram respondidas pelo homem está ao seu alcance. A chave para uma educação útil – aquela que prepara uma criança para uma vida inteira de sucesso – não é memorizar fatos, mas sim aprender como fazer as perguntas certas – e então aprender como encontrar as respostas.
Einstein novamente: “O valor de uma educação universitária não é o aprendizado de muitos fatos, mas o treinamento da mente para pensar.”
Isso é verdade não apenas para a faculdade, mas também para a educação em geral. Se seu filho sabe como pensar, como formular suas curiosidades em perguntas e como responder a essas perguntas, ele será capaz de aprender qualquer coisa que precise, a qualquer momento, por toda a vida.
Essa habilidade transcende o valor de uma educação padronizada – porque é uma habilidade que pode ser usada para aprender qualquer coisa abordada em uma educação padronizada e qualquer outra coisa que seu filho queira aprender.
Repetidamente, tenho visto crianças que estudam em casa rapidamente alcançar e superar seus colegas em um determinado assunto ou conjunto de habilidades, porque eles sabem como se adaptar e aprender.
Ao trabalhar com seus filhos para encontrar respostas para as perguntas deles, você está implicitamente ajudando-os a desenvolver essa habilidade e equipando-os para uma vida inteira de aprendizado.
3. A educação de uma criança é amplamente baseada em sua curiosidade natural
Crianças são naturalmente programadas para aprender. A tendência da próxima geração de aprender é uma parte crítica da nossa sobrevivência como espécie, e está fortemente amarrada a isso.
Cada vez que uma criança imita um adulto, encena o mundo real (como “brincar de loja”) ou faz uma pergunta, você está observando essa conexão natural em ação.
Essa tendência natural para aprender é vantajosa para você como pai que ensina em casa. Tudo que você precisa fazer é alimentá-la. E o ensino doméstico permite que você faça isso com muito mais eficácia do que a escola regular.
Minha primeira incursão no ensino (logo depois de me formar no ensino médio) foi dar aulas de redação. Trabalhei com alunos do ensino doméstico e de escolas públicas, e a diferença entre os dois era surpreendente.
Os alunos do ensino doméstico (homeschooling) eram curiosos, animados e divertidos de trabalhar. Eu estava ensinando-os como escrever ficção e eles não precisavam de muito estímulo. Eu dei a eles um desafio a cada semana, e esse era todo o incentivo de que precisavam. Eu tinha alunos praticamente tropeçando em si mesmos a cada semana para me mostrar o que eles escreveram enquanto estavam em casa entre as aulas.
A alegria em aprender estava viva neles. Tudo que eu precisava fazer era direcionar sua curiosidade natural e deixá-los seguir em frente.
Trabalhar com alunos de escolas públicas foi uma história totalmente diferente. Eu estava trabalhando com todas as séries – da primeira série até o ensino médio – e via de forma bastante perceptível sua curiosidade natural morrendo lentamente.
Os alunos da 1ª à 3ª série estavam ansiosos para aprender. Os alunos da 4ª à 6ª série exigiam alguns estímulos, mas depois de alguma explicação e incentivo podiam começar a se divertir. Mas quando os alunos chegavam ao ensino médio, seu interesse em aprender havia desaparecido. Nada do que tentava poderia deixá-los animados. Eles estavam lá porque tinham que estar, e eles ficavam olhando o relógio esperando até que pudessem ir embora. Aprender havia se tornado um requisito obrigatório, não um esforço originado do desejo.
A escola não estimula a curiosidade; isso a mata. Com suas regras, sua estrutura rígida, sua obsessão por respostas certas e erradas, e suas punições por desviar-se do curso, ela não deixa espaço para a curiosidade.
Com toda aquela estrutura não natural ausente, a curiosidade natural de uma criança permanece intacta. E quando uma criança é deixada por conta própria e é permitida se apoiar em sua curiosidade, a maior tarefa dos pais é ajudar a direcioná-la.
Apesar da crença comum, tudo isso se aplica a ensinar em casa também seu filho do ensino médio
Já ouvi incontáveis pais que ensinam em casa dizerem: “Eu nunca conseguiria ensinar meu filho até o ensino médio”.
Mesmo quando alguém está convencido de sua capacidade de educar seus filhos durante o ensino fundamental, o ensino médio é considerado uma fera diferente.
Os assuntos são mais desafiadores, os requisitos padrão mais complexos e o nível de especialização necessário para responder às perguntas é significativamente mais alto.
Apesar disso, você não precisa de nenhuma qualificação extra para ensinar em casa seu filho que está no ensino médio. Na verdade, os recursos disponíveis para você são ainda mais expansivos do que para alunos do ensino fundamental.
Com seu filho em um nível de compreensão para usar recursos como The Great Courses e Khan Academy (ambos dos quais foram a base da minha própria experiência de ensino em casa), eles são capazes de se engajar em cursos inteiros que abrangem o assunto que eles devem aprender – colocando menos carga sobre você, não mais.
E à medida que seu aluno do ensino médio se torna mais autodirigido, ele é capaz de assumir mais e mais o ímpeto de responder às próprias perguntas. Contanto que você seja capaz de ajudá-lo a encontrar as respostas que procura, você está mais que qualificado para educar seu filho até o ensino médio – e, muitas vezes, o ensino médio é a parte mais divertida da experiência do ensino doméstico (certamente foi para mim).
Nota do Cabeça Livre:
Exemplificando o que a autora fala sobre o ensino doméstico (homeschooling), e em particular de alunos no ensino médio, aqui no Brasil tivemos o caso bem sucedido da Elisa Flemer, que estudou em casa durante o ensino médio e, aos 17 anos, passou em 5º lugar no vestibular para o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
Mas, por não ter feito o ensino médio em uma escola tradicional e não ter diploma, a universidade não aceitou sua matrícula. Ela recorreu à Justiça, pedindo liminar que a permitisse se matricular. O caso dela ganhou repercussão na mídia, de modo que ela recebeu propostas de emprego em grandes empresas e ganhou bolsa de estudos no exterior.
Ela chegou a conseguir a liminar na Justiça, mas acabou desistindo de se matricular na USP devido a burocracias e mais burocracias e à possibilidade – não se pode descartar – de que a universidade recorresse da decisão e mais adiante sua matrícula fosse cancelada, o que resultaria em tempo desperdiçado da sua vida.
Diante da percepção de como a burocracia atrasa essa país, só nos resta rir pra não chorar.
Mas, com calma, aos poucos, espero que consigamos resolver esses e outros problemas.
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Autor: Hannah Frankman
Hannah é coach de desenvolvimento de carreira e instrutora de curso. Ela trabalha como consultora na Praxis e instrutora no The Objective Standard Institute. Você pode encontrar o trabalho dela em hannahfrankman.com.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Hannah Frankman em 7 de novembro de 2021 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em: