E não há nada inerentemente bom ou ruim nisso.
Fardo Agradável, de William-Adolphe Bouguereau, 1895. Fonte: Wikimedia Commons, domínio público.
Tenho uma observação geral sobre os críticos de Jordan Peterson que vem crescendo há alguns meses. Me parece que as objeções mais comuns às coisas que ele diz (sim, geralmente retiradas de contexto e cortadas para formar frases de efeito) são produto de um mal-entendido fundamental da diferença entre afirmações positivas e normativas, e também muitas vezes de profundo desconhecimento da psicologia e áreas afins.
“Agradabilidade” e Psicologia
Um exemplo que vi esta manhã envolveu alguém alegando que Peterson acha que as mulheres que não querem ter filhos são pessoas más porque ele disse que tais mulheres são mais propensas a serem desagradáveis.
Se você não sabe que “agradabilidade” é um traço de personalidade bem definido que psicólogos estudam com frequência, posso ver como isso lhe parece uma afirmação negativa e normativa – até mesmo uma opinião.
“Mulheres que escolhem não ter filhos são desagradáveis” pode soar, para algumas pessoas, o mesmo que “Mulheres que escolhem não ter filhos são idiotas”.
Mas aqui está a coisa… não é esse o significado, e “agradabilidade” não é inerentemente boa ou ruim.
Na psicologia, a agradabilidade (do inglês agreeableness) é um conjunto de traços essencialmente relacionados a bondade, empatia e cooperação. Pessoas agradáveis, como o nome indica, não gostam de “sacudir muito o barco” e são muito boas em seguir instruções e ser obedientes.
Na medida em que isso é uma coisa boa, significa que pessoas agradáveis tendem a ser queridas, fáceis de conviver e se dão muito bem em ambientes onde a cooperação social e a obediência são recompensadas – como na educação formal.
Mas a desvantagem óbvia de não ser confrontador é que suas opiniões são menos propensas a serem ouvidas, você não se defende tanto e é menos provável que sustente sua posição em um debate ou negociação.
Por outro lado, pessoas desagradáveis tendem a se colocar em primeiro lugar e a chegar na frente em ambientes mais competitivos, mas também podem alienar as pessoas e ter outros problemas em casos mais extremos, como problemas para controlar a raiva.
Muitas pessoas observaram que as mulheres não pedem ou recebem aumentos no trabalho com a mesma frequência que os homens. As mulheres também são, em média, mais agradáveis do que os homens.
Nada disso é muito surpreendente se você estiver familiarizado com a pesquisa psicológica.
Não há nada inerentemente bom ou ruim em ser agradável
Mas aqui está onde estou confuso… Peterson foi criticado por dizer que as mulheres são mais agradáveis do que os homens em média, o que é simplesmente recontar os dados de pesquisa existentes, mas aí ele também foi criticado por observar que algumas das mulheres que são menos agradáveis fazem o que você esperaria que mulheres menos agradáveis fizessem – focar em suas carreiras, adiar ter filhos, etc.
O que é estranho nisso é que a crítica nunca é sobre se as mulheres são ou não mais agradáveis em média, ou sobre se ser moderadamente desagradável ou não é útil em ambientes competitivos. A crítica é toda construída em torno da ideia equivocada de que quando Peterson diz essas coisas, ele está dizendo que as mulheres são inerentemente “más” por causa dessas observações.
Ainda mais estranho é que ele está sendo acusado de ser um misógino em ambos os lados – se ele diz que as mulheres são agradáveis, então os críticos dizem que ele quer dizer que a agradabilidade é uma fraqueza e que as mulheres são, portanto, fracas; mas se ele diz que algumas mulheres são desagradáveis, então os críticos dizem que na verdade ele está dizendo que as mulheres são idiotas. De qualquer forma, a crítica se baseia não na ideia de que Peterson está certo ou errado sobre uma afirmação empírica positiva, mas na de que ele acha que as mulheres são inferiores.
Eu assisti a vários vídeos dele falando, e nunca o ouvi dizer qualquer coisa que me levasse a acreditar que ele acha que qualquer um dos traços psicológicos padrões é “inferior”, nem que os traços que normalmente caracterizam as mulheres sejam piores do que os que normalmente caracterizam os homens.
Mas estou assistindo aos vídeos dele com algum entendimento básico da terminologia e do estado da arte da pesquisa. Acho que a maioria dos seus críticos estão assistindo aos vídeos dele com uma crença preconcebida de que ele odeia [insira qualquer grupo identitário diferente de homem hétero branco aqui] e procedendo a partir dessa crença.
Existe uma diferença entre fazer uma afirmação empírica (“algo é assim”) e fazer uma afirmação normativa (“algo deveria ser assim”).
Peterson ocasionalmente fará afirmações normativas, mas nenhuma que eu já tenha visto tem algo a ver com acreditar que mulheres ou homens são inerentemente superiores ou inferiores uns aos outros. Quase todos os aspectos da estrutura geral de crenças dele como psicólogo parecem buscar o equilíbrio – que todos esses traços de personalidade são úteis e importantes, particularmente com moderação, e que se complementam uns aos outros.
Todos nós temos vocabulário especializado
Muitas dessas conversas me lembram conversas semelhantes que tive ao longo dos anos com pessoas sobre Economia. Economistas usam muito vocabulário especializado – por exemplo, “ótimo” não significa que “o melhor resultado” (no superlativo) seja alcançado, embora obviamente seja isso o que significa coloquialmente. Em Economia, “ótimo” significa essencialmente “o melhor resultado possível”.
Como resultado, os economistas dirão coisas como: “A quantidade ótima de desemprego é maior que zero” – ou seja, em uma economia ótima, algumas pessoas podem estar desempregadas.
Críticos ignorantes podem vir com quatro pedras dizendo: “Isso é inaceitável! Todo mundo deveria ter um emprego! Seu idiota insensível, não acredito que você acha que algumas pessoas deveriam estar desempregadas!”
Mas os economistas não estão dizendo que querem que as pessoas fiquem desempregadas. Eles estão dizendo que, considerando as condições do mundo real, o custo de alcançar o pleno emprego pode ser muito maior do que ele realmente vale.
Venho defendendo economistas desse tipo de críticos há anos. Agora tenho que fazer isso com psicologia contra alguns desses mesmos economistas.
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Autor: Sean W. Malone
Sean W. Malone passou mais de uma década construindo equipes criativas e produzindo conteúdo com o objetivo de comunicar efetivamente o valor e a importância da liberdade humana para o maior número de pessoas possível.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Sean W. Malone em 19 de maio de 2018 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em: