Cabeça Livre

Peterson e Rubin são suspensos do Twitter com a guerra cultural esquentando

É fácil vilanizar ativistas trans, mas se quisermos dissuadi-los de cancelar pessoas, é importante entender de onde eles vêm.

Créditos das imagens: [Flickr](https://www.flickr.com/photos/gageskidmore/48719124741) - Gage Skidmore, [CC BY-SA 2.0](https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/deed.pt_BR) / [Wikimedia Commons](https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jordan_Peterson_%2845549951255%29_%28cropped%29.jpg) - Gage Skidmore, [CC BY-SA 3.0](https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/deed.pt_BR)

Créditos das imagens: Flickr - Gage Skidmore, CC BY-SA 2.0 / Wikimedia Commons - Gage Skidmore, CC BY-SA 3.0

Em 22 de junho, Jordan Peterson escreveu um tuíte comentando sobre uma recente cirurgia de redesignação sexual feita por um então ator que agora atende pelo nome de Elliot Page. Peterson foi suspenso do Twitter mais tarde naquele dia por supostamente violar suas regras contra conduta odiosa.

“Você não pode promover violência, ameaçar ou assediar outras pessoas com base em raça, etnia, nacionalidade, orientação sexual, gênero, identidade de gênero, religião, idade, deficiência ou doença grave”, disse o Twitter no aviso. “Ao clicar em Excluir, você confirma que seu Tweet violou as Regras do Twitter.”

“Fui essencialmente banido do Twitter como consequência”, disse Peterson em um vídeo respondendo ao incidente. “Digo banido, embora tecnicamente eu tenha sido suspenso. Mas a suspensão não será desfeita a menos que eu exclua o tuíte ‘odioso’ em questão, e eu prefiro morrer do que fazer isso.”

“É um alívio, de certa forma, ser banido”, concluiu Peterson, “e considero isso, nas condições atuais, como uma medalha de honra”.

Em 29 de junho, o amigo de Peterson, Dave Rubin, foi ao Twitter para comentar sobre a suspensão de Peterson. Ironicamente, Rubin foi suspenso por esse comentário, ele revelou na terça-feira passada, 7 de julho.

“Fui suspenso pelo Twitter por postar uma captura de tela do tuíte de Jordan Peterson que fez com que ele mesmo fosse suspenso”, disse Rubin em comunicado. “Embora não esteja claro como eu violei seus termos de serviço”, ele continuou, “está claro que eles estão quebrando sua responsabilidade fiduciária para com seus acionistas, deixando um bando de ativistas de esquerda administrarem a empresa.”

Como tanto Peterson quanto Rubin apontam, é difícil saber exatamente o que o Twitter achou censurável nos tuítes em questão. No entanto, a explicação provável é que tanto Peterson quanto Rubin se referiram a agora chamada Elliott Page usando seu nome anterior.

“Eu cometi o crime fatal do que veio a ser conhecido na terrível terminologia censória dos insanos ativistas como ‘deadnaming’”, disse Peterson, “que é o ato de se referir a alguém que ‘transicionou’ – outra parte detestável de jargão e slogan – pelo nome, e pela inferência, o gênero, na verdade o sexo, pelo qual todos o conheciam anteriormente.”

Este, ao que parece, é o cerne da questão.

De acordo com muitos ativistas trans, o deadnaming pode ser incrivelmente doloroso para as pessoas que transicionaram. Isso os lembra da pessoa que costumavam ser, a identidade da qual escaparam, e até mesmo esse simples lembrete pode ter um enorme custo psicológico.

Agora, se os ativistas trans estivessem meramente apontando isso e incentivando as pessoas a serem respeitosas, provavelmente haveria pouco problema, e suspeito que a maioria das pessoas ficaria feliz em atender ao pedido. Afinal, há muitas maneiras de mudarmos nossa linguagem e nosso comportamento para fazer com que as pessoas se sintam mais confortáveis. Usamos um apelido preferido quando alguém pede, e evitamos trazer à tona um assunto delicado se sabemos que a pessoa não quer falar sobre ele.

O problema, claro, é que muitos ativistas trans não param por aí. Em vez de um pedido respeitoso, a exortação para cumprir as regras (em constante mudança) do politicamente correto vem como uma exigência, e há consequências graves, como o cancelamento, para aqueles que não obedecem.

A mentalidade por trás da cultura do cancelamento

Embora seja fácil vilanizar os ativistas que pressionam por essas suspensões e banimentos, é importante entender de onde eles vêm. Para a maioria deles, a motivação é a compaixão. Eles estão fazendo isso porque se importam com os marginalizados e oprimidos, e precisamos entender isso, até mesmo ter empatia com isso, se quisermos dissuadi-los de cancelar as pessoas por causa de nomes e pronomes. Pense em uma mãe ursa atacando um agressor para proteger seus filhotes. Isso é efetivamente o que está acontecendo aqui.

Pessoas compassivas tendem a classificar o mundo em vítimas e perpetradores, aqueles que precisam ser protegidos e aqueles que precisam ser enfrentados. Se você se guia por compaixão, faz todo o sentido atacar as pessoas que você enxerga como valentonas, destruir violentamente o que está causando dano.

Notavelmente, esse tipo de compaixão muitas vezes não é uma coisa ruim. Pessoas em posições de poder de fato causam muitos danos, e há circunstâncias (como assédio genuíno) em que é totalmente apropriado chamar a atenção para os agressores e defender as vítimas. A compaixão tem seu lugar, até mesmo a compaixão feroz de uma mãe ursa.

O problema é que a compaixão pode ser levada longe demais. Cancelar pessoas por nomes e pronomes é um exemplo claro, mas existem muitos outros. Pense em quantos programas sociais, impostos e regulamentações são promovidos por compaixão pelos pobres. Pense em quantos projetos industriais são opostos por um profundo amor pelo meio ambiente.

Claro, as pessoas que promovem essas coisas têm boas intenções na maioria das vezes. Mas em sua obsessão equivocada pela compaixão, elas geralmente acabam causando muito mais problemas do que resolvem.

O caminho para a paz na guerra cultural

Então, qual é o caminho certo a seguir? Bem, acho que está no meio de dois extremos: muita compaixão e pouca compaixão.

Primeiro, não devemos ter tanta compaixão a ponto de cancelar e atacar todos que são considerados perpetradores. Por um lado, essa abordagem provavelmente sairá pela culatra, porque é apenas uma questão de tempo até que todos sejamos rotulados como perpetradores. Além do mais, cancelar pessoas é antitético para uma genuína tolerância de diversos pontos de vista.

Ativistas LGBT, de todas as pessoas, deveriam apreciar o valor de tal tolerância. Afinal, foi essa tolerância à diversidade que lhes permitiu chegar aonde chegaram. Foi a liberdade de expressão – não apenas como um princípio legal, mas como um valor cultural a ser defendido nas plataformas sociais e acadêmicas – que permitiu que eles colocassem suas ideias na cultura dominante em primeiro lugar. Seria incrivelmente hipócrita para eles, tendo defendido a liberdade de expressão como meio de promover sua causa, de repente virar as costas para ela agora que seus detratores também têm algo a dizer.

Dito isso, assim como muita compaixão pode ser um problema, também seria errado negligenciar completamente a compaixão. Apenas dizer “deadnaming não importa, eu direi o que eu quero” é uma abordagem insensível que cospe na cara daqueles que estendem a tolerância em sua direção.

“A proteção dos nossos direitos não pode durar mais do que o cumprimento das nossas responsabilidades”, disse John F. Kennedy. Nesse contexto, o direito à liberdade de expressão vem com a responsabilidade de falar judiciosamente. Se você está pedindo às pessoas que o deixem falar livremente, é apenas justo que você pelo menos considere seus pedidos – e tente entender por que eles estão os fazendo – em relação ao que você diz.

Claro, isso não significa que você deve sempre concordar com suas demandas. Isso terá que depender do contexto. O ponto é que você não deve simplesmente descartar a voz da compaixão, não importa o quão estridente ela possa soar.

O objetivo, então, é chegar a um ponto em que o cancelamento e a zombaria sejam substituídos por diálogo e compreensão, tolerância e respeito. Não será fácil, mas se nos comprometermos com esse processo, podemos criar uma sociedade onde ambas a compaixão e a liberdade de expressão possam ser celebradas e promovidas.

Autor: Patrick Carroll

Patrick Carroll é formado em Engenharia Química pela Universidade de Waterloo e é membro editorial da Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).

Tradutor: Daniel Peterson

Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Patrick Carroll em 6 de julho de 2022 para a FEE.

O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:

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