Cabeça Livre

O que o Dia dos Pais significa para os sem pais

Aprenda isto com nós que não os temos: grandes pais merecem comemoração.

Eu adolescente, fotografado com pai e madrasta em 2015.

Eu adolescente, fotografado com pai e madrasta em 2015.

O Dia dos Pais me lembra que não falo com meu pai há seis anos.

Na verdade, parece ainda mais tempo, pois minha experiência com a ausência de pai remonta muito mais longe do que a conversa final que tive com o homem que me gerou. Quando meu pai me deixou na porta da minha avó aos 18 anos e me disse para não voltar para casa, já fazia muitos anos desde que eu realmente tinha um pai.

Fui morar com ele aos 13 anos, logo após o divórcio dos meus pais. Ao longo dos cinco anos seguintes, meu pai falhou comigo.

Ele falhou como pai, falhou como homem e falhou em cumprir até mesmo as obrigações morais mais mínimas de qualquer pai. Durante essa meia década da minha vida, fui abusado verbalmente, emocionalmente e psicologicamente por minha madrasta homofóbica e odiosa. Meu pai assistiu com apatia – então, quando o bicho pegava, ele me deixava de lado em vez de defender seu filho.

O que eu precisava naqueles tempos sombrios era um parente, um modelo, um defensor – um pai. Mas a única coisa que eu precisava foi a única coisa que eu nunca tive.

Meu pai nunca me ensinou a ser homem. Ele nunca me mostrou mais do que momentos fugazes de bondade e carinho. Em vez disso, ele me convenceu de que o abuso que sofri era minha própria culpa – se apenas eu pudesse parar de provocar minha madrasta, parar de pedir isso ou aquilo, a tempestade de fogo que queimava nossa casa seria extinta. Eu acreditei nele.

Os fracassos do meu pai levaram a anos de tumulto na minha vida adolescente. Mesmo depois, ele deixou um buraco no meu próprio desenvolvimento como pessoa e como homem que levei anos para superar – e tenho muito mais sorte do que a maioria dos que passaram pela ausência de pai. Eu tinha uma mãe solidária e amorosa, acesso a uma boa escola de ensino médio e formação universitária, os recursos de uma família de classe média e muito mais. No fim, eu me dei bem.

Basta dizer que muitos não são tão afortunados.

Nos Estados Unidos, 25% das crianças, quase 20 milhões, crescem em um lar sem pai. Além disso, incontáveis ​​milhões têm pais que são abusivos, negligentes, desatentos ou de alguma forma inadequados. Em todas as suas formas, a ausência de pai afeta seriamente os jovens, principalmente os rapazes e os meninos, o que pode literalmente arruinar vidas.

Como observado pela National Fatherhood Initiative (“Iniciativa Nacional da Paternidade”, em uma tradução livre), a ausência de pai tem forte correspondência com taxas mais altas de pobreza, aumento das taxas de gravidez na adolescência, problemas comportamentais, abuso e negligência. Crianças sem pais têm muito mais probabilidade de acabar encarceradas, viciadas em drogas, cometer suicídio ou abandonar o ensino médio.

A ausência de pai é uma doença da nossa cultura. É difícil imaginar uma indicação mais gritante dessa falha cultural do que o fato de que um homem que cresceu sem pai e agora tem filhos criou um canal no YouTube chamado Dad, how do I? (“Pai, como faço?”) e rapidamente acumulou mais de 2 milhões de seguidores. Seus vídeos, com títulos como “Como trocar um pneu” e “Estou orgulhoso de você”, foram vistos milhões de vezes.

Esse buraco profundo na alma da nossa cultura não tem resposta fácil. Uma maneira de começar a curar é por meio de iniciativas como programas para aprimorar o envolvimento paterno, programas a nível comunitário em vigor em todo o país, onde padrastos, vizinhos e outros homens da comunidade fornecem modelos de pai para crianças sem pai.

Mas o governo também causou a ausência de pai e a consagrou como um problema perene em nossa sociedade por meio de falhas estruturais nas políticas públicas.

Uma geração de crianças teve que crescer sem pais por causa das falhas do nosso sistema de justiça criminal. Prendemos milhões de homens (desproporcionalmente afro-americanos) por crimes não violentos e sem vítimas por meio da fracassada Guerra às Drogas, sem pensar nas consequências que isso teve sobre famílias e crianças deixadas sem nenhum homem em casa.

Há outro problema no nosso sistema legal que também contribui para a ausência de pai: nos processos de divórcio nos tribunais de família, os tribunais são predominantemente tendenciosos em decidir pela custódia em favor das mães sobre os pais. Claro, nos casos em que realmente apenas a mãe é capaz de fornecer um lar seguro, dar-lhe a custódia primária ou exclusiva é totalmente garantido. Mas, infelizmente, é muito comum que os tribunais de família limitem até mesmo um pai apto e amoroso a ver seus filhos em finais de semana alternados – deixando essas crianças com um buraco no seu dia a dia.

Além disso, nosso sistema de bem-estar social há muito tempo tem encorajado, possibilitado e exacerbado a maternidade solteira porque os níveis de benefícios de vários programas governamentais são mais altos quando nenhum homem está presente na família. Como Jason Riley, colunista do Wall Street Journal, escreveu sobre o estado de bem-estar social: “O governo pagou às mães para manter os pais fora de casa – e as pagou bem”.

Infelizmente, funcionou.

Essas áreas oferecem um terreno fértil para reforma, mas não são de forma alguma a única causa desse problema. Reparar essa crise exigirá tempo e esforços de longo prazo. Mas até mesmo aumentar a conscientização sobre o assunto é um ponto importante para começar, e o Dia dos Pais oferece uma oportunidade para fazer exatamente isso.

As pessoas certamente devem comemorar o Dia dos Pais e reconhecer os pais que desempenharam um papel tão importante em suas vidas. No entanto, ninguém deve esquecer que, para milhões de pessoas como eu, o Dia dos Pais é um feriado cheio de vazio e pesar – e que, como país, ainda temos muito por fazer para remediar essa crise.

Autor: Brad Polumbo

Brad Polumbo é um jornalista libertário-conservador e cofundador do Based Politics. Seu trabalho já foi citado por importantes legisladores como o senador Rand Paul, o senador Ted Cruz, o senador Pat Toomey, a congressista Nancy Mace, o congressista Thomas Massie e a ex-embaixadora da ONU Nikki Haley, bem como por personalidades proeminentes da mídia como Jordan Peterson, Sean Hannity, Dave Rubin, Ben Shapiro e Mark Levin. Brad também testemunhou perante o Senado dos EUA, apareceu na Fox News e na Fox Business e escreveu para publicações como USA Today, National Review, Newsweek e Daily Beast. Ele apresenta o podcast Breaking Boundaries e é bacharel em Economia pela Universidade de Massachusetts Amherst.

Tradutor: Daniel Peterson

Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Brad Polumbo em 19 de junho de 2022 para o Based Politics.

O texto original, em inglês, pode ser conferido em:

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