Uma vez que foi nada mais, nada menos que o Dia Internacional da Mulher, deveríamos considerar seriamente qual sistema socioeconômico é o mais pró-mulheres. A resposta, claro, é a situação atual, o capitalismo de livre mercado adicionado de um tanto de redistribuição do estado de bem-estar social.
Não, não vou pegar leve com relação aos impostos e ao estado de bem-estar social; todos concordamos que haverá alguma parte disso, mesmo que possamos e iremos discutir o quanto. Afinal, não vamos criar os abrigos para moradores de rua novamente.
Esse é um assunto que Chelsea Follett tem abordado na outra ponta quando descreve a forma como o socialismo originalmente se opunha à emancipação econômica feminina. Podemos usar essas ideias iniciais, mesmo as do próprio Marx, para mostrar porque foi o capitalismo e os mercados que produziram essa liberdade.
O barbudo realmente insistiu que o capitalismo – sempre, na sua visão, auxiliado pelos mercados – foi o sistema econômico mais produtivo de sempre. Também impulsionou o avanço tecnológico com mais força e rapidez do que qualquer outro sistema. Seria precisamente isso que resolveria o problema da escassez econômica que, por sua vez, é o que Marx pensava que permitiria a chegada do verdadeiro comunismo. Não sou (e talvez você não seja) muito a favor do verdadeiro comunismo – e certamente não da fase intermediária do socialismo enquanto este está sendo construído – mas resolver a escassez econômica parece ser um objetivo bastante decente.
Então, o que esse avanço tecnológico conseguiu? Poderíamos apontar a Medicina como exemplo. As taxas históricas de mortalidade no parto eram da ordem de 1.000 a 2.000 por 100.000 nascidos vivos. As taxas de hoje estão na faixa de 10 a 20. Acho que uma redução de duas ordens de magnitude é muito boa. Mas isso não é tudo. Naquela época, uma mulher passava toda a sua vida adulta grávida ou amamentando: tais eram as taxas de mortalidade infantil que talvez fossem necessárias até 10 gestações para garantir a perspectiva de netos. Atualmente, gerimos a mesma probabilidade de continuação da existência familiar com uma taxa de fertilidade de apenas dois – o que significa uma redução do risco para as mulheres de 500 vezes.
Muito bom para um sistema socioeconômico. Especialmente aquele que também produziu, nas últimas décadas, meios eficazes para as mulheres controlarem essa fertilidade. Um controle que é ao menos parte do caminho para a liberdade econômica.
Poderíamos também olhar para a segunda maior mudança no mundo do trabalho ao longo do século passado – a quase eliminação do trabalho doméstico. O avanço da tecnologia ao menos reduziu enormemente o trabalho não remunerado necessário para manter uma casa nos eixos – como mostra em detalhe a liberdade das lavadeiras. Diferentes observadores como Hans Rosling e Ha-Joon Chang defenderam a mesma opinião de que a tecnologia doméstica libertou as mulheres em particular.
Mas a mudança abrangente foi a eliminação da força muscular no mercado de trabalho remunerado. Antes de o capitalismo começar a automatizar tarefas, o que realmente estava sendo contratado era a força humana. Algo para o qual a musculatura das mulheres geralmente as tornava inadequadas, de modo que a divisão do trabalho consistia rotineiramente em os homens realizarem o trabalho remunerado no mercado e as mulheres, o trabalho doméstico não remunerado. Depois que as máquinas começaram a levantar e transportar, essas diferenças inatas se tornaram cada vez menos importantes. Foi isso, mais do que qualquer outra coisa, que permitiu a entrada das mulheres no trabalho remunerado. E isso, claro, levou à liberdade econômica.
É inteiramente verdade que nem tudo é igual ainda, mas alcançamos uma igualdade econômica muito maior do que qualquer outro sistema alguma vez concebido. Precisamente por meio dessa tecnologia que o próprio Marx concluiu que os mercados livres capitalistas eram o melhor sistema em produzir. Os resquícios da desigualdade também parecem ser resolvidos. Como Zoe Williams observa – mas não percebe as implicações disso –, cortes no Estado recaem desproporcionalmente sobre os ombros das mulheres. O que deve significar que, em termos gerais, a atual distribuição das despesas do Estado deve favorecer as mulheres. Já deve ter havido tentativas de fornecer esse fator de equilíbrio.
O objetivo do Dia Internacional da Mulher não é celebrar o quão longe chegamos e o quão bem estamos indo, mas sim choramingar o quão longe ainda há para ir. Mas qualquer análise do assunto tem que nos dizer que percorremos um longo caminho, impulsionados por uma combinação de capitalismo e livres mercados. Dado que obviamente funciona, e que é o mais pró-mulheres de todos os sistemas socioeconômicos, a conclusão lógica é que um pouco mais dele resolverá o problema da desigualdade na sua totalidade. E, como disse o próprio Marx, resolveria o problema mais básico da escassez econômica.
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Autor: Tim Worstall
Tim é membro do Instituto Adam Smith em Londres.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Tim Worstall em 11 de março de 2018 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:
]]>Crédito da imagem: Gerd Altmann – Pixabay
Examine mais atentamente essas passagens em Atos. O arranjo “comunitário” era voluntário.
Há quase dois milênios, alguns dos primeiros seguidores de Cristo em Jerusalém se organizaram de um jeito que ainda suscita a alegação de que as raízes do cristianismo são socialistas, comunitárias ou até mesmo “comunistas”. Quando celebramos o nascimento de Jesus, devemos compreender que essa afirmação é espúria, se não blasfema.
Suas fontes são duas passagens do livro de Atos, do Novo Testamento, capítulo 2, versículos 44-45, que afirmam: “Todos os que criam estavam juntos e unidos e repartiam uns com os outros o que tinham. Vendiam as suas propriedades e outras coisas e dividiam o dinheiro com todos, de acordo com a necessidade de cada um.” Atos 4:32 declara: “Todos os que creram pensavam e sentiam do mesmo modo. Ninguém dizia que as coisas que possuía eram somente suas, mas todos repartiam uns com os outros tudo o que tinham.”
Muitos na esquerda argumentam que o ensino cristão deveria rejeitar a propriedade privada e endossar um sistema socialista de redistribuição de riqueza. Afinal, não foi isso o que os primeiros cristãos fizeram?
Examine mais atentamente essas passagens em Atos. O arranjo “comunitário” era voluntário. Não há compulsão nem menção à única instituição na sociedade que pode empregar a compulsão de forma legal, nomeadamente, o estado.
Atos 2:46 observa que esse grupo de cristãos primitivos “nas suas casas partiam o pão e participavam das refeições com alegria e humildade” (ênfase adicionada). Se ainda possuíam casas, alguns, pelo menos, claramente não venderam tudo. Aqueles que o fizeram trouxeram o dinheiro das suas vendas aos apóstolos, não a qualquer governo – romano ou judeu, secular ou religioso.
Cristãos vêem Deus como o criador de todas as coisas e, portanto, como o dono de todas as coisas. Os seres humanos são administradores da Criação, e somos chamados pelas Escrituras a fazer bom uso dela. É provável, neste sentido transcendente, que alguns dos primeiros cristãos pensassem que sua riqueza material não era, em última análise, deles.
De qualquer forma, o socialismo não é a partilha voluntária dos bens de alguém. Qualquer um pode optar por fazer isso sob a antítese do socialismo, o capitalismo. Na verdade, ocorre mais filantropia nas sociedades capitalistas do que nas socialistas, e os governos dos países capitalistas estão constantemente enviando “ajuda externa” aos regimes mais socialistas, e não o contrário.
O socialismo é mais propriamente entendido como a concentração do poder político com o propósito – por meio do uso da força – de redistribuir riqueza ou planejar uma economia. Além disso, seu histórico lamentável começa com os primeiros cristãos que escolheram praticá-lo.
O apóstolo Paulo alude pela primeira vez aos problemas financeiros entre o grupo de Jerusalém quando descreve uma conversa que teve com seus líderes – Tiago, Pedro e João. Paulo diz: “Eles nos pediram só uma coisa: que lembrássemos dos pobres das igrejas deles, e isso eu sempre tenho procurado fazer.” (Gálatas 2:9-10)
Aparentemente, a igreja de Jerusalém estava no topo da lista dos “pobres” porque Paulo atendeu ao pedido de Tiago, Pedro e João, coletando dinheiro das novas igrejas cristãs em Antioquia, Macedônia e Corinto para enviá-lo às “pessoas do povo de Deus em Jerusalém que estão necessitadas”. (Romanos 15:26)
Em outras palavras, os subsídios dos cristãos de Antioquia, Macedônia e Corinto estavam ajudando a sustentar a empobrecida igreja de Jerusalém. E alguns destes doadores cristãos não tinham quase nada com que viver, muito menos dar. Por exemplo, Paulo descreve como os cristãos macedônios eram “muito pobres” e ainda assim “fizeram tudo o que podiam e mais ainda”. (2 Coríntios 8:2-3). Quão desesperados deviam estar os cristãos em Jerusalém para confiar em irmãos e irmãs cristãos que viviam em tal “pobreza extrema”? Não se pode duvidar da sinceridade dos comunalistas, mas pode-se certamente questionar até que ponto eles compreenderam alguns dos ensinamentos de Cristo.
Apenas uma vez Jesus ordenou que alguém vendesse tudo, e foi quando um homem rico perguntou como poderia garantir a vida eterna. Para demonstrar onde o coração do homem realmente estava (o que Jesus certamente sabia), Jesus disse-lhe para vender tudo. O homem se recusou e foi embora (Mateus 19:16-22). Jesus nunca sugeriu que todos deveriam vender tudo, e certamente nunca apoiou a coerção socialista, dirigida pelo Estado, para conseguir isso.
Na verdade, na sua parábola dos talentos (Mateus 25:14-30), Jesus reserva o maior elogio para o homem cuja iniciativa ampliou a riqueza material, e nenhum elogio ao homem que nada fez para criar valor. A sua parábola dos trabalhadores da plantação de uvas (Mateus 20:1-16) proporciona uma defesa poderosa do contrato voluntário e da propriedade privada, e a sua parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37) enobrece o homem que ajuda o outro com os seus próprios recursos e a sua livre vontade. Se aquele samaritano tivesse dito à vítima desesperada na beira da estrada “espere que o governo apareça e te ajude”, provavelmente o conheceríamos hoje como “o samaritano inútil”.
O fato é que, embora alguns dos primeiros cristãos se organizassem de uma forma “comunitária”, a maioria não o fez. Nos 20 séculos seguintes, poucos cristãos escolheram o caminho comunitário, e a maioria dos que o fizeram rejeitaram-no quando ele inevitavelmente falhou. Os peregrinos de Plymouth, por exemplo, passaram fome até que o governador William Bradford abraçou a propriedade privada. As experiências socialistas utópicas na América do século XIX, num total de mais de 100 e muitas vezes inspiradas por visões errôneas da ética cristã, expiraram todas em poucos anos.
Imagine se Jesus voltasse hoje e, falando para uma plateia lotada em um grande teatro, perguntasse: “o que vocês fizeram para ajudar os pobres?” Somente os superficiais ou iludidos ficariam impressionados se alguém levantasse a mão e dissesse: “votei nos políticos que disseram que cuidariam disso”.
Em vez de seguir o exemplo de Bernie Sanders, Karl Marx, ou mesmo daqueles primeiros comunalistas de Jerusalém, quem é cristão – e até quem não é, também – deveria lembrar do que o apóstolo Paulo disse em 2 Coríntios 9:7: ”Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no seu coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.”
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Autores: Lawrence W. Reed e Burton W. Folsom
Lawrence W. Reed é o presidente interino da Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”), tendo atuado anteriormente por quase 11 anos como presidente da FEE (2008-2019).
Burton Folsom, Jr. é professor de história no Hillsdale College e autor (com sua esposa, Anita) do livro FDR Goes to War. Ele é membro da Rede de Docentes da FEE.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Lawrence W. Reed e Burton W. Folsom em 24 de dezembro de 2023 para a FEE.
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:
]]>A escravidão é um dos grandes males da humanidade. Apesar de sua onipresença ao longo da história humana, algumas formas eram particularmente repugnantes e vis. Embora toda escravidão fosse e seja errada por motivos morais, também tem problemas econômicos. Juntos, esses motivos sugerem que a escravidão deveria acabar por si só, mesmo que isso nunca aconteça na prática.
A escravidão é economicamente ineficiente. Se os donos de escravos tomassem decisões baseadas puramente em economia e não em emoções corruptas, a prática provavelmente deixaria de existir em muitas das suas formas.
É difícil encontrar quem defenda a escravidão hoje em dia, mas muitos ainda acreditam que ela é economicamente eficiente. Afinal, os donos de escravos não têm custos trabalhistas. Muitas pessoas acreditam erroneamente que isso simplesmente significa que a empresa escravocrata é uma potência econômica, mas limitar a escravidão aos salários ignora outros custos que diminuem o valor econômico da escravidão para o dono de escravos.
Não há uma explicação única que seja a chave que abre as algemas. Se uma única ineficiência fosse tão poderosa e evidente, a escravidão nunca teria existido na América ou em outros lugares, e os escravos modernos estariam livres hoje. Em vez disso, é a totalidade dos fatores e custos que, em muitos exemplos, resultam mais caros do que os salários não pagos. Também é importante focar em contabilizar os custos e não puramente o valor econômico, porque alguns podem obter uma utilidade tão grande ao oprimir outros que isso é eficiente para eles, mesmo que isso signifique uma produção menor.
Os salários são praticamente a única coisa que um dono de escravos economiza quando comparado a ter empregados. Também podem poupar em benefícios trabalhistas (plano de saúde, plano odontológico, aposentadoria), mas esses são opcionais até mesmo em livres mercados competitivos. O que o dono de escravos poupa em salários não é necessariamente compensado nos rendimentos provenientes da sua produção.
Um dono de escravos tem que pagar pela moradia, alimentação, roupas e tratamento médico dos seus escravos. Claro, isso pode ser incrivelmente mínimo – até mesmo desumanizante – mas, mesmo assim, ele não incorreria nesses custos se não os tratasse como propriedade viva. Um salário reflete o valor adicionado e não se destina a compensar os trabalhadores pela alimentação de que precisam para sobreviver. Com a escravidão, em vez de pagar um salário baixo proporcional ao valor criado, o dono de escravos paga essas despesas de subsistência diretamente.
Além disso, o dono de escravos tem que investir em segurança quase 24 horas por dia para evitar que seus escravos escapem. Isso pode significar infra-estruturas como vedações, edifícios, correntes, cadeados, câmeras e mais, e também pode incluir pessoal para vigiar e manter os escravos trancados. Para instalações onde os trabalhadores escravizados ou explorados não podem ser alojados em um local semelhante a uma prisão, o dono de escravos ainda deve contratar seguranças ou agentes para prender as pessoas e subjugá-las. Quando somados, esses custos começam a ter peso. Podem diminuir no longo prazo, mas continuam a ser custos contínuos que excedem o investimento eficiente para se ter uma força de trabalho em um livre mercado.
Também existe um custo de oportunidade que deve ser considerado. O dono de escravos não só tem que pagar os custos contabilísticos reais para manter uma população de trabalhadores e assegura-la, mas também perde as coisas que poderia ter se não tivesse esses custos. Ele poderia ter mais capital, insumos de melhor qualidade e melhores instalações. Pensa-se que a receita do trabalho escravo excede de tal forma esses custos que isso é irrelevante. Mas essa é uma visão míope. Considere também a escala: na escravidão norte-americana, a população escrava cresceu devido às taxas de natalidade. Uma população maior custa mais para alimentar e abrigar, assim como para assegurar e vigiar. Eventualmente, os números podem se tornar tão esmagadores que se torna demasiado caro evitar uma revolta ou fuga. Assim, a ineficiência da escravidão pode piorar com o tempo.
Em um livre mercado, alguns são pagos acima da média salarial de uma indústria ou emprego, a uma taxa conhecida como salário de eficiência. Esse salário é maior porque atrai trabalhadores excepcionais que podem fazer o trabalho com maior habilidade e eficiência, mais que justificando seu salário. Embora esse tipo de salário seja usado principalmente em setores altamente qualificados, e a escravidão se centre geralmente em baixas qualificações, a atitude do trabalhador é relevante. Escravos não têm incentivo para trabalhar mais ou melhor. Na verdade, muito provavelmente, eles se ressentem e odeiam seus opressores. Isso significa que eles não trabalharão da maneira mais eficiente possível. Isso se transforma em ineficiência por alguns motivos.
Se o dono de escravos os forçar a trabalhar arduamente num trabalho pouco qualificado, ele pode ameaçar com dor ou recusar comida ou conforto. Isso significa que o escravo não tem opções e deve manter a produção, mas devido ao medo, à dor ou à exaustão, é menos provável que ele esteja operando em plena capacidade. A resistência mental provavelmente arrasta isso ainda mais longe. Um dono de escravos que exigisse dez unidades de produção poderia obtê-los. Mas um trabalhador motivado e em plena capacidade poderia produzir muito mais unidades. E quando os escravos são machucados, eles não conseguem produzir tanto. Qualquer trabalhador morto ou incapacitado deve ser substituído, o que é custoso para o operador. Mesmo para o trabalho pouco qualificado, como acontece com a maior parte do trabalho escravo e explorado, existe algum nível de curva de aprendizagem que prejudica a eficiência da operação.
Trabalhar sem remuneração significará lucro porque a receita excede o custo quando o salário não está incluído. Mas, tal como acontece com o salário de eficiência, trabalhadores remunerados podem, na verdade, gerar mais receitas porque trazem mais competências, trabalho mais árduo ou melhor atitude, e mão-de-obra mais eficiente para a empresa.
As empresas estão sempre tentando cortar custos para aumentar os lucros e também para economizar dinheiro para investir em desenvolvimento ou expansão. Uma empresa que não inova ou não se expande não permanecerá lucrativa para sempre, e parte do incentivo para inovar está na melhoria dos produtos.
É improvável que o trabalhador escravo chegue ao patrão com inovações, ideias e dicas para melhores produtos ou técnicas para poupar tempo ou recursos, o que é comum em livres mercados. E os patrões que já não pagam pelo trabalho provavelmente não considerarão os custos trabalhistas como parte do processo de padronização e melhoria. Para esse fim, ao cegarem-se para um custo enorme, os donos de escravos provavelmente ficam cegos para os custos como um todo e para a melhoria das coisas.
Também sacrificam a combinação mais eficiente de capital e trabalho. Cegados pela conveniência a curto prazo de não pagar pelo trabalho, os donos de escravos provavelmente favorecem desproporcionalmente o trabalho. Embora uma máquina também pudesse trabalhar de graça, os donos de escravos podem não investir em capital, o que poderia produzir de forma mais eficiente, porque já não pagam aos escravos, portanto comprar o capital lhes parece caro. Além disso, se os concorrentes estão inovando ou usando capital e os preços das mercadorias começam a cair, o preço do produto do dono de escravos cai e seu rendimento diminui.
Um obstáculo final à eficiência surge da oposição de atores públicos ou privados. Isso parece diferente em diferentes épocas e locais. Abolicionistas podem ser uma pedra no sapato de um dono de escravos. Eles podem convencer as pessoas a não fazerem negócios com o dono de escravos, condená-lo em público como uma pessoa má, ou protestar ou intervir fisicamente em coisas como remessas de suprimentos, vendas de produtos ou outras.
Na era moderna, muitos países tornam a escravidão formalmente ilegal. Isso significa que um dono de escravos tem que assumir grandes custos para permanecer escondido ou pagar subornos às autoridades para fazerem vista grossa. Se se tornasse conhecido, a imprensa o condenaria e chamaria a atenção para ele, o que provavelmente levaria à intervenção de grupos humanitários e de órgãos governamentais.
A escravidão é uma instituição antiga. Se fosse suficientemente ineficiente, nunca teria criado raízes. Certamente existe conveniência, mas conveniência não é eficiência. Embora todas as pessoas decentes já abominem a escravidão, muitas falham em não perceber os muitos custos econômicos a curto e a longo prazo que, no seu conjunto, tornam a maioria das formas de escravidão ineficientes, apesar da crença aparentemente intuitiva em contrário.
A economia não é uma solução mágica para acabar com a escravidão moderna, tal como não acabou com a escravidão histórica. Ela revela que a escravidão é difícil de sustentar. Pode muito bem haver casos em que o trabalho escravo seja economicamente eficiente, mas, em geral, as pessoas que acreditam nisso não estão enxergando fatores-chave. A prática da escravidão é imoral e tem que acabar. A escravidão também é ineficiente. Tomara que essa ineficiência a impeça em alguns casos e possa impedi-la em casos presentes e futuros. Usar a economia para torná-la ainda mais dispendiosa pode ser uma abordagem política a considerar.
Queridos leitores,
As Big Techs limitam o alcance de publicações como essa e se recusam a exibir anúncios neste site, boicotando meu projeto de servir a vocês uma dieta constante de boas ideias. Ajude-me a lutar pela liberdade compartilhando essa publicação. Depois, junte-se a mim no debate nas redes sociais.
Autor: Benjamin R. Dierker
Benjamin pensa, escreve e fala sobre economia, direito e políticas públicas. Seus artigos pretendem apresentar questões sob uma nova luz aos leitores e não refletem necessariamente opinião pessoal. Nenhum artigo representa as opiniões de empregadores anteriores ou atuais.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Benjamin R. Dierker em 28 de fevereiro de 2019 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:
]]>Crédito da imagem: Gerd Altmann - Pixabay
Na Parte 1, contrastamos os populares conceitos errados sobre os chamados “teóricos da conspiração” com a pesquisa demográfica bem fundamentada feita sobre os indivíduos que, coletivamente, receberam esse rótulo pejorativo. A pesquisa demográfica revela que não existe tal coisa como um grupo identificável de pessoas que possam ser legitimamente chamadas de “teóricos da conspiração”.
A pesquisa também não encontra provas credíveis de que pessoas rotuladas como “teóricos da conspiração” sejam propensas a ter opiniões extremistas ou a ter problemas psicológicos subjacentes ou a representar uma ameaça à democracia. Essas alegações são todas mentiras dirigidas contra qualquer pessoa que questione o establishment e o poder que ele acumulou.
Observamos que o cientista político Joseph Uscinski, que talvez seja o principal cientista no campo da pesquisa da “teoria da conspiração”, citou o trabalho do filósofo Neil Levy como um “padrão simples e consistente” pelo qual acadêmicos poderiam “demarcar entre teoria da conspiração e conspiração” (real ou “concreta”).
O “padrão simples e consistente” do professor Levy foi descrito pela primeira vez em seu artigo Conhecimento Radicalmente Socializado e Teorias da Conspiração. Nele, ele apontou que “conspirações são uma característica comum da vida social e política, tão comum que recusar a acreditar na sua existência nos deixaria incapazes de compreender os contornos do nosso mundo”. Levy propôs, portanto, que os acadêmicos precisam de uma forma de diferenciar entre a aceitação racional de conspirações reconhecidas e as alegações supostamente irracionais feitas por pessoas que suspeitam de conspirações que não foram oficialmente aprovadas para discussão.
Levy sugeriu que “crentes responsáveis deveriam aceitar explicações oferecidas por autoridades epistêmicas devidamente constituídas”. Como explicamos na Parte 1, ele definiu as autoridades epistêmicas como:
[…] a rede distribuída de coletores e testadores de declarações de conhecimento que inclui engenheiros e professores de política, especialistas em segurança e jornalistas […]
Ao listar “jornalistas” como autoridades epistêmicas, Levy se referia quase certamente a jornalistas que trabalham na mídia tradicional controlada pelo Estado ou por empresas, e não a jornalistas de meios de comunicação independentes, que são frequentemente rotulados como teóricos da conspiração.
A mídia independente é amplamente definida como:
[…] meios de comunicação livres de influência do governo ou de outras fontes externas, como empresas ou pessoas influentes.
Da mesma forma, na opinião de Levy, apenas os cientistas e engenheiros “certos” são bem-vindos como “autoridades epistêmicas”. Por exemplo, ele afirmou categoricamente:
Poucos intelectuais responsáveis rejeitam a explicação do 11 de Setembro que cita as ações conspiratórias de um grupo de terroristas sob a direção de Osama Bin Laden. […] a maioria de nós tem poucas dúvidas de que isso é verdade.
O Dr. Leroy Hulsey, professor e chefe do departamento de Engenharia Estrutural da Universidade do Alasca Fairbanks, agora aposentado, liderou um estudo de vários anos no qual ele e sua equipe de engenheiros PhDs examinaram o colapso estrutural do World Trade Center 7 (WTC 7). As conclusões a que chegaram no seu relatório revisado por pares contradiziam completamente a narrativa oficial do 11 de Setembro. Parece improvável que o Prof. Levy consideraria o Dr. Hulsey um intelectual responsável ou uma “autoridade epistêmica”.
No seu artigo, Levy opinou que “teóricos da conspiração” alegadamente irracionais poderiam ser identificados em virtude do fato de discordarem das autoridades epistêmicas devidamente constituídas. Portanto, afirmou ele, seus argumentos e quaisquer evidências que apresentassem deveriam ser rejeitados. Ele escreveu:
Simplesmente saber que uma explicação apresentada conflita com a história oficial (onde, mais uma vez, as autoridades relevantes são epistêmicas) é suficiente para rejeitarmos racionalmente a alternativa.
Mas não há nada de “racional” em rejeitar uma explicação simplesmente porque ela é oferecida por pessoas de quem você discorda.
Presumivelmente, tal como Levy, Uscinski considera-se uma “autoridade epistêmica” no campo da pesquisa das teorias da conspiração. Assim, não é surpreendente que, à luz do “padrão simples e consistente” de Levy, Uscinski tenha concluído:
[…] autoridades epistêmicas adequadamente constituídas determinam a existência de conspirações. […] Se as autoridades competentes dizem que algo é uma conspiração, então é verdade; se disserem que é uma teoria da conspiração, então provavelmente é falsa.
Em outras palavras, as narrativas “oficiais” são consideradas verdadeiras por padrão, e qualquer coisa que as questione é, por padrão, uma “teoria da conspiração”. O termo significa para outros intelectuais – que não questionam os pronunciamentos do Estado – que evidências que potencialmente minam narrativas oficiais são, por definição, falsas. Essa conclusão é, obviamente, um monte de jargões sem sentido e falaciosos.
Infelizmente, o rótulo de teoria da conspiração é tão amplamente aplicado hoje em dia que pegou. A mídia tradicional, em particular, o implantou com sucesso como ferramenta de propaganda. Simplesmente proferindo as palavras “teoria da conspiração”, a mídia tradicional convenceu o público a ignorar toda e qualquer evidência que questione o poder.
Aqui está um exemplo. Após graves acusações de violação e má conduta sexual apresentadas contra o comediante, autor e comentador político Russell Brand, a mídia tradicional imediatamente explorou a situação criticando as opiniões de Brand e de todos que as partilhavam.
A BBC publicou o artigo de Rachel Schraer, Russell Brand: como o comediante construiu sua audiência no YouTube com base em meias verdades apenas quatro dias depois que as acusações foram reportadas pela primeira vez, entre outros canais, pela BBC.
O parágrafo de abertura do artigo diz:
A primeira vez que Russell Brand realmente mergulhou na água das teorias da conspiração, no início de 2021, o efeito foi rápido – um canal do YouTube cujos vídeos normalmente recebiam cerca de 100.000 visualizações foi subitamente visitado por mais de um milhão de pessoas. Isso lhe rendeu uma nova fonte de renda e um novo exército de fãs.
Dizem-nos que Brand discute “teorias da conspiração”. Este é um sinal social codificado de Schraer e da BBC para os seus leitores e audiência de que tudo o que Brand diz deve ser desconsiderado sem examinação – incluindo qualquer evidência que ele possa citar. Isso não deveria ser feito por nenhuma outra razão exceto que Schraer e BBC rotularam Brand de teórico da conspiração.
Além disso, a BBC classifica as pessoas que compartilham as opiniões de Brand como teóricos da conspiração que deveriam ser igualmente ignorados.
Ademais, sugere-se que Brand está vendendo “teorias da conspiração” como uma espécie de fraude. De acordo com Schraer, a ideia de que meios de comunicação independentes, como os canais Stay Free de Brand, podem ser financiados diretamente pelo seu público – nesse caso, por meio de receitas publicitárias proporcionais ao número de telespectadores – sem compulsão é “evidência” dos seus motivos duvidosos. (Aparentemente, a BBC opõe-se veementemente ao livre mercado de ideias.)
Schraer explicou como começou o sucesso de Brand:
A porta para essa nova base de fãs pode ter-se aberto quando Brand discutiu pela primeira vez “o Great Reset” [em português, “o Grande Reinício” ou, mais comum, “o Grande Reset”] – um vago conjunto de propostas de um influente think tank para reconstruir a economia global após a Covid.
A fraca evidência que Schraer citou para suportar sua afirmação de que o Grande Reset é apenas um “vago conjunto de propostas” foi outro artigo da BBC. Cinco jornalistas contribuíram para esse artigo, que foi publicado em 2021 como parte da série Reality Check (“Checagem da Realidade”) da BBC.
Coletivamente, os cinco “jornalistas” da BBC Reality Check expuseram seu próprio engano no segundo e terceiro parágrafos:
Os que acreditam contam histórias sombrias sobre um governo mundial socialista autoritário dirigido por capitalistas e políticos poderosos – uma cabala secreta que está anunciando o seu plano pelo mundo todo.
Apesar de todas as contradições na última frase, milhares de pessoas online se agarraram a essa mais recente reimaginação de uma velha teoria da conspiração – atualizada para a era da Covid.
O problema é que ninguém acusado pela equipe da Reality Check de ser um teórico da conspiração do Grande Reset alguma vez alegou que o plano do Grande Reset era um segredo ou que os planejadores eram uma “cabala secreta”. O fato de o bem conhecido Fórum Econômico Mundial (FEM, do inglês World Economic Forum, WEF) ter divulgado seus planos pro mundo todo obviamente exclui a possibilidade de os planos serem “secretos” ou mesmo de terem agido secretamente.
A contradição foi uma fabricação criada pelos próprios jornalistas da BBC Reality Check. Aparentemente, foi inserida para apoiar sua acusação de que aqueles que criticaram o Grande Reset do FEM estavam aludindo a uma “cabala secreta”. Na verdade, os críticos apontavam abertamente o dedo diretamente para o FEM e seus parceiros. Nunca foram feitas sugestões de uma “cabala secreta” ou de planos secretos.
A intenção evidente da BBC era impugnar os críticos do Grande Reset, alegando falsamente que suas opiniões eram suposições ilógicas e especulativas e, portanto, eram “teorias da conspiração”. Os propagandistas da BBC criaram esse mito eles mesmos para deliberadamente enganar seus leitores. Essa é a própria definição de desinformação.
A equipe da Reality Check reportou então que a iniciativa do Grande Reset foi lançada pelo Rei – então Príncipe – Charles como um plano para remodelar a economia global. Eles falaram sobre o “poder [não eleito do FEM] para fazer lobby […] para ideias que poderiam potencialmente transformar a economia global”. Acrescentaram que o FEM e seus delegados em Davos têm “enorme influência nos acontecimentos mundiais”. Eles até levantaram o ponto de que existem legítimas preocupações sobre o potencial impacto da tecnologia digital – vigorosamente promovida no Grande Reset – “nas liberdades civis e empregos”.
Em suma, a equipe da BBC Reality Check apresentou um relato razoável dos argumentos apresentados por aqueles que depois eles rejeitaram imediatamente rotulando-os de “teóricos da conspiração”. Os “jornalistas” da BBC fizeram esse truque ao inventar uma opinião sobre “cabala secreta” e depois atribuí-la falsamente aos críticos do Grande Reset.
A fim de dissuadir seus leitores de qualquer exame mais aprofundado do Grande Reset, os ditos jornalistas da BBC alegaram que o Grande Reset em si era “leve em detalhes específicos”. Isso, mais uma vez, foi pura desinformação.
Os mesmos jornalistas tiveram que admitir a existência de um livro – de 256 páginas – publicado chamado Covid-19: O Grande Reset. Nele, os coautores Klaus Schwab e Thierry Malleret escreveram:
[…] nosso objetivo era escrever um livro relativamente conciso e simples para ajudar o leitor a entender o que está por vir em uma infinidade de domínios. Para interromper o fluxo do texto o mínimo possível, as informações de referência aparecem no final do livro e as atribuições diretas foram minimizadas.
As referências incluem links para documentos do FEM, como Visão geral dos riscos da COVID-19: um mapeamento preliminar e suas implicações. Esse é apenas um documento que faz parte do extenso programa de mapeamento de riscos do FEM. O programa de mapeamento, por sua vez, informa a Inteligência Estratégica altamente detalhada do FEM, que o FEM afirma que lhe permitirá “dar sentido às forças complexas que impulsionam a mudança transformacional nas economias, indústrias e questões globais”.
Na verdade, não existe nenhuma faceta da economia, da indústria ou mesmo quaisquer questões globais ou aspectos das nossas vidas para os quais o FEM não já tenha um plano transformacional detalhado e egoísta. A afirmação da BBC de que faltam “detalhes específicos” ao Grande Reset é absurda. O plano não poderia ser mais detalhado ou específico.
A afirmação subsequente de Rachel Schraer – de que o Grande Reset representa “um vago conjunto de propostas” – foi completamente nonsense, baseada em propaganda da própria BBC. O objetivo era convencer os leitores da BBC de que as críticas ao Grande Reset são uma “teoria da conspiração”. É evidente que tanto os artigos de Schraer como os da Reality Check serviram como defesa do Grande Reset do FEM.
Temos ainda outras boas razões para questionar o julgamento de Schraer.
O Dr. Simon Goddek, um cientista que se voltou contra o jornalismo e questionou a segurança e a eficácia das vacinas contra a COVID – excluindo-se, assim, das “autoridades epistêmicas” de Uscinski e Levy – compartilhou uma piada de humor negro como meme nas redes sociais. Mostrava o declínio físico com o envelhecimento da ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden. Goddek brincou: “O que tinha nas injeções dela, mRNA ou metanfetamina?”
Essa piada foi posteriormente captada pelo propagandista da BBC Verify, Shayan Sardarizadeh, que a compartilhou novamente com o comentário: “10.000 retuítes, 46.000 curtidas e 4,2 milhões de visualizações para este absurdo de um teórico da conspiração confirmado”. A publicação de Goddek foi realmente “absurda” – porque era uma piada.
Quando Schraer postou novamente o comentário de Sardarizadeh, ela demonstrou uma lamentável falta de compreensão e uma notável falta de senso de humor. Ela acrescentou sua própria interpretação inútil com esta manchete absurda:
Urgente: vendedores de teorias da conspiração culpam vacinas pela passagem do tempo
Isso pode parecer um assunto trivial. Mas não é. Assim como Marianna Spring, Rachel Schraer é outra repórter especialista em desinformação da BBC. O fato de Schraer aparentemente não saber diferenciar uma piada e “desinformação” certamente coloca em questão seu suposto especialismo.
Para apreciar plenamente como o rótulo de “teoria da conspiração” é empregado pela mídia tradicional, podemos assistir ao vídeo recente do jornalista e locutor Andrew Neil, ex-editor do Sunday Times, ex-apresentador da BBC, e atual presidente do Spectator. Quando deixou a BBC, Neil teria estado “no centro da cobertura política da BBC durante quase três décadas”.
Em uma discussão com Sam Leith, editor literário do Spectator, sobre as alegações de Russell Brand, Neil lamentou que as redes sociais tivessem permitido que muitas pessoas – a maioria das quais ele considerava estúpidas – expressassem as suas opiniões. Com base nesse comentário, é evidente que, se Neil conhecesse o trabalho de Uscinski e Levy, provavelmente se consideraria um jornalista membro das chamadas “autoridades epistêmicas”.
Neil falou sobre a investigação de quatro anos conduzida pela mídia tradicional que acabou produzindo as acusações contra Brand. Ele a descreveu em termos elogiosos e observou que a mídia independente – a que chamou “os meios de comunicação alternativos” – não tinham nem os “recursos nem a expertise para fazer” uma investigação tão exaustiva.
O canal Spectator no YouTube dirigido por Neil tem 313 mil inscritos. Em comparação, Russell Brand tem 6,7 milhões de inscritos no YouTube. Consequentemente, o canal de Brand tinha consideravelmente mais recursos do que o Spectator. No entanto, após a suposta investigação da mídia tradicional sobre Brand, o YouTube desmonetizou sua conta, então agora os recursos do canal de Brand estão diminuindo em comparação.
Ao contrário dos meios de comunicação independentes, que são quase inteiramente financiados por doações de leitores e audiências, os meios de comunicação tradicionais são financiados por publicidade corporativa ou, no caso da BBC, por taxas de licença coercitivas. A mídia impressa do Reino Unido vem diminuindo há anos, à medida que as pessoas consomem cada vez mais notícias online. Além disso, as emissoras estatais, como a BBC e o Channel Four, estão perdendo milhões de telespectadores no Reino Unido.
No entanto, como observou Neil, os orçamentos dos meios de comunicação tradicionais são enormes em comparação com os escassos rendimentos juntados pelos meios de comunicação independentes. Mas esse forte contraste não impediu o establishment, que depende da mídia tradicional para a sua propaganda e é dono da maior parte dela, de entrar em pânico.
O pânico deles explica o comissionamento da Cairncross Review – destinada a fornecer algum tipo de justificativa para apoiar a mídia tradicional.
Ironicamente, a Cairncross Review concluiu que a mídia tradicional precisava de “novas fontes de financiamento, afastadas do controle direto do governo”. Por óbvio, os meios de comunicação genuinamente independentes já conseguiram novas fontes de financiamento ao dirigirem-se diretamente aos seus públicos, alguns dos quais valorizam o ponto de vista independente o suficiente para apoiá-lo financeiramente.
Dame Frances Cairncross (DBE, FRSE, FAcSS) aparentemente considerou o modelo de financiamento da mídia independente um lixo. Ela descartou essa possibilidade porque, como ela disse, “as histórias que as pessoas querem ler podem nem sempre ser aquelas que deveriam ler”. Ela praticamente declarou que o que o público deveria ler deveria ser estipulado pelas “autoridades epistêmicas”.
Em vez disso, Cairncross determinou que era necessária “a criação de um novo Instituto de Notícias de Interesse Público”. Para garantir que esse novo órgão de supervisão seria “independente”, Dame Cairncross recomendou que “construísse fortes parcerias com a BBC” e fosse financiado pelo governo do Reino Unido.
Sua sugestão significa que, tal como os atuais meios de comunicação independentes, a mídia tradicional do futuro seria financiada pelo público. A diferença entre os dois modelos de financiamento é que o de Cairncross não seria voluntário, mas alcançado através de impostos obrigatórios. Por meio do novo órgão que ela imaginou, em vez de as pessoas escolherem quais meios de comunicação pretendem apoiar, as “autoridades epistêmicas” e o governo decidiriam por elas.
O que Frances Cairncross recomendou em última análise foi a regulamentação estatal da Internet como forma de proteger a mídia tradicional da opinião pública. Essas regulamentações diriam às pessoas em quais meios de comunicação deveriam “confiar” e, esperançosamente, impediriam que apoiassem os meios de comunicação “errados”.
A revisão de Dame Cairncross encaixou-se perfeitamente com o progresso da Lei de Segurança Online (Online Safety Act, OSA) do Reino Unido no parlamento. Em sua revisão, ela escreveu:
O governo vai querer considerar essas recomendações no contexto do seu trabalho paralelo sobre os danos online, a desinformação e a concorrência digital, para determinar se as recomendações aqui estabelecidas devem ser seguidas separadamente ou como parte de pacotes mais amplos de medidas.
Em particular, cabe ao governo determinar a melhor forma de projetar e executar políticas relacionadas às atividades das plataformas online, incluindo qualquer supervisão regulamentar. Esta revisão é neutra […]
Neutra?
A OSA passou em todas as etapas de leitura parlamentar do Reino Unido e deve receber o consentimento real a qualquer momento. Estabeleceu o Ofcom como regulador da Internet. O objetivo da lei é supostamente melhorar a segurança pública online – especialmente a segurança infantil. Mas é claramente óbvio que o verdadeiro objetivo da OSA é impedir que as pessoas compartilhem nas redes sociais informações que o governo deseja impedir que sejam compartilhadas – o artigo que você está lendo, por exemplo.
A OSA limitará o alcance online da mídia independente. Alcançar esse objetivo é de vital importância para o establishment – ainda mais porque o interesse público nas notícias online da mídia tradicional também está diminuindo.
Além disso, a OSA proporciona uma proteção significativa para cada uma das organizações de mídia regulamentadas que o Estado controla e categoriza como “editoras de notícias reconhecidas”. Isso significa todos os meios de comunicação tradicionais, além dos meios de comunicação “independentes” favorecidos, como o Bellingcat, que também é financiado pelo establishment.
Então, dados seus cuidados protetores e vastos recursos, que alegada “expertise” você acha que a mídia tradicional trouxe para a investigação de Russell Brand? Para um relato completo desse dito jornalismo, você pode ler este artigo. Mas talvez eu deva avisá-lo antecipadamente que, embora as alegações contra Brand sejam muito sérias e devam ser investigadas pela polícia, a “equipe” da mídia tradicional, de forma decepcionante, não apresentou um pingo de evidência de verdade para apoiar as acusações reportadas.
Pior ainda, a mídia tradicional evidentemente fabricou supostas provas para enganar seus leitores e o público, minando assim os relatos das potenciais vítimas.
No entanto, de acordo com o nosso Andrew Neil do Spectator, para que os meios de comunicação tradicionais tenham gasto seus recursos consideráveis durante um período de quatro anos para produzir essa volumosa investigação (que podemos chamar de detritos desajeitados) requer grande “expertise”.
Na entrevista ao Spectator, Leith perguntou a opinião de Neil sobre a possibilidade de a mídia tradicional ter lançado um ataque coordenado contra Brand. Aqui está como Neil respondeu:
Não há nenhuma virtude nisso, e as pessoas que estão empurrando essa ideia, de que há uma espécie de conspiração para derrubá-lo, são as mesmas pessoas que acreditam em todos os tipos de conspirações também. Que as vacinas colocaram pequenos microchips nos nossos corpos, que a administração Bush estava realmente por trás do 11 de Setembro, e todas as outras bobagens. Claro, naturalmente vivemos num mundo governado por pessoas-lagarto. Todos nós sabemos quem eles são [o povo-lagarto], a grande mídia sabe quem eles são, apenas estamos com muito medo de apontar os lagartos dentre nós. Eles são conspiradores em tudo agora.
É possível, embora difícil de comprovar, que uma pequena minoria de pessoas rotuladas como teóricas da conspiração acreditem que existem microchips nas vacinas contra a COVID. Embora o advento de chips do tamanho de partículas torne essa afirmação pelo menos viável, a grande maioria das pessoas que questionaram as vacinas – e que também foram rotuladas como teóricas da conspiração pelas “autoridades epistêmicas” – estavam mais preocupadas com o status experimental, os potenciais riscos desconhecidos e a questionável eficácia das vacinas, sem mencionar a ausência de quaisquer ensaios concluídos.
O cansativo refrão de “lagartos” de Neil baseava-se unicamente na opinião de um proeminente dito “teórico da conspiração”, David Icke, cuja hipótese extremamente especulativa dos “Anunnaki sumérios” baseava-se em sua interpretação de alguns textos gnósticos – o Nag Hammadi, os Manuscritos do Mar Morto, etc. – e o trabalho de estudiosos como Zecharia Sitchin.
Ninguém que questionou seriamente as vacinas contra a COVID, incluindo dezenas de milhares de médicos e enfermeiros do Reino Unido, o fez porque pensava que a realeza era formada por lagartos. Aliás, os engenheiros estruturais da Universidade do Alasca Fairbanks também não questionaram o relato oficial do 11 de Setembro porque imaginavam que o ex-presidente dos EUA, Bush, é um réptil pandimensional que muda de forma.
Vamos recuar um passo e nos questionar: se Andrew Neil é, como ele alega, o superior intelectual de qualquer um que sugira que pode ter havido um ataque coordenado da mídia tradicional contra Brand, então por que ele ignora o fato claro como o dia de que as alegações contra Brand foram noticiadas simultaneamente por quase toda a mídia tradicional em ambos os lados do Atlântico? Será que um fato tão absoluto, uma prova tão irrefutável, não aponta pelo menos para a possibilidade de uma coordenação planejada?
E porque esse é o caso, ficamos com apenas uma conclusão: Neil deliberadamente usou uma técnica de propaganda testada e comprovada chamada falácia do espantalho. Ou seja, ele atribuiu crenças absurdas a pessoas de quem discorda, a fim de falsamente desmascarar, com facilidade artificial, argumentos que elas nunca apresentaram. Essa técnica é um tipo de falácia lógica.
Ele então usou uma técnica relacionada chamada falácia da composição para manipulativamente alegar que a opinião de uma pessoa que ele rotula de teórico da conspiração (ele está se referindo a Icke sem nomeá-lo) representa a opinião de todos que ele rotula de teóricos da conspiração. Essa é uma tática muito comum da mídia tradicional.
Neil disse alguma coisa sobre a suspeita comum de um possível ataque coordenado a Brand? Sim, ele disse:
[O conspiracionismo] é uma defesa bastante difícil de lidar, porque é muito ridícula. É uma defesa que não precisa de fatos. É uma cultura em que Russell Brand viveu e lucrou, ou pelo menos o fez até o YouTube cortar suas receitas. Então é com isso que eles lidam, eles não lidam com a coleta de evidências. […] Todos esses teóricos da conspiração podem ter suas opiniões absurdas sobre o que realmente está acontecendo aqui com Russell Brand, mas para estabelecer o que está acontecendo, para produzir provas, é necessário jornalismo investigativo.
Vale a pena reiterar mais uma vez que a investigação das acusações contra Brand não forneceu nada além de acusações. Isso não significa que as acusações não sejam verdadeiras. Mas os jornalistas da mídia tradicional não forneceram nada que se aproximasse das “provas” que Neil alega existir.
Observe que Neil usou a palavra “ridícula” para sinalizar à sua audiência que as pessoas que ele chama de “teóricos da conspiração” têm crenças ridículas. Mas pense nisso: sua afirmação foi baseada somente nas suas próprias afirmações ridículas e falácias lógicas – e não em qualquer evidência de verdade.
Portanto, se quisermos acreditar na palavra de Neil e “estabelecer o que está acontecendo”, então precisamos olhar para as “evidências” na esperança de estabelecer alguns “fatos”.
Certo, vamos fazer isso. É um fato que, após a publicação das acusações, a mídia tradicional não se propôs imediatamente a encontrar evidências adicionais que apoiassem as acusações das possíveis vítimas. Em vez disso, a mídia tradicional voltou sua atenção para atacar as opiniões “conspiratórias” de Brand e dos seus seguidores.
Exemplo 1. Assim que as acusações contra Brand foram publicadas, a BBC escreveu que ele “desenvolveu um culto de seguidores” e “se interessou pelo mundo das teorias da conspiração”. A essas acusações, a BBC acrescentou o “fato” cintilante de que Brand tinha conquistado seguidores durante a alegada pandemia de COVID-19 porque “discutiu teorias de conspiração em torno da doença”.
Exemplo 2. Dois dias depois, usando o mesmo alegado tema de “culto”, o Metro publicou um artigo intitulado Da negação da Covid ao ódio da grande mídia – Por dentro do culto online alimentado pela conspiração de Russell Brand.
Exemplo 3. Alguns dias depois, do outro lado do planeta, a ABC News da Austrália afirmou que os seguidores de Brand respondem aos seus “discursos inflamados” simplesmente porque ele é “controverso” e que o seu público é composto por “pessoas que perseguem teorias da conspiração”.
Exemplo 4. Após as acusações contra Brand, o governo do Reino Unido decidiu que deveria expressar sua opinião sobre uma potencial investigação criminal. Nada menos que o gabinete do Primeiro-Ministro emitiu uma declaração oficial declarando que “essas são alegações muito sérias e preocupantes”.
Os exemplos são infinitos. Não temos espaço para citar todos. Que estranho, então, que Andrew Neil tenha afirmado em sua entrevista que ninguém “estava se importando” com Russell Brand. A “evidência” contradiz completamente Andrew Neil. Parece que toda a mídia tradicional, dos quatro cantos do mundo e do governo do Reino Unido, está muito interessada nas alegações de Russell Brand.
A opinião divulgada pelo governo do Reino Unido foi seguida por cartas enviadas por e-mail de Dame Caroline Dinenage DBE MP para várias redes sociais e sites de notícias online, incluindo o TikTok, de propriedade chinesa e o serviço de hospedagem de vídeo Rumble, solicitando que Brand fosse desmonetizado nessas plataformas online.
Caroline Dinenage é a Baronesa Lancaster de Kimbolton, um membro importante do establishment e membro do Comitê Seleto de Cultura, Mídia e Esporte da Câmara dos Comuns. Não é nenhuma surpresa que esse mesmo comitê tenha sido fundamental na criação da Lei de Segurança Online. Além disso, quando a baronesa foi Ministra de Estado do Digital e do Desporto de Fevereiro de 2020 a Setembro de 2021, ela tinha a responsabilidade ministerial de orientar a aprovação do Projeto de Lei de Segurança Online para se tornar a Lei de Segurança Online.
A máxima do direito “inocente até que se prove ser culpado”, que Neil admitiu ser um princípio importante da democracia liberal do Reino Unido, parece não significar praticamente nada para Dinenage.
Uma noção é divulgada em alguns setores da mídia tradicional de que Dinenage estava agindo de forma independente. Isso pode ser verdade. Mas por que, então, ela usou o papel timbrado oficial da Câmara dos Comuns em sua correspondência?
Até o momento, não houve nenhuma declaração oficial do Comitê Seleto de Cultura, Mídia e Esporte sobre as acusações contra Brand. Alegadamente, limitou-se a reconhecer que apenas “algumas” das cartas enviadas em seu nome foram aprovadas. Considerando que todas as cartas sob seu papel timbrado eram exemplos vergonhosos de autoritarismo generalizado, o fato de qualquer uma delas ter sido aparentemente aprovada indica as tendências ditatoriais do Comitê Seleto como um todo.
Que fatos reais foram estabelecidos?
Em primeiro lugar, é um fato que a mídia tradicional explorou as alegações e empregou a falácia da composição para desacreditar tanto as opiniões de Brand quanto dos seus seguidores nas redes sociais.
Em segundo lugar, é um fato que as acusações contra Brand surgiram ao mesmo tempo que a Lei de Segurança Online passou por sua fase de leitura final. As acusações contra Brand ganharam todas as manchetes, não deixando praticamente nenhum espaço para uma cobertura proeminente da iminente lei de censura do Reino Unido por parte da mídia tradicional. Distraindo completamente o público do Reino Unido.
Terceiro, é um fato que o objetivo da Lei de Segurança Online é reforçar o alcance cada vez menor da mídia tradicional e censurar sua concorrente mídia independente.
Quarto, é um fato que Brand e seus seguidores são considerados parte da mídia independente, que a mídia tradicional acusa de serem teóricos da conspiração.
Quinto, é um fato que figuras formativas do governo do Reino Unido usaram as alegações publicadas pela mídia tradicional para tentar limitar o alcance de alguém que tem milhões de seguidores e a quem acusam de ser um teórico da conspiração.
Sexto, é um fato que limitar o alcance dos teóricos da conspiração populares é exatamente o que a Lei de Segurança Online foi concebida para alcançar.
Existem evidências sólidas que apoiam cada um desses fatos. Então, o que é que Andrew Neil, um presumível membro das “autoridades epistêmicas”, pensa dos fatos e das provas que ele insiste que ele e toda a mídia tradicional que ele defende têm? Em sua entrevista ao Spectator, Neil disse o seguinte:
Acho que porque a posição de Russell Brand, em termos de uma variedade de conspirações, é muito semelhante às conspirações deles, eles o consideram um de nós. Portanto, independentemente do que ele seja acusado, precisamos persegui-lo. Precisamos ir atrás dele, eles estão tentando nos pegar. Quero dizer, não se esqueça, eles são teóricos da conspiração e, portanto, são paranoicos. Eles não são apenas paranoicos, eles sabem que as pessoas mais sensatas estão contra eles. E acho que é uma espécie de defesa perseguir um deles.
A entrevista ao Spectator foi publicada no dia 23 de setembro, depois da publicação das cartas de Dinenage e das reportagens da mídia tradicional que acabamos de discutir. Em outras palavras, Neil tinha montes de material na ponta dos dedos, mas optou por descartar todas as evidências e ignorar os numerosos fatos que apontavam para um possível motivo político para a perseguição a Brand por parte da mídia tradicional global e do governo do Reino Unido. Em vez disso, ele simplesmente deixou de lado todas as evidências e fatos e mergulhou em suas acusações de “teoria da conspiração”.
Esse é um caso clássico de como o rótulo de “teoria da conspiração” é aplicado por pessoas, como Neil, que não desejam reconhecer evidências ou fatos contraditórios. A acusação de “teoria da conspiração” permite que Neil e seus companheiros da mídia tradicional criem o que fingem ser narrativas inquestionáveis, nas quais esperam que seus leitores e telespectadores “confiem” com base em sua frágil e risível afirmação de serem “autoridades epistêmicas”. Deve-se notar que isso é precisamente o que decreta “a Ciência™” do conspiracionismo.
Quando Sam Leith, o entrevistador de Neil, apontou que os chamados teóricos da conspiração não podem ser categorizados por nenhuma ideologia política única, Neil não parou para considerar as implicações da declaração precisa do seu subordinado.
Em vez disso, ele embarcou em uma reminiscência anedótica, como se tentasse justificar sua bizarra visão da teoria da conspiração. Tendo rejeitado todas as evidências em contrário, ele afirmou falsamente que a teoria da conspiração reside apenas nos extremos da política e que a extrema esquerda e a extrema direita (teóricos da conspiração) acreditam essencialmente na mesma coisa.
Ele opinou que ambas as alegadas alas extremistas e, portanto, todos os teóricos da conspiração que ele imagina odeiam a democracia liberal. Sua conclusão:
Pessoas como Russell Brand não são amigas da democracia liberal e nem seus apoiadores.
Como discutimos na Parte 1, isso é proselitismo estúpido. Os elitistas enraizados do establishment esperam seriamente que aceitemos que as pessoas que mais ferozmente protegem e procuram exercer o nosso direito democrático de questionar o poder são todas teóricas da conspiração extremistas.
Neil aparentemente acredita que a democracia liberal é personificada pela confiança do público nas “autoridades epistêmicas” do establishment. Consequentemente, na sua evidente visão, qualquer pessoa que desafie as “autoridades” e os seus pronunciamentos e decretos está a minar a democracia liberal. Mas o que ele descreve é, na verdade, o sistema político de um Estado fascista totalitário – uma inversão completa da democracia liberal e dos princípios em que supostamente se baseia.
É evidente que, da perspectiva de Neil, apenas pessoas estúpidas – teóricos da conspiração – questionam a verdade epistêmica, como presumivelmente definida pela sua classe estreita e autoritária. Ele vê todas essas pessoas estúpidas como extremistas pouco inteligentes que procuram destruir a ordem social que ele falsamente chama de democracia liberal.
Qualquer pessoa que usa o rótulo de “teoria da conspiração” o faz não porque valoriza as evidências, os fatos ou a dialética, mas porque não aceitará qualquer desafio à sua visão do mundo ou qualquer dissidência da sua alegada autoridade.
A acusação de “teoria da conspiração” é uma construção de propaganda autoritária, criada intencionalmente para censurar opiniões legítimas e baseadas em fatos.
É hora de enfrentarmos as “autoridades epistêmicas” e rejeitarmos sua pretensão elitista e autoritária de superioridade intelectual.
É hora de insistir que todas as evidências sejam discutidas, que todos os fatos sejam apurados e reportados ao público.
É hora de rejeitar o boato da “teoria da conspiração” dos propagandistas do Estado.
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Autor: Iain Davis
Iain Davis é um escritor, jornalista e autor que mantém um blog em iaindavis.com e escreve para o UK Column, o Unlimited Hangout e outros. O trabalho de Iain aparece regularmente em vários meios de comunicação, incluindo OffGuardian, Lew Rockwell, Technocracy News & Trends e The Corbett Report.
Iain mora na costa sul da Inglaterra. Sua exposição de ideias habitual, principalmente por meio do seu blog e livros publicados, é baseada em extensas pesquisas e mergulhos profundos em assuntos políticos, sociais e geopolíticos complexos e muitas vezes abrangentes.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução do artigo originalmente publicado por Iain Davis no seu blog em 06 de outubro de 2023.
O texto original, em inglês, disponibilizado sob a licença CC BY-NC 4.0, pode ser conferido em:
]]>Crédito da imagem: Gerd Altmann - Pixabay
Existem certas suposições que são aplicadas a qualquer pessoa rotulada como “teórico da conspiração” – e todas elas são falácias. Na verdade, o termo “teoria da conspiração” nada mais é do que uma construção de propaganda concebida para silenciar o debate e censurar opiniões sobre uma série de assuntos. Mais particularmente, é usado como pejorativo para marginalizar e desacreditar quem desafia os pronunciamentos e decretos do Estado e do establishment – isto é, as entidades públicas e privadas que controlam o Estado e que se beneficiam do Estado.
Aqueles de nós que têm críticas legítimas ao governo e às suas instituições e representantes, que são, portanto, rotulados de “teóricos da conspiração”, enfrentam um dilema. Podemos abraçar o termo e tentar redefini-lo ou podemos rejeitá-lo completamente. De qualquer forma, é evidente que as pessoas que usam o rótulo de “teoria da conspiração” como arma continuarão a usá-lo enquanto ele servir para os seus propósitos de propaganda.
Um dos aspectos mais insidiosos da fabricação da “teoria da conspiração” é que as falsidades associadas ao termo foram semeadas com sucesso na consciência do público. Muitas vezes, os propagandistas não precisam fazer mais do que colocar esse rótulo na opinião alvo e o público descartará imediatamente esse ponto de vista como uma “teoria da conspiração lunática”. Infelizmente, essa reação instintiva é normalmente feita sem qualquer consideração ou mesmo familiaridade com as provas apresentadas pelo chamado “teórico da conspiração lunático”.
Esta foi a razão pela qual o rótulo de “teórico da conspiração” foi criado. O Estado e seus propagandistas não querem que o público sequer tenha conhecimento de evidências inconvenientes, muito menos que as examine. As evidências desafiadoras estão enterradas sob o rótulo de “teoria da conspiração selvagem”, sinalizando assim ao público desavisado que deve automaticamente rejeitar todos os fatos e evidências oferecidos.
Existem vários componentes que coletivamente formam o boato da teoria da conspiração. Vamos decompô-los.
Primeiro, temos um grupo de pessoas que supostamente podem ser identificadas como teóricas da conspiração. Em segundo lugar, temos a alegação de que todos os teóricos da conspiração compartilham uma fraqueza psicológica subjacente. Terceiro, diz-se que a teoria da conspiração ameaça a democracia ao minar a “confiança” nas instituições democráticas. Em quarto lugar, os teóricos da conspiração são supostamente propensos ao extremismo e à potencial radicalização. Quinto, a teoria da conspiração é acusada de não ser baseada em evidências.
De acordo com a mídia tradicional, existe uma ligação entre a chamada “teoria da conspiração” e a “extrema direita” e os “supremacistas brancos”. George Monbiot, colunista do Guardian, por exemplo, escreveu que:
[…] o conspiracionismo é o combustível do fascismo. Quase todas as teorias da conspiração bem-sucedidas se originam da ou chegam à extrema direita.
Aparentemente, essa é uma crença comum entre pessoas que imaginam que a “teoria da conspiração” existe da forma que lhes foi dito que existe. É também uma afirmação ousada de um suposto jornalista. Não há evidências para apoiar a afirmação de Monbiot.
Numerosos estudos tentaram identificar os traços comuns dos teóricos da conspiração. Esses estudos tendem a identificar inicialmente o seu grupo de sujeitos simplesmente por meio de pesquisas de opinião. Se, por exemplo, alguém não aceita os relatos oficiais do 11 de Setembro ou do assassinato de John Kennedy, os pesquisadores rotulam-no de “teórico da conspiração”.
Provavelmente o maior estudo demográfico sobre esses alegados “teóricos da conspiração” foi realizado pelos cientistas políticos Joseph Uscinski e Joseph Parent para o seu livro Teorias da Conspiração Norte-americanas, de 2014. Eles descobriram que os “teóricos da conspiração” não podiam ser categorizados demograficamente.
Etnia, gênero, nível de escolaridade, emprego, situação econômica e até mesmo as crenças políticas não eram indicativos. A única característica sólida que conseguiram isolar foi que os chamados teóricos da conspiração tendiam a ser ligeiramente mais velhos do que a média da população – sugerindo, talvez, que o ceticismo em relação às narrativas do Estado aumenta com as experiências de vida.
O professor Chris French fez esta observação, conforme reportado pela BBC em 2019:
“Quando você examina de verdade os dados demográficos, a crença em conspirações atravessa classes sociais, atravessa gêneros e atravessa idades.” […] Da mesma forma, quer você seja de esquerda ou de direita, é igualmente provável que você veja conspirações contra você.
Isso não é para negar que uma minoria de teorias da conspiração são promovidas por pessoas do espectro político da extrema direita. Nem que alguns da extrema esquerda defendam outras teorias semelhantes. Algumas “teorias da conspiração” podem ser consideradas “racistas” e/ou “anti-semitas”. Mas não há provas que apoiem a alegação de que os “teóricos da conspiração”, quando comparados com a população em geral, sejam mais ou menos propensos a manter crenças políticas extremas ou a promover narrativas extremistas.
George Monbiot certamente não está sozinho nas suas opiniões, mas a sua opinião publicada – nomeadamente, que as teorias da conspiração “se originam da ou chegam à extrema direita” – é um completo absurdo. Portanto, vamos descartar sua afirmação agora como uma conversa oca ignorante.
A alusão de Monbiot ao “conspiracionismo” relaciona-se com os alegados problemas psicológicos que supostamente levam as pessoas a se tornarem “teóricas da conspiração”. A teoria do “conspiracionismo” é um produto do pior tipo de ciência lixo. Baseia-se principalmente na disciplina notoriamente esquisita da psicologia experimental.
Um dos artigos seminais que informam a teoria do “conspiracismo” é Vivo e Morto: Crenças em Teorias da Conspiração Contraditórias (Wood, Douglas e Sutton, 2012). Os pesquisadores pediram aos seus “teóricos da conspiração” que avaliassem a plausibilidade de várias supostas teorias da conspiração. Eles usaram uma escala Likert, onde 1 é discordo totalmente, 4 é neutro e 7 é concordo totalmente. Algumas das “teorias” que os sujeitos foram convidados a considerar eram contraditórias.
Por exemplo, pediram aos participantes que avaliassem a plausibilidade das noções de que a Princesa Diana foi assassinada e que ela fingiu sua própria morte. Usando essa metodologia, os pesquisadores concluíram:
Embora já se saiba há algum tempo que a crença em uma teoria da conspiração parece estar associada à crença em outras, só agora sabemos que isso pode se aplicar até mesmo a teorias da conspiração que são mutuamente contraditórias.
Mas os pesquisadores não pediram aos seus sujeitos que excluíssem teorias mutuamente contraditórias – apenas que avaliassem a plausibilidade de cada uma individualmente. Assim, não havia nada nas suas descobertas reportadas que apoiasse a conclusão a que chegaram de forma não científica.
Pesquisas subsequentes destacaram o quão ridícula era a sua falsamente chamada “conclusão científica”. No entanto, apesar de ter sido totalmente refutada, a afirmação errônea de que os teóricos da conspiração acreditam simultaneamente em teorias contraditórias é repetida ad nauseam pela mídia tradicional, por políticos e acadêmicos. Constitui apenas um dos truísmos infundados proclamados por aqueles que espalham o mito do “conspiracionismo”.
Um dos estudiosos mais influentes – senão o mais influente – no campo da pesquisa conspiratória é o cientista político Joseph Uscinski. Como muitos outros dos seus colegas, ele tentou diferenciar entre o conhecimento baseado em evidências de conspirações reais ou “concretas”, como o Caso Irã-Contras ou o Caso Watergate, e o que os pesquisadores científicos alegam serem opiniões psicologicamente falhas e isentas de evidências sustentadas pelos chamados “conspiracionistas”.
Uscinski cita o trabalho do professor Neil Levy como definitivo. No artigo Conhecimento Radicalmente Socializado e Teorias da Conspiração, Levy afirmou:
A explicação típica de um evento ou processo que atrai o rótulo de “teoria da conspiração” é uma explicação que conflita com a explicação apresentada pelas autoridades epistêmicas relevantes. […] Uma teoria da conspiração que conflita com a história oficial, onde a história oficial é a explicação oferecida pelas autoridades epistêmicas (relevantes), é prima facie não comprovada. […] É porque as autoridades epistêmicas relevantes – a rede distribuída de coletores e testadores de declarações de conhecimento que inclui engenheiros e professores de política, especialistas em segurança e jornalistas – não têm dúvidas sobre a validade da explicação que nós aceitamos.
Simplificando, a definição científica de “teoria da conspiração” é uma opinião que entra em conflito com a narrativa oficial reportada pelas “autoridades epistêmicas”. Se você questionar o que lhe é dito pelo Estado ou pelos seus representantes “oficiais” ou pela mídia tradicional, você é um “teórico da conspiração” e, portanto, de acordo com “a Ciência™”, mentalmente perturbado.
Todas as “pesquisas científicas” sobre conspiracionismo e alegadas teorias da conspiração partem do pressuposto de que questionar o Estado, o establishment ou as “autoridades epistêmicas” designadas é delírio. Por mais difícil que seja para muitos aceitar este fato, a efetiva definição funcional de “teoria da conspiração” na literatura científica é “uma opinião que questiona o poder”.
Claramente, essa definição é política, e não científica. A suposta psicologia subjacente do “conspiracionismo”, que alegadamente induz as pessoas a se envolverem em “pensamento conspiratório”, é uma suposição que decorre do viés político dos acadêmicos a favor do Estado e das suas instituições. Não tem absolutamente nenhuma validade científica.
Em seu ensaio Cidadania e Classe Social, de 1950, o sociólogo T.H. Marshall examinou e definiu os ideais democráticos. Ele os descreveu como um sistema funcional de direitos. Esses direitos incluem o direito à liberdade de pensamento e expressão, incluindo discurso, protesto pacífico, liberdade de religião e crença, igualdade de justiça, igualdade de oportunidades perante a lei, e assim por diante.
A maioria de nós que vivemos no que chamamos de democracias representativas está familiarizada com esses conceitos. “Direitos” e “liberdades” são frequentemente elogiados por nossos líderes políticos, pelo mundo acadêmico e pela mídia tradicional como os pilares da nossa política e cultura. Todo o objetivo da democracia representativa, alega-se, é empoderar “nós, o povo” para responsabilizar os tomadores de decisões. “Questionar o poder” é um ideal democrático fundamental.
Se aceitarmos a definição científica funcional de “teoria da conspiração”, então o seu questionamento inerente ao poder e o desafio aberto à autoridade incorporam talvez o princípio democrático mais importante de todos e formam a base da democracia representativa. Não é absurdo afirmar que a democracia representativa não pode existir sem as “teorias da conspiração” – de novo, como é definida na literatura científica. Como podemos ver, a alegação de que “teorias da conspiração” ameaçam as instituições democráticas não tem mérito.
A democracia representativa não se baseia na confiança pública no Estado, nos seus agentes ou representantes. Pelo contrário, a democracia representativa baseia-se no direito do povo de questionar o Estado, os seus agentes e representantes.
Autocracias e ditaduras exigem “confiança” pública. As democracias não. Numa democracia representativa, a “confiança” deve primeiro ser conquistada e, por meio das suas ações, as instituições do Estado devem manter constantemente qualquer confiança que o público originalmente escolheu investir nelas. Onde e quando essa “confiança” já não for mais garantida, as pessoas que vivem em uma democracia são livres para questionar e, em última análise, dissolver instituições estatais nas quais não confiam.
Confiança não é um princípio democrático. Questionar o poder é.
Considere que, segundo instituições estatais como a Organização das Nações Unidas (ONU),
As teorias da conspiração causam danos reais às pessoas, à sua saúde e também à sua segurança física. Elas amplificam e legitimam conceitos errados […] e reforçam estereótipos que podem alimentar a violência e ideologias extremistas violentas.
Essa é uma afirmação totalmente enganosa. É desinformação.
O ato mais violento que se possa imaginar, e a ideologia mais extrema de todas, é a guerra e o compromisso total com ela. A guerra em grande escala só é possível quando um Estado a declara. A guerra internacional está exclusivamente sob a alçada de uma entidade: o Estado. Guerras frequentemente são justificadas pelo Estado por meio de mentiras e enganações. Além disso, a ideologia da guerra é promovida inabalavelmente pela mídia tradicional em nome do Estado.
Para deixar claro: a ONU alega que quando homens e mulheres comuns de todos os setores da sociedade – representando todas as raças, classes econômicas e opiniões políticas – exercem seu direito democrático de questionar o poder, estão a expressar opiniões que “podem alimentar a violência e ideologias extremistas violentas”.
Para que uma alegação tão extraordinária e aparentemente antidemocrática seja considerada, ainda que remotamente, plausível, deve se basear em provas irrepreensíveis. No entanto, como veremos, a alegação da ONU não se baseia em qualquer evidência.
Em 2016, o Relator Especial da ONU, Ben Emmerson, emitiu um relatório à ONU aconselhando seus estados membros sobre potenciais políticas para combater o extremismo e o terrorismo. No seu relatório, Emmerson observou a falta de uma definição clara e consensual de “extremismo”. Ele relatou que diferentes estados membros da ONU definiram “extremismo” com base nos seus próprios objetivos políticos e interesses nacionais. Não havia uma explicação única e convincente do processo de “radicalização”. Como ele disse:
[Muitos] programas dirigidos à radicalização [são] baseados em uma compreensão simplista do processo como uma trajetória fixa para o extremismo violento com marcadores identificáveis ao longo do caminho. […] Não existem dados estatísticos fidedignos sobre os caminhos para a radicalização individual.
Um ano depois, em 2017, a Academia Nacional de Ciências dos EUA (US National Academy of Sciences, NAS) entregou seu relatório, Combatendo o Extremismo Violento. A NAS sugeriu que a “violência e ideologias extremistas violentas” domésticas eram o resultado de uma interação complexa entre uma ampla gama de fatores sociopolíticos e econômicos, características individuais e experiências de vida.
No ano seguinte, em julho de 2018, a visão da NAS foi reforçada por uma equipe de pesquisadores da Universidade Deakin em um artigo revisado por pares, Os 3 P’s da Radicalização. Os estudiosos de Deakin reuniram e revisaram toda a literatura disponível que puderam encontrar sobre o processo de radicalização que potencialmente leva ao extremismo violento. Eles identificaram três fatores principais: fatores de impulso (push), atração (pull) e pessoais (personal).
Os fatores de impulso são os fatores estruturais que impulsionam as pessoas para o ressentimento, tais como repressão do Estado, privação relativa, pobreza e injustiça. Os factores de atração são fatores que fazem com que o extremismo pareça atraente, como ideologia, identidade e pertença de grupo, incentivos de grupo, e assim por diante. Fatores pessoais são traços de caráter individuais que tornam uma pessoa mais ou menos suscetível a empurrar ou puxar. Esses incluem distúrbios psicológicos, traços de personalidade, experiências de vida traumáticas e assim por diante.
Atualmente, a ONU afirma que seu relatório Jornada ao Extremismo na África é “o estudo mais extenso até agora sobre o que leva as pessoas ao extremismo violento”. Em consonância com todas as pesquisas anteriores, o relatório sobre a África concluiu que a radicalização ocorre por meio de uma intrincada combinação de influências e experiências de vida.
A miríade de fatores que contribuem para o processo de radicalização, de acordo com o "estudo mais extenso" da ONU.
Especificamente, o relatório observou:
Sabemos que os impulsionadores e facilitadores do extremismo violento são múltiplos, complexos e específicos do contexto, embora tenham dimensões religiosas, ideológicas, políticas, econômicas e históricas. Eles desafiam uma análise fácil, e a compreensão do fenômeno permanece incompleta.
No seu relatório intitulado Prevenção do Extremismo Violento – publicado em junho de 2023 – a ONU observou que “as mortes por atividades terroristas tem diminuído consideravelmente em todo o mundo nos últimos anos”. No entanto, na sua literatura promocional do mesmo relatório, a ONU afirmou que o “aumento do extremismo violento ameaça profundamente a segurança humana”.
Como pode a ONU afirmar essas duas coisas ao mesmo tempo? Como é que um “aumento do extremismo violento” se correlaciona com uma redução considerável da atividade terrorista e das mortes associadas? Isso não faz absolutamente nenhum sentido.
E lembre-se que no relatório sobre a África, que a ONU considera atualmente o seu “estudo mais extenso até agora”, a ONU reconheceu que os causadores da radicalização “são múltiplos, complexos e específicos do contexto” e “desafiam uma análise fácil”.
Isso refuta completamente a manifesta facilidade com que a ONU proclama, sem justa causa, que as chamadas teorias da conspiração “podem alimentar a violência e ideologias extremistas violentas”. Isso levanta a questão: o que é que a ONU pensa que “extremismo violento” é, senão terrorismo?
O resultado final é que, como ela própria admite, a ONU não tem absolutamente nenhuma evidência que apoie qualquer uma das suas afirmações sobre “teorias da conspiração”. Em vez disso, a ONU está simplesmente inventando toda a sua tese de “conspiração” do nada.
Na realidade, os chamados “teóricos da conspiração” são esmagadoramente pessoas comuns com opiniões legítimas que abrangem uma vasta gama de problemas. Suas opiniões não as levam a adotar ideologias extremistas ou a cometer atos violentos. Não há nenhuma evidência para apoiar essa afirmação amplamente promulgada.
Tampouco os alegados “teóricos da conspiração” constituem um grupo único de descontentes com problemas psicológicos. A única característica definidora que essas pessoas possuem é que exercem o seu direito de questionar o poder.
Elas não procuram minar a democracia, mas, pelo contrário, exercer os direitos e liberdades em que a democracia supostamente se baseia. É esse comportamento que o Estado considera inaceitável e que leva o Estado e as suas “autoridades epistêmicas”, incluindo a mídia tradicional, a rotulá-las de “teóricos da conspiração”.
Essa observação não implica de forma alguma que os teóricos da conspiração estejam sempre certos. As teorias da conspiração podem ser preconceituosas. Elas podem ser ridículas. Elas podem não ter evidências que as apoiem. Elas podem causar ofensa. E às vezes elas estão simplesmente erradas. Em outras palavras, são como qualquer outra opinião. Mas, igualmente, não há nada inerentemente impreciso ou perigoso em cada opinião rotulada como “teoria da conspiração”.
Só há uma maneira de verificar se uma suposta teoria da conspiração é válida ou não: examinar as evidências. Infelizmente, o rótulo de teoria da conspiração foi criado especificamente para desencorajar as pessoas de olharem para as evidências.
Existem inúmeros exemplos de teoria da conspiração ou rótulos de teóricos da conspiração sendo usados para esconder evidências, obscurecer fatos e negar preocupações legítimas. Na Parte 2, analisaremos alguns destes exemplos e exploraremos o contexto geopolítico mais amplo em que o rótulo de teoria da conspiração é utilizado.
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Autor: Iain Davis
Iain Davis é um escritor, jornalista e autor que mantém um blog em iaindavis.com e escreve para o UK Column, o Unlimited Hangout e outros. O trabalho de Iain aparece regularmente em vários meios de comunicação, incluindo OffGuardian, Lew Rockwell, Technocracy News & Trends e The Corbett Report.
Iain mora na costa sul da Inglaterra. Sua exposição de ideias habitual, principalmente por meio do seu blog e livros publicados, é baseada em extensas pesquisas e mergulhos profundos em assuntos políticos, sociais e geopolíticos complexos e muitas vezes abrangentes.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução do artigo originalmente publicado por Iain Davis no seu blog em 25 de setembro de 2023.
O texto original, em inglês, disponibilizado sob a licença CC BY-NC 4.0, pode ser conferido em:
]]>Crédito da imagem: Silentpilot - Pixabay
Se alguém lhe perguntasse como você sabe que a Austrália existe, o que você diria? Se você ainda não esteve lá, pode ser uma pergunta surpreendentemente difícil de responder. Você pode apontar para o professor de geografia do ensino fundamental que lhe falou pela primeira vez sobre o país. “Eu sei que existe porque meu professor me disse que existe”, você pode dizer. Alternativamente, você pode mencionar um amigo seu que visitou o país e pode testemunhar sua existência. Por fim, você pode apontar que consultou um atlas e confirmou que o país, de fato, aparece no mapa.
Embora cada uma dessas justificativas possa parecer convincente, todas elas se apoiam em um eixo crítico: a confiança. “Confie em mim”, diz seu professor, “eu investiguei isso”. “Confie em mim”, diz seu amigo, “eu vi com meus próprios olhos”. “Confie em nós”, dizem os editores do atlas, “consultamos os especialistas”.
Certamente, essas são muitas vezes fontes confiáveis, mas é importante reconhecer que, em algum sentido fundamental, você está escolhendo acreditar no que outras pessoas lhe disseram. Se você nunca verificou você mesmo, na verdade você não sabe que a Austrália existe, você apenas confia que ela existe.
O motivo pelo qual essa pergunta é importante é que ela nos revela o quanto nos submetemos à autoridade no nosso pensamento. É fácil nos considerarmos incrivelmente conhecedores, mas, se formos honestos, é muito mais que somos incrivelmente confiantes. Aceitamos o que a “autoridade” nos disse em quase todos os domínios, e com muito pouca resistência.
C.S. Lewis chamou a atenção para esse fenômeno no seu livro Cristianismo Puro e Simples. Na verdade, a seguinte passagem é o que inspirou o presente artigo.
Não tenha medo da palavra “autoridade”. Se você acredita em algo por causa da autoridade de alguém significa apenas que você acredita porque a pessoa que lhe deu a informação é confiável. Noventa e nove por cento das coisas em que acreditamos são acreditadas em função da autoridade de alguém. Acredito, por exemplo, que exista um lugar chamado Nova York, mesmo sem ter estado lá e mesmo sem conseguir provar sua existência pelo raciocínio abstrato. Acredito nisso porque pessoas confiáveis assim o garantem. O homem comum acredita no sistema solar, nos átomos, na evolução e na circulação do sangue por causa da autoridade de alguém – porque os cientistas o afirmam. A única prova que temos de qualquer declaração histórica é também a autoridade. Nenhum de nós testemunhou a conquista normanda ou a derrota da Invencível Armada. Nenhum de nós poderia provar pela lógica pura que essas coisas aconteceram como se pode provar uma equação matemática. Acreditamos nelas simplesmente porque algumas testemunhas deixaram relatos escritos a seu respeito: na verdade, acreditamos nelas por causa de uma autoridade. Um homem que demonstrasse ceticismo em relação à autoridade em outros assuntos, como certas pessoas o fazem em relação à religião, teria de se contentar com não saber absolutamente nada.
Como Lewis aponta, não há nada de errado em acreditar nas coisas com base na autoridade. Fazemos isso o tempo todo, e isso nos ajuda a fazer nosso caminho no mundo.
Mas, embora não haja nada inerentemente errado em confiar em várias fontes, eu diria que tendemos a ser um pouco confiantes demais como cultura. Acreditamos nas palavras das autoridades, mesmo quando provavelmente não deveríamos.
Todo o fiasco da Covid é certamente um grande exemplo disso. Quantas evidências foram necessárias para convencer uma pessoa comum a tomar a vacina? Vergonhosamente poucas. As pessoas também compraram as ideias de lockdowns e obrigatoriedade de máscaras simplesmente porque alguns “especialistas” disseram que essas políticas eram uma boa ideia.
A questão das mudanças climáticas é outro grande exemplo de quanto depositamos confiança cega nas autoridades intelectuais. Como a maioria de nós não tem experiência no assunto, resignamo-nos a acreditar na palavra dos especialistas. Mas tudo bem, temos certeza, porque “97% dos cientistas do clima concordam”. Como sabemos que existe um “consenso”, podemos confiar neles, certo?
Não tão rápido. Pergunte a si mesmo: você realmente sabe que existe um consenso de 97%? Você mesmo examinou os dados brutos sobre as opiniões dos especialistas? Se não o fez, então também nesse caso você está se submetendo à autoridade. Você está confiando na fonte desse número de 97%. Especificamente, você está confiando que as pessoas que chegaram a esse número não estão te enganando e que a coleta e a representação dos dados sobre as opiniões dos especialistas são razoáveis, imparciais, precisas e completas.
Lembre-se: você não sabe realmente que 97% dos cientistas do clima concordam, você confia que 97% dos cientistas do clima concordam. (Acontece que esse número é mais duvidoso do que a maioria das pessoas imagina).
Novamente, não há nada de errado com a confiança. Mas precisamos ter cuidado para não confiar com muita facilidade, porque as coisas nem sempre são o que dizem ser.
Então, como podemos evitar confiar com muita facilidade? Minha proposta é que adotemos o que chamo de cultura da “citação necessária”.
Como o nome sugere, a ideia aqui é criar uma cultura onde habitualmente exigimos evidências, especialmente para ideias controversas. Sempre que alguém fizer uma alegação, sua resposta instintiva deve ser “citação necessária”.
Durante nosso crescimento, aprendemos a considerar as coisas pelo seu valor nominal, a levar a palavra do professor ao pé da letra. Mas esse é um mau hábito, que faríamos bem em abandonar. Especialmente como adultos, precisamos adotar um ceticismo saudável e questionar tudo, até mesmo as coisas com as quais todos parecem concordar.
A cultura da “citação necessária” também se trata de chegar o mais próximo possível da fonte primária, de modo a minimizar em quantas pessoas você precisa confiar. Quando você obtém suas informações de políticos, a cadeia de confiança provavelmente é: político-jornalista-cientista-dados. São muitas oportunidades para distorção (intencional ou não). Se você puder, é melhor ir direto ao cientista ou, melhor ainda, aos próprios dados brutos (supondo que você possa interpretá-los).
Outra parte da cultura da “citação necessária” é a humildade intelectual. Não importa o quão “óbvio” ou “autoevidente” algo pareça, se a sua alegação se resume a “estou confiando em uma autoridade”, então provavelmente você não deveria ser muito dogmático sobre isso. Isso é especialmente pertinente para ideias heterodoxas, como teorias da conspiração. O Holodomor aconteceu? Acho que sim, mas não pesquisei sobre isso pessoalmente. Estou confiando nas pessoas que pesquisaram, tanto quanto estou confiando nos geógrafos que me dizem que a Austrália existe.
O problema é que as pessoas muitas vezes defendem dogmaticamente alegações com base em “todo mundo sabe” que isso é verdade, ou “especialistas concordam” que isso é verdade. Mas apelos à maioria ou à autoridade não prosperam na cultura da “citação necessária”. Mostre-me os comprovantes, e então acreditarei em você.
Além da frase “citação necessária”, então, a outra frase que deveria ser um refrão comum é “não tenho conhecimento suficiente para ter uma opinião informada sobre isso”. É muito melhor admitir a ignorância do que fingir que sabe algo quando na verdade apenas acabou de ouvir falar sobre isso na TV.
Murray Rothbard disse bem, comentando sobre o campo da economia: “não é crime ser ignorante em economia”, disse ele, “que é, afinal, uma disciplina especializada e que a maioria das pessoas considera uma ‘ciência sombria’. Mas é totalmente irresponsável ter uma opinião forte e vociferante sobre assuntos econômicos enquanto se permanece nesse estado de ignorância.”
O mesmo vale para todos os outros campos, seja história, ciência do clima, doenças infecciosas ou geografia. Confie nas autoridades o quanto quiser, mas tome cuidado para não confundir confiança com conhecimento.
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Autor: Patrick Carrol
Patrick Carroll é o editor-chefe da Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
Tradução original por: Instituto Rothbard
Tradução revisada e republicada por: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Patrick Carrol em 2 de dezembro de 2022 para a FEE.
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:
]]>Crédito da imagem: Borko Manigoda - Pixabay
Em um livre mercado, o preço elevado de um produto é geralmente função da dinâmica da oferta e da demanda e não o resultado de um “capitalista ganancioso” fixando o preço arbitrariamente. O preço reflete a escassez relativa do produto e o que os consumidores estão dispostos a pagar por ele. Os consumidores concordam em pagar esse preço porque valorizam mais o produto do que o dinheiro que devem renunciar para adquiri-lo. Se a oferta de um produto aumentar, o preço cairá até igualar a demanda. Da mesma forma, se o produto se tornar mais escasso, seu preço aumentará até que a procura esteja em equilíbrio com a oferta.
Os preços não só informam os consumidores sobre a escassez, como também influenciam os hábitos de consumo. Consumidores adiam seu consumo quando percebem que os bens estão “muito caros”. Eles subjetivamente valorizam mais o dinheiro que teriam para gastar do que os próprios bens. Tudo isso parece óbvio, mas a maioria das pessoas não percebe as implicações disso.
Os participantes no mercado transmitem entre si suas preferências e condições em evolução ao fazer compras ou abster-se de comprar a preços específicos. Os preços servem, assim, como um mecanismo para coordenar a alocação e uso de recursos em um mercado. Ao refletirem com precisão a relativa escassez de recursos, incentivam os produtores e os consumidores a usar os recursos de forma mais eficiente.
Em um sistema capitalista, os preços são sinais para empresários e consumidores, determinados pela oferta e procura. Preços elevados devido à escassez de recursos restringem o consumo e incentivam a poupança e o investimento.
Como o próprio nome sugere, o capitalismo consiste principalmente na acumulação de capital e no crescimento do capital. Notavelmente, não se pode conseguir isso consumindo riqueza. Pelo contrário, é a renúncia ao consumo que permite poupar e investir e, assim, acumular capital.
Então, se o capitalismo sistematicamente desencoraja o consumo, o que causa o consumismo? Em primeiro lugar, devo destacar que o consumismo é um atributo cultural, distinto do sistema econômico em vigor. Uma sociedade capitalista é livre para ser tão consumista ou não-consumista quanto os indivíduos que vivem sob ela desejarem ser. Da mesma forma, nada necessariamente impede que uma sociedade comunista seja consumista. As pessoas sob o comunismo estão sob os caprichos dos planejadores centrais, e não se deve presumir que isso nunca poderia levar a uma sociedade consumista. Pelo menos o capitalismo não rouba a escolha do povo!
Curiosamente, as pessoas que criticam o capitalismo por promover o consumismo tendem a ser aquelas que argumentam que o consumo “movimenta a economia”. Então, eles são literalmente aqueles que defendem mais consumo. Me refiro ao argumento keynesiano e, infelizmente, demasiado popular de que “o consumo é a chave para uma economia sólida”. Na realidade, a produção precede o consumo e é, portanto, responsável por impulsionar a economia e criar riqueza.
Em 2010, enquanto economistas mainstream castigavam os ricos por não gastarem o suficiente, Lew Rockwell resumiu sucintamente este ponto:
O problema é que os gastos não são a causa do crescimento econômico. O investimento, que começa com a poupança, é a raiz do crescimento econômico. Não importa que o consumo represente uma certa porcentagem da atividade econômica. Essa é apenas a superfície que você está olhando. Gastar e consumir sem poupar nem investir é uma receita para devorar as perspectivas de prosperidade no futuro. Nesse caso, a melhor coisa que os ricos podem fazer para um futuro de crescimento econômico não é gastar, mas poupar para investir.
Uma razão para a existência de uma sociedade consumista poderia ser simplesmente o fato de suas pessoas gostarem de comprar coisas materiais, uma vez que isso lhes dá uma sensação de conforto ou orgulho. A falta de literacia financeira provavelmente contribui para as suas tendências materialistas. Contudo, os governos podem contribuir para essa tendência enfraquecendo os sinais confiáveis baseados no mercado mencionados anteriormente.
Para “impulsionar” a atividade econômica, por exemplo, o governo reduz artificialmente as taxas de juros que orientam os consumidores sobre poupar ou gastar. Taxas de juros elevadas levam a menos descontos no futuro e a mais poupanças, enquanto taxas baixas promovem o consumo imediato de bens. Para induzir o consumidor a gastar no curto prazo, o governo perturba esse equilíbrio, forçando a descida das taxas de juros. Isso leva a gastos insustentáveis dos consumidores devido à distorção desses sinais vitais de preços.
Ironicamente, o comportamento induzido pela intervenção governamental é rotulado como “consumismo”, mas a culpa muitas vezes recai erroneamente sobre o capitalismo e os livres mercados.
O capitalismo realmente promove o consumismo? por Patrick Carroll (em inglês)
O capitalismo não causa o consumismo – os governos sim, por Ryan McMaken (em inglês)
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Autor: Arjun Khemani
Arjun Khemani é um escritor e podcaster de 17 anos que abandonou a escola para ajudar a liderar o suporte no Airchat, uma nova rede social baseada em áudio que está criando a melhor maneira para as pessoas se engajarem em conversas online.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Arjun Khemani em 24 de setembro de 2023 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:
]]>Todo ano, quando chega 11 de setembro, eu penso em escrever (ou traduzir) um texto sobre os conhecidos atentados terroristas que ocorreram em 2001.
Existe a versão oficial da história, que nos é apresentada por, dentre outras fontes, o estado e a grande mídia, que conta que terroristas sequestraram aviões e os fizeram colidir contra o World Trade Center, provocando incêndios e falhas nas estruturas dos prédios e, por fim, o seu desmoronamento.
Existem também versões alternativas (pra não chamá-las de “teorias da conspiração”), sendo a mais conhecida a de que o colapso estrutural do World Trade Center resultou, na verdade, de uma demolição controlada. Essa versão alternativa da história é bem documentada por, dentre outras fontes, o blog do libertário Iain Davis e o documentário Zeitgeist.
Como, no momento, eu não tenho opinião formada sobre o assunto, prefiro não publicar sobre ele. Mas, no meio das minhas leituras, me deparei com um texto que achei interessante, e decidi traduzir uma parte dele que reflete sobre um tema adjacente: talvez você já tenha ouvido alguém te dizer “o que é verdade pra você pode não ser verdade pra mim”, mas será que isso é mesmo possível?
É crucial que entendamos o que “verdade” significa. A definição do Dicionário Michaelis diz:
O que está de acordo com os fatos ou a realidade; […] Coisa, fato ou evento certo e verdadeiro […] Juízo (ou proposição) que não se pode negar e que é aceito como autêntico e verdadeiro
Esta é uma definição relativista de “verdade”. Algo pode ser verdadeiro se estiver de acordo com os fatos ou a realidade. No entanto, se aceitarmos a definição do dicionário, algo também pode ser considerado verdadeiro se for simplesmente uma crença aceita como verdadeira.
Portanto, se confiarmos na definição do dicionário, poderemos dizer que o relato oficial do 11 de setembro também não é verdadeiro porque uma maioria acredita que não é? Isso é aceitável? A crença de que algo é verdadeiro (ou não) é realmente suficiente para reivindicá-la como realidade?
Existe apenas uma verdade e ela é absoluta. A verdade não é uma questão de perspectiva. Uma cadeia de acontecimentos ocorreu, na realidade, no dia 11 de setembro de 2001. Essa realidade é imutável e podemos descobrir qual é estudando as evidências que revelarão os fatos. Não importa quais sejam as nossas opiniões, elas não mudarão essa realidade.
Aceitar a existência de uma verdade única e absoluta contrasta com o relativismo da teoria pós-modernista que tanto influenciou a nossa sociedade contemporânea. É extremamente comum ouvir pessoas falarem da verdade delas, alegarem que o que é verdadeiro para elas não é necessariamente verdadeiro para você.
Essa visão relativa da realidade (solipsismo) nega tanto a realidade quanto a verdade. Afirma que a verdade só existe onde quer que acreditemos, que definimos a verdade por meio da nossa percepção. Isso é uma loucura perigosa.
Se não existe uma verdade objetiva, então qual é o sentido de procurá-la? Isso nos permite acreditar no que quisermos e imaginar que é verdade, quer seja, quer não. Isso promove a apatia, proporcionando-nos a autojustificativa errônea para abandonar o pensamento crítico. Num estado tão psicologicamente danificado, podem nos dizer qualquer coisa e finalizar com um “acredite”.
A verdade pode ser deduzida (conhecida) por meio do raciocínio lógico aplicado às evidências. Se adotarmos essa abordagem à ideia de “verdade relativa”, podemos deduzir imediatamente que ela é falsa (errada).
“A verdade é relativa” é uma declaração alegada de fato absoluto e é, portanto, autocontraditória. Se a verdade fosse apenas uma questão de perspectiva, então a afirmação “a verdade não é relativa” também seria verdadeira. Essa contradição mutuamente exclusiva não pode existir na realidade.
A aparente contradição permite que duas verdades parciais opostas existam simultaneamente. Isso ocorre porque afirmações parcialmente verdadeiras podem coexistir. No entanto, o conhecimento rapidamente resolve que essas duas verdades parciais nunca podem ser a verdade completa em si mesmas.
O famoso meme do vestido que simultaneamente parecia azul e preto e branco e dourado permitia que duas verdades parciais opostas coexistissem. “Eu vejo azul e preto” e “eu vejo branco e dourado” eram ambos aparentemente verdadeiros, dependendo da sua perspectiva.
No entanto, nossas perspectivas relativas não permitiam que o vestido refletisse comprimentos de onda de luz opostos ao mesmo tempo. A verdade é que refletia comprimentos de onda fixos.
Nossas diferentes percepções vieram de nossas suposições sobre as condições de iluminação. Nossas mentes inferiram diferentes interpretações baseadas em assumirmos que o vestido estava iluminado por luz artificial, adicionando mentalmente um tom amarelo que removia a percepção de sombra vista por aqueles que assumiam que estava iluminado pelo sol.
A ilusão de branco e dourado foi criada pelas nossas suposições sobre as condições de iluminação, ela não alterou o modo como a luz realmente se comporta. Na verdade, o vestido era azul e preto. Essa é a verdade absoluta.
Aqueles que defendem a verdade relativa muitas vezes sugerem que a moralidade, em particular, não é absoluta. A maioria das pessoas aceita que é moralmente errado matar alguém. No entanto, também aceitamos que pode ser justificável matar alguém em legítima defesa. Isto “prova”, dizem os pós-modernistas, que a moralidade é relativa e que verdade moral absoluta não existe. Ao fazê-lo, negam as verdades morais parciais, que existem na realidade. Eles também rejeitam verdade moral completa, absoluta.
É parcialmente verdade que matar é errado, mas também é parcialmente verdade que matar é justificado se essa for a única forma de defender a sua vida ou as vidas dos seus familiares. A verdade absoluta é que é errado iniciar o uso de força letal. O agressor está sempre errado, não há ambiguidade moral, como alega o relativismo, e essa é a verdade absoluta.
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Autor: Iain Davis
Iain Davis é um escritor, jornalista e autor que mantém um blog em iaindavis.com e escreve para o UK Column, o Unlimited Hangout e outros. O trabalho de Iain aparece regularmente em vários meios de comunicação, incluindo OffGuardian, Lew Rockwell, Technocracy News & Trends e The Corbett Report.
Iain mora na costa sul da Inglaterra. Sua exposição de ideias habitual, principalmente por meio do seu blog e livros publicados, é baseada em extensas pesquisas e mergulhos profundos em assuntos políticos, sociais e geopolíticos complexos e muitas vezes abrangentes.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução parcial do artigo originalmente publicado por Iain Davis no seu blog em 10 de setembro de 2021.
O texto original, em inglês, disponibilizado sob a licença CC BY-NC 4.0, pode ser conferido em:
]]>Era uma vez, antes da Primeira Guerra Mundial, a Argentina estava confortável com sua posição entre um dos dez países mais ricos do mundo. Mas pouco depois que Juan Perón assumiu o poder em 1943, o país embarcou em uma série de reformas socialistas que iriam colocar sua economia de joelhos e estagna-la, situação da qual ainda não saiu. O país costumava ser considerado uma “nova Europa”. Agora, seus edifícios parecem mais antigos do que os seus antigos antepassados europeus.
O libertarianismo, ou liberalismo, como também é chamado em alguns lugares na América Latina, nunca atraiu tanta atenção como hoje. Javier Milei é um grande motivo disso. Milei, turbulento enquanto economista e personalidade televisiva, rebatizou a tradição liberal clássica de uma forma que conversa com a experiência dos argentinos e sua eterna luta contra a estagnação econômica.
“O liberalismo se baseia no princípio da não agressão”, disse Milei no seu discurso de vitória a um grupo de apoiadores, após uma surpreendente vitória nas primárias presidenciais da Argentina este mês. Se ele for bem-sucedido na eleição geral de outubro, que provavelmente terá um segundo turno, será o primeiro presidente libertário da história moderna.
Muitos especialistas políticos projetavam um terceiro lugar para o excêntrico economista, mas sua campanha incansável galvanizou muitos argentinos, impulsionando-o para o topo da corrida. Apesar de sua retórica populista, Milei é um libertário convicto. Até mesmo seus cães tem nomes de conhecidos economistas de tendência libertária, incluindo Murray Rothbard, Milton Friedman e Robert Lucas.
“Liberalismo”, diz Milei, “é defender o direito à vida, à liberdade e à propriedade. As instituições do liberalismo são a propriedade privada, os mercados livres de intervenção estatal, a mobilidade laboral, a divisão do trabalho e a cooperação social, onde somente é possível ser exitoso servindo ao próximo com bens de melhor qualidade a um melhor preço.”
De acordo com os resultados das primárias, cerca de um terço do país acredita ou simpatiza com esses princípios. Com mais de 40% dos argentinos vivendo na pobreza, com o aumento da criminalidade e da corrupção e com uma taxa de inflação anual superior a 100%, não é nenhuma surpresa o motivo.
Muitos eleitores dizem que estão fartos do status quo. “Temos que nos livrar daqueles que estão lá há 30 anos e não fizeram nada. Estamos podres”, disse um eleitor.
Outro eleitor comentou: “eu gosto dos pensamentos de Milei. Ele não mente para nós e não tira nosso dinheiro com impostos.” Em uma reviravolta surpreendente, os princípios fundamentais do liberalismo clássico – livres mercados, governo limitado e Estado de direito – estão repercutindo em milhões de cidadãos argentinos.
O que é mais chocante, no entanto, não é quantos votos o incendiário libertário obteve, mas quem votou nele e no seu partido, A Liberdade Avança. Desde a última eleição presidencial, há quatro anos, Milei reverteu 12 províncias que eram fortemente a favor dos peronistas, o partido de extrema-esquerda do país. Ele ganhou em 16 das 24 províncias argentinas e acumulou mais de sete milhões de votos, um resultado sem precedentes para um candidato presidencial libertário. O último político libertário a obter tanto apoio foi Ricardo López Murphy nas eleições presidenciais argentinas de 2003, mas mesmo assim ele obteve 16% dos votos populares, o que é menos da metade do número de votos que Milei conseguiu.
Em nenhum lugar esse apoio foi mais forte do que entre os eleitores mais jovens. A grande capacidade de Milei de se conectar com os jovens, muitos dos quais viveram a maior parte das suas vidas em recessão econômica, explica muito do seu sucesso. “Quando comecei a fazer aparições na televisão, há dez anos, a palavra ‘liberal’ era um palavrão”, afirma Milei em seu discurso.
O que falta aos liberais clássicos em comunicação, Milei compensa em estilo e sinceridade. A promessa de Milei de dolarizar a economia argentina, por exemplo, se tornou um slogan popular. “Todos os países que foram dolarizados acabaram avançando e deixaram de ter inflação”, disse um apoiador.
A promessa de Milei de defender os direitos de propriedade e reduzir a carga tributária do estado é defendida usando uma linguagem que se conecta com o eleitor médio. Ele também planeja suspender os controles de preços, permitir o porte legal de armas e permitir a comercialização de órgãos humanos. Até a proposta de Milei de fechar o banco central está ganhando força entre aqueles que estão descontentes com a dívida de décadas do país com o Fundo Monetário Internacional.
Mesmo que Milei fique aquém das eleições gerais, a sua ascensão meteórica é uma lição não só de política, mas que ilustra o poder das ideias. O liberalismo clássico é uma tradição rica que muitas vezes não consegue repercutir nas pessoas que mais se identificariam com ele. Em outras palavras, as ideias do liberalismo clássico têm um enorme potencial para criar mudanças de verdade, mas se tornaram fora de moda.
As personalidades não deveriam carregar o peso de uma tradição, mas encontrar maneiras de comunicar eficazmente essas ideias é muitas vezes tão importante quanto as próprias ideias. Ao capturar as mentes e imaginações de milhões de argentinos, Javier Milei demonstra, mais uma vez, que a liberdade pode ser apresentada de várias maneiras.
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Autor: Michael Peterson
Michael é o Especialista em Conteúdo de uma instituição acadêmica na área de Washington, DC. Atualmente, ele está cursando um mestrado em economia pela GMU, onde também recebeu seu diploma de graduação.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Michael Peterson em 18 de agosto de 2023 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:
]]>Crédito da imagem: domínio público (via Raw Pixel)
Um número crescente de pessoas, incluindo cientistas proeminentes, está pedindo a retratação total de um estudo de alto nível publicado na revista Nature em março de 2020 que explorou as origens do SARS-CoV-2.
O artigo, cujos autores incluíam Kristian G. Andersen, professor de imunologia e microbiologia, declarou que as evidências mostravam claramente que o SARS-CoV-2 não se originou de um laboratório.
“Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus intencionalmente manipulado”, escreveram os autores em fevereiro de 2020.
No entanto, um achado de documentos publicados recentemente revela que Andersen e seus co-autores acreditavam que o cenário de vazamento do laboratório era não apenas possível, mas provável.
”[A] principal coisa ainda na minha mente é que a versão de vazamento do laboratório disso é tão provável que tenha acontecido porque eles já estavam fazendo esse tipo de trabalho e os dados moleculares são totalmente consistentes com esse cenário”, disse Andersen a seus colegas, segundo reportagem do Public, que publicou uma série de mensagens trocadas entre os autores no Slack.
Anderson não foi o único autor que em privado expressou dúvidas de que o vírus tinha origem natural. O Public catalogou dezenas de declarações de Andersen e seus coautores – Andrew Rambaut, W. Ian Lipkin, Edward C. Holmes e Robert F. Garry – entre as datas de 31 de janeiro e 28 de fevereiro de 2020, sugerindo que o SARS-CoV-2 pode ter sido projetado em laboratório.
“[…] o fato de que estamos discutindo isso mostra como isso é plausível”, disse Rambaut sobre a hipótese de vazamento do laboratório.
“Infelizmente não podemos refutar a hipótese de vazamento do laboratório”, disse Andersen em 20 de fevereiro, vários dias depois que os autores publicaram seu preprint.
Para complicar ainda mais as coisas, uma nova reportagem do The Intercept revela que Andersen estava para receber uma doação de US$ 8,9 milhões do NIH, aguardando a aprovação final do Dr. Anthony Fauci, quando o artigo da origem natural foi submetido.
As descobertas levaram várias figuras proeminentes a acusar os autores de fraude total.
Richard H. Ebright, professor de Química e Biologia Química do Conselho de Governadores da Rutgers University, chamou o artigo de “fraude científica”.
“O artigo ‘Proximal Origin’ de 2020 alegou falsamente que a ciência mostrou que a Covid-19 não teve origem em laboratório”, tuitou Ebright. “Mensagens dos autores recém-divulgadas mostram que eles não acreditavam nas conclusões do artigo e mostram que o artigo é produto de fraude e má conduta científica”.
Ebright e Silver estão entre os que apresentaram uma petição instando a Nature a retratar o artigo à luz dessas descobertas.
Entre os que assinaram a petição estava Neil Harrison, professor de Anestesiologia e Farmacologia Molecular na Universidade Columbia.
“Os virologistas e seus aliados produziram vários artigos que pretendem mostrar que o vírus era de origem natural e que a pandemia começou no mercado de frutos do mar de Huanan”, disse Harrison ao The Telegraph. “Na verdade, não há evidências para nenhuma dessas conclusões, e os e-mails e as mensagens do Slack entre os autores mostram que eles sabiam na época que esse era o caso”.
O Dr. João Monteiro, editor-chefe da Nature, rejeitou os pedidos de retratação, observa o The Telegraph, dizendo que os autores estavam apenas “expressando opiniões”.
Essa afirmação é duvidosa, na melhor das hipóteses. Desde o início, o estudo da origem natural foi apresentado como autoritário e científico. Jeremy Farrar, pesquisador médico britânico e agora cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse ao USA Today que o artigo Proximal Origin foi a “pesquisa mais importante sobre a epidemiologia genômica das origens deste vírus até hoje”.
O Dr. Anthony Fauci, se pronunciando do pódio da Casa Branca em abril de 2020, citou o estudo como evidência de que as mutações do vírus eram “totalmente consistentes com um salto de uma espécie de animal para um ser humano”. As agências de checagem de fatos logo estavam citando o estudo como prova de que a Covid-19 “não poderia ter sido manipulada”.
Longe de ser apresentado como um punhado de cientistas “expressando opiniões”, o estudo da origem natural foi tratado como um evangelho, um dogma que não podia nem ser questionado. Isso permitiu que as empresas de mídia social (trabalhando de mãos dadas com agências governamentais) censurassem pessoas que declarassem publicamente o que Andersen e seus colegas estavam dizendo em privado – que parecia plausível que o SARS-CoV-2 viesse do laboratório em Wuhan que fazia experiências com coronavírus e tinha um histórico de segurança duvidoso.
De fato, mesmo enquanto a mídia e os funcionários do governo usavam o estudo da origem natural para difamar as pessoas como teóricos da conspiração por especular que a Covid-19 poderia ter surgido do laboratório de Wuhan, um estudo da Agência de Inteligência de Defensa norte-americana (Defense Intelligence Agency) encomendado pelo governo questionou o rigor científico do estudo.
“Os argumentos que Andersen et al. usam para apoiar um cenário de origem natural para o SARS CoV-2 não são baseados em análises científicas, mas em suposições não comprovadas”, concluiu o artigo agora desclassificado. “Na verdade, as características do SARS-CoV-2 observadas por Andersen et al. são consistentes com outro cenário: que o SARS-CoV-2 foi desenvolvido em laboratório […]”
Apesar dos muitos problemas com as descobertas do estudo, Monteiro continua resistindo aos pedidos de retratação – talvez porque o próprio Monteiro inferiu publicamente que a hipótese de vazamento do laboratório era uma teoria da conspiração em março de 2020.
Seja qual for o caso, ainda não está claro por quanto tempo Monteiro pode resistir a pedidos de retratação diante de evidências contundentes de má conduta científica.
“Não há dúvida de que os autores do Proximal Origin subestimaram consciente e inapropriadamente a hipótese de origem relacionada à pesquisa da #COVID19 e coordenaram esforços para manipular a cobertura da mídia”, tuitou Jamie Metzl, ex-funcionário do governo Clinton e nomeado para o comitê consultivo de especialistas da OMS em edição do genoma humano.
Hoje é óbvio por que houve uma pressão tão grande para declarar que o SARS-CoV-2 era de origem natural.
O governo norte-americano estava financiando arriscadas pesquisas sobre coronavírus no Instituto de Virologia de Wuhan, o que tornaria as autoridades cúmplices até certo ponto do vazamento de um vírus mortal. Sem dúvida, é por isso que o governo tinha interesse em financiar o estudo, o que lhes dava certo controle sobre seus resultados.
“Jeremy Farrar e Francis Collins [então diretor do National Institutes of Health] estão muito felizes. Funciona para mim”, Holmes disse a seus colegas no Slack depois que o preprint foi enviado.
O artigo da origem natural parece cada vez mais um trabalho de whitewashing (lavagem de reputação), e algumas pessoas influentes notaram.
“Este é um grande escândalo”, disse Nate Silver, estatístico e fundador da FiveThirtyEight. “Cientistas como @K_G_Andersen acreditavam que um vazamento de laboratório era extremamente plausível, se não provável, eles inventaram um plano para enganar o público sobre isso, e foram pegos em flagrante.”
Silver não está errado; mesmo assim, até agora, ninguém foi responsabilizado.
Essa falta de responsabilização é preocupante, e para entender por quê vale a pena consultar conceitos antigos de poder e justiça. Como observou Dan Sanchez, da FEE, o poder não é o mero exercício de força injusta. O verdadeiro poder reside no uso da força e na ausência de qualquer responsabilização.
“Sair impune sistematicamente – ou impunidade – é onde o poder realmente está”, escreveu Sanchez.
Em sua famosa obra República, Platão mostrou como era o poder bruto. O lendário “anel de Gyges” não tornava ninguém forte. Tornava alguém invisível. Isso não significava que quem o usasse pudesse fazer o que quisesse, mas significava que nunca seria responsabilizado por seus atos de injustiça.
Esta é a parte mais assustadora do poder bruto do estado. O maior perigo não é que as pessoas ajam de forma antiética. Nem mesmo que os atores estatais cometam crimes para servir a “um bem maior”. O perigo real começa quando as pessoas não são responsabilizadas – mesmo quando são pegas “em flagrante”.
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Autor: Jon Miltimore
Jonathan Miltimore é o editor-chefe da FEE.org. (Siga-o no Substack.)
Seus escritos/reportagens tem sido tema de artigos na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.
Ele assina textos nos seguintes meios de comunicação: Newsweek, The Washington Times, MSN.com, The Washington Examiner, The Daily Caller, The Federalist, Epoch Times.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente publicada por Jon Miltimore em 7 de agosto de 2023 no site da Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:
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