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Cidade chinesa planeja transformar app de coronavírus em rastreador de saúde permanente

Oficiais do governo em Hangzhou dizem que o sistema será um “firewall para melhorar a saúde e a imunidade das pessoas”

Uma pessoa usando máscara mostra um QR code verde no seu celular para informar seu estado de saúde a um segurança em uma estação de trem em Wenzhou, China. Foto: Noel Celis/AFP via Getty Images

Uma pessoa usando máscara mostra um QR code verde no seu celular para informar seu estado de saúde a um segurança em uma estação de trem em Wenzhou, China. Foto: Noel Celis/AFP via Getty Images

Uma cidade chinesa está planejando tornar um aplicativo de rastreamento de saúde lançado como parte da resposta ao coronavírus uma obrigação permanente para sua população de 10 milhões.

Versões do aplicativo foram usadas na China continental. Ele exibe um QR code com o estado do usuário com relação ao vírus, que pode ser usado para determinar o quanto essa pessoa está autorizada a se locomover.

As autoridades da cidade de Hangzhou, um tecnopolo que abriga o gigante do comércio eletrônico Alibaba, onde o aplicativo foi lançado, anunciaram que buscarão lançar uma versão mais ampla para monitorar a saúde das pessoas.

Sun Yongrong, diretor da comissão de saúde de Hangzhou, disse em uma reunião na sexta-feira que vários avanços na administração da saúde já haviam sido alcançados por meio do aplicativo de código de saúde, e propôs integrar os dados com mais indicadores de saúde para desenvolver rankings de índices individuais.

No aplicativo proposto, o estado de saúde de um indivíduo seria representado por cores e receberia uma nota entre 0 e 100 com base em registros médicos, resultados de testes físicos, níveis de atividade e outras escolhas de estilo de vida, como fumar.

Capturas de tela do aplicativo proposto mostravam um número e uma barra de cores indicando a saúde relativa do usuário e o rastreamento de fatores que contribuem para a pontuação, incluindo o número de cigarros fumados naquele dia, passos andados ou horas dormidas.

Por exemplo, beber uma taça de vinho branco poderia reduzir sua pontuação em 1,5 pontos, enquanto dormir por sete horas poderia melhora-la em 1 ponto.

De acordo com relatos da mídia chinesa, as autoridades de Hangzhou planejam ter o aplicativo pronto até o final do próximo mês. A comissão de saúde da cidade disse que o sistema proposto seria um “firewall para melhorar a saúde e a imunidade das pessoas” depois da pandemia.

Embora os aplicativos usados ​​durante a pandemia tenham levantado preocupações sobre privacidade e a falta de transparência sobre como operam, o povo chinês em geral parece aceitá-los como sendo necessários.

No entanto, o movimento para criar uma versão permanente parece ter passado dos limites para algumas pessoas. “Fora dos períodos de epidemias, ele tem grandes problemas de privacidade”, alguém comentou em uma notícia postada no Weibo.

Outro disse: “a fronteira entre saúde pessoal e saúde pública deveria ser repensada. O código de saúde é para outras pessoas lerem. Outras pessoas não têm o direito de ler seus relatórios pessoais de saúde.”

“Que diabos meus hábitos de fumar, beber e dormir têm a ver com você?” Lê-se em outro comentário no Weibo.

“Não temos mais privacidade”, lamentou outro usuário.

Os aplicativos existentes têm rodado nas plataformas onipresentes Alipay e WeChat, desenvolvidas para o governo chinês. Uma pessoa comentou dizendo que excluiria o Alipay do seu celular se o aplicativo se tornasse permanente.

Outros expressaram medo de que ele seja usado pelas companhias de seguros para preços diferenciados, ou pelos empregadores para filtrar candidatos a vagas de emprego.

O comentarista de tecnologia chinês e defensor da privacidade Lawrence Li disse que o novo aplicativo deveria idealmente ser um sistema opt-in para proteger os direitos dos cidadãos.

“No caso da [coleta de dados sobre a] Covid, penso que as pessoas desejaram participar, mas é outra história se o governo quiser torná-la o ‘novo normal’”, disse ele à AFP.

A reunião anual do Partido Comunista Chinês que ocorreu na semana passada ouviu pedidos de delegados para fortalecer a supervisão de violações de segurança. Também houve pedidos para o Congresso Nacional do Povo acelerar a introdução de leis de proteção de dados em resposta à enorme quantidade de informações coletadas sobre os cidadãos chineses durante a pandemia.

“Dada a explosão de dados, a demanda por segurança de dados se tornou cada vez mais urgente”, disse Wei Ming, um deputado do congresso e presidente e gerente geral da filial da China Mobile em Guangdong.

Reportagem adicional por Lillian Yang e AFP

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