Crédito da imagem: Frankie Fouganthin em Wikimedia Commons, CC BY 2.0
A Suécia não tem sido muito noticiada por esses dias. E tem um motivo.
Mais de 100.000 pessoas inundaram as ruas da França no fim de semana e vários centros de vacinação contra Covid foram vandalizados, conforme a crescente oposição à resposta mais recente do governo à pandemia. Na nova temporada dos lockdowns do presidente Emmanuel Macron, funcionários do governo decretaram que pessoas não vacinadas não poderão mais entrar em cafés, restaurantes, teatros, transporte público e mais.
Não precisa dizer que as pessoas não gostaram.
A abordagem da França é única, mas é apenas um dos muitos países ao redor do mundo impondo novas restrições à medida que aumenta o medo de uma nova variante da Covid-19. As recentes restrições da Austrália colocaram metade do país sob lockdown estrito — apesar de uma quantidade recorde de 82.000 testes ter identificado apenas 111 novos casos de coronavírus — enquanto os restaurantes em Portugal estão lutando para sobreviver em meio às novas restrições impostas.
Um país que não tem aparecido muito nos jornais é a Suécia.
A Suécia, é claro, foi demonizada em 2020 por abrir mão de um rígido lockdown. O jornal The Guardian chamou sua abordagem de “catástrofe” na manchete, enquanto a CBS News disse que a Suécia se tornou “um exemplo de como não lidar com a Covid-19”.
Nota do Cabeça Livre:
A mídia brasileira também demonizou a Suécia em 2020. A BBC chamou de “arriscada” a “aposta” da Suécia. O Globo chamou de “estratégia controversa”. Em manchete do G1, era possível ler: “é terrível ser velho na Suécia”. Cientista sueco citado pelo Uol opinou que a Suécia era um modelo que “não deve ser seguido pelo Brasil”.
Recentemente, a Folha avaliou a resposta da Suécia à pandemia como um “incrível fracasso”.
Apesar dessas críticas, a abordagem laissez-faire da Suécia para enfrentar a pandemia continua até hoje. Em contraste com seus vizinhos europeus, a Suécia está recebendo turistas. Empresas e escolas estão abertas quase sem restrições. E no que diz respeito às máscaras, além de não serem obrigatórias, as autoridades de saúde suecas sequer as recomendam.
Quais são os resultados da tão ridicularizada política de laissez-faire da Suécia? Os dados mostram que a média móvel de 7 dias das mortes envolvendo Covid anteontem, 21 de julho, foi zero (veja abaixo). Nada. E está zerada há cerca de uma semana.
While many nations are gearing up for more lockdowns, daily deaths in Sweden are still at 0.
— Jon Miltimore (@miltimore79) 22 de julho de 2021
This isn't what they said would happen. pic.twitter.com/udOcaacwx4
Nota do Cabeça Livre:
Duvida? Então confira você mesmo! Pesquise no Google: mortes por Covid-19 na Suécia.
Se você selecionar o período de 2 semanas (de 8 de julho a 21 de julho), verá que no dia em que ocorreram mais mortes envolvendo Covid-19 (20 de julho), houve 4 mortes:
Ainda segundo o Google, já faz 1 semana que a média móvel de 7 dias tem-se mantido estável em 1 morte diária.
Por óbvio, não estou “comemorando” nenhuma dessas mortes. Estou comemorando a vida! Que bom que a Covid leva cada vez menos vidas na Suécia!
Aliás, se você reparar no gráfico maior, que abrange mais tempo, a doença parece sazonal: tanto no ano passado quanto nesse ano, o número de mortes na Suécia reduziu no final de junho, com a chegada do verão no hemisfério norte.
A diferença entre os números trazidos na matéria e os números trazidos pelo Google pode ser uma questão de fontes diferentes (a fonte da matéria é o Worldometer, e a do Google é a Universidade Johns Hopkins). Mas hemos de convir que os números de ambas as fontes são próximos de zero.
Segundo o Google, o pico de mortes na Suécia ocorreu em 20 de janeiro de 2021. Nesse dia, foram registradas 474 mortes e a média móvel de 7 dias, então, era de 138. Hemos de convir que a situação de lá pra cá melhorou.
Mesmo há um ano, estava claro que as afirmações hiperbólicas sobre “a catástrofe sueca” eram falsas; só pergunte a Elon Musk (veja também: aqui, aqui e aqui). Mas, um ano depois, são esmagadoras as evidências de que a Suécia enfrentou a pandemia da forma correta. A taxa de mortalidade geral da Suécia em 2020 foi menor do que a maior parte da Europa e sua economia sofreu muito menos. Enquanto isso, hoje a Suécia é mais livre e saudável do que praticamente qualquer outro país da Europa.
Enquanto grande parte do mundo continua agarrada ao medo e as nações desenvolvem novas restrições para encurtar liberdades básicas, a Suécia continua sendo um lembrete vital e brilhante de que existe um caminho melhor.
Muitas pessoas comparam a Suécia com os países nórdicos vizinhos (Noruega, Finlândia e Dinamarca), alegando que os vizinhos que fizeram lockdown tiveram desempenho melhor em relação à pandemia:
Em 2020, os países nórdicos adotaram medidas restritivas para conter a pandemia. A Suécia não. O resultado em 2020:
— João Amoêdo (@joaoamoedonovo) 11 de maio de 2021
Mortes por milhão:
🇸🇪Suécia: 864
🇩🇰Dinamarca: 224
🇫🇮Finlândia: 101
🇳🇴Noruega: 80
PIB:
🇸🇪Suécia: -3,1%
🇩🇰Dinamarca: -2,7%
🇫🇮Finlândia: -2,8%
🇳🇴Noruega: -2,5%
O problema dessa narrativa é que o mundo tem mais de 200 países. É muito fácil escolher 4 pra comparar e chegar na conclusão que se deseja chegar. Isso é uma falácia lógica chamada de cherry picking (em uma tradução livre, seria algo como “escolher a dedo”).
Confira uma lista mais ampla de países, ordenados por mortes por 100 mil habitantes de forma decrescente (de onde morreram mais pessoas para onde morreram menos):
Fonte: Wikipedia via Universidade Johns Hopkins. Acesso em: 21 de setembro de 2021.
Ordenando os países dessa forma, a Suécia ocupa hoje a 40ª posição. Ou seja, em 39 países morreram mais pessoas (proporcionalmente) do que na Suécia, onde não foi feito lockdown. Alguns desses países incluem: França, Espanha, Inglaterra, Itália e Argentina, que fizeram lockdown.
É muito fácil escolher 4 países que estão abaixo da Suécia nessa lista, ignorando todos os outros 39 que estão acima.
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Autor: Jon Miltimore
Jonathan Miltimore é o editor-chefe da FEE.org. Seus escritos/reportagens tem sido tema de artigos na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.
Ele assina textos nos seguintes meios de comunicação: Newsweek, The Washington Times, MSN.com, The Washington Examiner, The Daily Caller, The Federalist, Epoch Times.
Tradutor: Cabeça Livre
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Jon Miltimore em 22 de julho de 2021 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em: