Jordan Peterson está de volta, e a principal lição do seu livro continua tão importante como sempre.
Quase dois anos atrás, amigos me presentearam com um exemplar do best-seller de Jordan Peterson, 12 Regras para a Vida: um Antídoto para o Caos.
Nota do Cabeça Livre:
Apresentando Jordan Peterson para quem ainda não o conhece… nascido em 12 de junho de 1962, em Fairview, Alberta, norte do Canadá (onde no inverno chega a fazer 40 graus negativos), ele é professor de psicologia, psicólogo clínico, personalidade do YouTube e autor de livros.
Peterson tem dois bacharelados em Ciências Políticas (1982) e em Psicologia (1984) pela Universidade de Alberta e um PhD em Psicologia Clínica pela Universidade McGill (1991). Ele lecionou de 1993 a 1998 na Universidade de Harvard e de 1998 a 2018 na Universidade de Toronto. Uma de suas áreas de estudo e pesquisa é a Guerra Fria e o totalitarismo do século XX, incluindo fascismo, nazismo e comunismo/socialismo.
Em 1999, ele publicou seu primeiro livro, Mapas do Significado: a Arquitetura da Crença, que combina conhecimentos de psicologia, mitologia, política, religião, literatura, filosofia e neurociência para analisar como surgem as crenças humanas e como elas influenciam nosso comportamento diário. Esse livro se tornou a base para muitas de suas aulas, que podem ser assistidas em seu canal no YouTube.
Jordan Peterson se tornou mundialmente conhecido em 2016, após lançar uma série de vídeos em seu canal no YouTube nos quais ele criticava uma lei do governo canadense que obrigava o uso dos pronomes exigidos pelo interlocutor, lei essa que Peterson classificou como compulsória e autoritária. Os vídeos provocaram grande controvérsia, atraindo tando apoiadores quanto críticos, e receberam significativa cobertura da mídia.
Peterson suspendeu a prática clínica e o ensino em 2018, quando publicou seu segundo livro, 12 Regras para a Vida: um Antídoto para o Caos, que se tornou um campeão de vendas em diversos países.
Em 2019, a esposa de Peterson foi diagnosticada com câncer. Ele começou a usar doses cada vez maiores de benzodiazepínicos (ansiolíticos), dos quais desenvolveu dependência e teve que se tratar. Em 2020, ele passou por um tratamento arriscado envolvendo coma induzido na Rússia. Durante esses anos, sua carreira foi pausada.
Em 2021, Peterson voltou à atividade no YouTube, com várias entrevistas, e publicou seu terceiro livro, Além da Ordem: mais 12 Regras para a Vida.
Voltando ao texto original, que falava do livro 12 Regras para a Vida…
Comecei a ler o livro assim que o recebi, mas em algum lugar ao longo do caminho me distraí e não terminei. (Isso não costumava acontecer comigo, mas criar três filhos alterou meus hábitos de leitura.)
Com o recente retorno de Peterson à cena pública, decidi retomar a leitura do livro. No momento, estou lendo a Regra nº 12 (“Acaricie um gato ao encontrar um na rua”) e pretendo um dia revisar o trabalho.
Mas antes de abordar o livro inteiro, parecia apropriado compartilhar a regra mais importante na obra seminal de Peterson, que vendeu mais de 3 milhões de cópias em todo o mundo.
Assuma a responsabilidade pela sua vida.
É isso. Parece simples, banal até. É algo que você esperaria que seu pai ou sua avó lhe dissessem depois que você fez algo que estragou tudo ou foi demitido.
No entanto, é uma mensagem extremamente necessária agora. Norman Doidge, que escreveu o prefácio de 12 Regras para a Vida, concordou que essa é a lição principal do livro de Peterson.
“[…] a principal regra é que você deve assumir a responsabilidade por sua própria vida. Ponto-final”, escreve Doidge, psiquiatra, autor e amigo de Peterson. (ênfase minha)
Para ser mais preciso, “assumir responsabilidade” na verdade não é uma das 12 regras de Peterson. Ainda assim, a análise de Doidge está correta e não deveria ser nenhuma surpresa.
A responsabilidade pessoal pela própria vida é uma ideia embutida nas regras que Peterson oferece ao longo de seu livro como um antídoto para o caos que muitos de nós sentimos hoje (é também o tema de suas palestras e entrevistas). Quando Peterson diz para você adotar uma boa postura, fazer bons amigos, deixar sua própria casa em ordem primeiro, dizer a verdade, arrumar sua cama, ser preciso no que diz, etc., ele não está realmente preocupado com a limpeza do seu quarto. Ele está instruindo os leitores sobre como eles podem assumir o controle de suas próprias vidas. Ele os está lembrando do seu poder.
A questão é: por que essa lição de repente parece tão importante? Afinal, a mensagem de Peterson não é exatamente nova. De muitas maneiras, seus ensinamentos canalizam alguns dos antigos estoicos, que há milênios ensinaram que o caminho para uma vida pacífica e feliz era dominar a única coisa que os humanos podem realmente controlar: eles mesmos.
Observou certa vez o filósofo estoico Epicteto:
"Onde está o bem? Em nossas escolhas. Onde está o mal? Em nossas escolhas." (Epicteto, imagem do site Pensador)
A mensagem dos estoicos era a de que não deveríamos sujeitar seus próprios sentimentos, sua própria felicidade, a fatores externos. Afinal, geralmente temos pouco controle sobre eventos, circunstâncias e pessoas. O caminho para a harmonia e a felicidade é aprender a controlar como nós, como indivíduos, respondemos a essas coisas.
As ideias de autoempoderamento, autocontrole e iniciativa individual não são exclusivas dos estoicos, claro. Outras filosofias antigas exploraram esses conceitos em maior ou menor grau, e esses temas estão entrelaçados nos ideais norte-americanos, e são encontrados em obras clássicas, como Almanaque do Pobre Ricardo, de Benjamin Franklin, e Autoconfiança, de Ralph Waldo Emerson.
O problema, na opinião de Peterson, é que os norte-americanos não estão mais recebendo essas lições. Em uma entrevista de 2018 para a revista britânica GQ, Peterson foi questionado por que as pessoas estavam tão “famintas” por sua mensagem.
“Elas estão ansiosas por uma discussão sobre a relação entre responsabilidade e significado”, respondeu Peterson. “Não temos essa discussão em nossa cultura há 50 anos.”
Essa é uma afirmação incrível. Durante a maior parte da história humana, pensadores exploraram essa questão — como nossas escolhas individuais se relacionam com viver uma vida de significado — talvez acima de todas as outras. Foi uma questão central para as filosofias de pensadores de Platão e Aristóteles a Immanuel Kant e Nietzsche.
Mas Peterson diz que não nos engajamos mais com essas questões. A filosofia pós-moderna nos levou a novas direções.
“Temos nos concentrado em direitos e privilégios e liberdade e prazer impulsivo”, diz Peterson. “Todos esses são úteis em seus lugares, mas são superficiais, e isso não é bom. Porque se as pessoas estão ancoradas superficialmente, as tempestades as destroem. E as tempestades sempre vêm.”
(o vídeo acima permite ativar legendas automaticamente geradas do inglês e traduzidas para o português, se souber de alguma versão traduzida manualmente, por favor, comente)
É assumindo a responsabilidade que seres humanos aprendem a suportar tempestades, que são inevitáveis. Como muitos sabem, Peterson enfrentou sua própria tempestade quando sua esposa, Tammy, foi diagnosticada com câncer terminal em abril de 2019, e ele lutou contra uma dependência de benzodiazepínicos.
Peterson sobreviveu à tempestade porque sua vida estava ancorada na responsabilidade, que oferecia significado e força.
Infelizmente, muitas pessoas hoje em dia não estão ancoradas.
Quando Peterson diz que não tivemos uma discussão sobre responsabilidade e significado em nossa cultura “há 50 anos”, ele está se referindo a uma mudança cultural que ocorreu.
Não é apenas que não ensinamos as pessoas como assumir a responsabilidade por suas próprias vidas; é que, de muitas formas, nós as desencorajamos ativamente de fazer isso: cultura coletivista, espaços seguros e vitimização — cada uma é uma manifestação de uma cultura que substituiu a responsabilidade individual por noções coletivistas de injustiça. Há pessoas que são abertamente hostis à mensagem de Peterson de ser dono da própria vida.
Isso não quer dizer que a injustiça não seja real. Ela é, e sempre será. O problema é que, em nossa saga de livrar o mundo da injustiça, esquecemos que devemos primeiro nos possuir e nos consertar.
Além disso, a mensagem de Peterson não é “ignore a injustiça”. Sua mensagem é: assuma a responsabilidade pela sua vida apesar da presença de injustiças, que sempre existirão. (Peterson já apontou, por exemplo, que estudos mostram que o destino de um sujeito em liberdade condicional depende, em um grau preocupante, de o juiz ter almoçado antes ou depois da audiência. Aparentemente, juízes com fome têm muito menos probabilidade de perdoar).
É assim que alguém se torna um navio capaz de resistir às tempestades — não colocando sua energia em coisas que estão além do seu controle, mas assumindo a responsabilidade pelas coisas que pode controlar.
O próprio fato de haver pessoas que tratam a mensagem de Peterson como estranha e digna de hostilidade é uma evidência do quanto ela é necessária.
Devemos ser gratos por Jordan Peterson estar de volta para espalhá-la.
Nota do Cabeça Livre:
Neste site, já citei trechos do livro 12 Regras para a Vida em textos anteriores:
Nota do Cabeça Livre:
Caso você não tenha tempo para ler o livro, ou queira ter uma ideia do que ele trata para decidir se vale a pena lê-lo (eu já li e recomendo), os dois vídeos a seguir resumem e comentam as 12 regras. Assista-os na sequência (cada um resume uma metade do livro).
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Autor: Jon Miltimore
Jonathan Miltimore é o editor-chefe da FEE.org. Seus escritos/reportagens tem sido tema de artigos na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.
Ele assina textos nos seguintes meios de comunicação: Newsweek, The Washington Times, MSN.com, The Washington Examiner, The Daily Caller, The Federalist, Epoch Times.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Jon Miltimore em 12 de novembro de 2020 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em: