Consentimento informado: prática básica da ética médica tem sido censurada em relação às vacinas contra Covid-19. Crédito da imagem: CDC / Unsplash.
O Dr. Martin Kulldorff, professor de medicina em Harvard, e o Dr. Jay Bhattacharya, professor de medicina em Stanford, doutores em ambos os sentidos (médicos, com doutorado), escreveram no mês passado para uma coluna de opinião no jornal The Hill:
A ideia de que todos devem ser vacinados contra a Covid-19 é tão equivocada quanto a ideia antivacina de que ninguém deveria. A primeira é mais perigosa para a saúde pública. […] Embora qualquer um possa ser infectado, os idosos têm um risco de morte milhares de vezes maior que os jovens.
Há uma intensa pressão para que jovens adultos e crianças se vacinem. […] No entanto, no caso das vacinas contra a Covid para jovens, tais mandatos prejudicam a saúde pública.
Primeiramente, todas as intervenções médicas deveriam passar no teste de fornecer mais benefícios do que riscos. No caso da vacina contra a Covid, isso é decididamente verdadeiro para as populações mais velhas, mas ainda não está claro para os mais jovens. Embora saibamos que as vacinas contra a Covid têm reações adversas comuns, mas leves, não saberemos o suficiente sobre as reações adversas raras, mas graves, até que tenham se passados alguns anos da aprovação da vacina.
Para pessoas mais velhas, isso não causa dilema. Mesmo que haja um pequeno risco de uma reação adversa séria, isso ainda é melhor do que o risco muito maior de morrer de Covid. […]
Para adultos mais jovens e crianças, é outra história, pois seu risco de mortalidade é extremamente baixo. Um risco ainda que mínimo de uma reação adversa grave à vacina pode alterar o cálculo do benefício-risco, tornando a vacina mais prejudicial do que benéfica. Já observamos problemas raros com coágulos sanguíneos (vacina da Johnson & Johnson) e miocardite (inflamação do músculo cardíaco, vacinas da Pfizer e da Moderna) em pessoas mais jovens, e outros problemas igualmente sérios ainda podem ser encontrados.
Sob tal incerteza, leis que obrigam a vacinação são antiéticas. Presidentes de universidades ou donos de empresas não deveriam exigir uma intervenção médica que possa ter consequências terríveis para a saúde mesmo de algumas poucas pessoas sob sua responsabilidade.
No parágrafo seguinte, os médicos trouxeram uma informação que me chamou a atenção, ainda mais porque veio acompanhada de vários links, em sua maioria artigos científicos:
Segundo, pacientes recuperados da Covid têm proteção forte e de longa duração contra a forma grave da doença se reinfectados, e há evidências sobre a proteção por imunidade após infecção natural ser pelo menos tão boa quanto a pelas vacinas. Portanto, não faz sentido exigir vacinas para pacientes recuperados. Para eles, simplesmente adiciona um risco, ainda que pequeno, sem nenhum benefício.
(você pode conferir o parágrafo original em inglês aqui: Second, recovered COVID patients…)
Eu tive contato com essa coluna dos doutores Kulldorff e Bhattacharya enquanto traduzia o texto Censura mata, que mencionava e trazia o link para essa coluna.
Diante desse parágrafo que me chamou a atenção, decidi dar uma conferida nas fontes das informações deles e resumo o que encontrei em cada uma delas a seguir.
Ordenei as fontes por ordem cronológica.
Para entender alguns termos que virão a seguir — imunidade adaptativa, anticorpos, linfócitos B, imunidade humoral, linfócitos T, imunidade celular, imunoglobulina M (IgM), imunoglobulina G (IgG) — recomendo a leitura dessa matéria do Nexo Jornal, na qual o imunologista Edecio Cunha-Neto, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, explica como o sistema imunológico humano responde ao SARS-CoV-2 (o novo coronavírus).
As referências dos médicos
1) Detection of SARS-CoV-2-Specific Humoral and Cellular Immunity in COVID-19 Convalescent Individuals
(artigo científico revisado por pares e publicado na revista Immunity em 03 de maio de 2020)
Nesse estudo, pesquisadores chineses coletaram sangue de 14 pacientes recuperados da Covid-19 (pacientes recuperados também são chamados de convalescentes, daí o título do artigo). Desses, 8 tinham acabado de se recuperar, enquanto os outros 6 haviam se recuperado há 2 semanas. Suas respostas imunes ao SARS-CoV-2 foram analisadas. Para comparação, os cientistas também coletaram sangue de 6 outros voluntários saudáveis que não tiveram Covid-19. Verificaram que a maioria dos pacientes (13 dos 14), após a infecção, desenvolveu quantidades mensuráveis de imunidade humoral (anticorpos, principalmente grande quantidade de imunoglobulina G — IgG) e celular (linfócitos T) específica para o SARS-CoV-2, o que sugere que a infecção viral não reduz a imunidade adaptativa.
2) Immune T Cells May Offer Lasting Protection Against COVID-19
(texto do blog NIH Director’s Blog, postado em 28 de julho de 2020)
Esse texto, escrito pelo Dr. Francis Collins, também doutor em ambos os sentidos (médico, com doutorado), fala sobre o estudo a seguir, que prefiro analisar no seu lugar:
(artigo científico revisado por pares e publicado na revista Nature em 15 de julho de 2020)
Pesquisadores da Duke-NUS Medical School, em Cingapura, coletaram amostras de sangue de 36 pessoas que tiveram Covid-19, de leve a grave, e haviam se recuperado. Eles identificaram linfócitos T que respondiam à proteína do nucleocapsídeo (proteína N) do SARS-CoV-2. Em seguida, os cientistas coletaram amostras de sangue de 15 pessoas que sobreviveram à epidemia de SARS em 2003 e descobriram que essas pessoas ainda tinham linfócitos T de memória produzidos em resposta ao SARS-CoV-1. Isso em 2020, passados 17 anos da infecção. Eles também descobriram que esses mesmos linfócitos reconheciam partes do SARS-CoV-2 e reagiam a ele. Finalmente, os estudiosos coletaram amostras de sangue de 37 pessoas que não tiveram nem Covid-19 nem SARS, nem contato com pessoas que tiveram uma dessas doenças. Para a surpresa deles, mais da metade dessas amostras tinha linfócitos T que reconheciam algumas proteínas do SARS-CoV-2. Para os cientistas, não ficou claro se essa imunidade foi adquirida de contato com coronavírus comuns que causam o resfriado comum ou talvez da exposição a outros coronavírus ainda desconhecidos.
(artigo científico revisado por pares e publicado na revista Cell em 16 de setembro de 2020)
Pesquisadores do Instituto La Jolla de Imunologia na Califórnia, nos Estados Unidos, examinaram os 3 componentes da imunidade adaptativa contra o SARS-CoV-2: linfócitos B, linfócitos T CD4+ e linfócitos T CD8+. Esse estudo de coorte envolveu 54 pessoas, das quais 24 estavam doentes com Covid-19, 15 eram convalescentes e 15 não haviam contraído a doença (grupo de controle). Os pesquisadores observaram que os 3 componentes agindo de forma coordenada limitaram a gravidade da doença, assim como acontece com outras doenças infecciosas. No entanto, em idosos (com mais de 65 anos), esses componentes costumam exibir respostas descoordenadas, provavelmente devido à escassez de linfócitos T virgens, sendo isso um fator de risco imunológico ligado à gravidade da doença.
(artigo científico revisado por pares e publicado na revista Immunity em 13 de outubro de 2020)
Pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, conduziram um estudo sorológico com aproximadamente 6 mil voluntários do condado de Pima. Os estudiosos propuseram uma mudança nos testes sorológicos, que até então só testavam o domínio de ligação ao receptor (RBD, na sigla em inglês) da proteína spike do SARS-CoV-2. Eles passaram a testar também o domínio S2 da proteína spike, e verificaram que isso aumentou a precisão do teste sorológico. No estudo, todos os casos, incluindo os assintomáticos, foram soroconvertidos (o teste sorológico passou de negativo a positivo, o que indica a produção de anticorpos) em 2 semanas após a confirmação do teste PCR. O estudo descobriu que a produção de anticorpos era tão maior quanto mais grave fosse a doença, e que os anticorpos atingiram um nível estável e persistiram na corrente sanguínea por pelo menos 7 meses após a infecção.
5) Prior SARS-CoV-2 infection is associated with protection against symptomatic reinfection
(carta ao editor publicada no Journal of Infection em 26 de dezembro de 2020, disponível para leitura no NCBI e no ResearchGate)
Diante da segunda onda do coronavírus na Inglaterra, pesquisadores da Universidade de Newcastle investigaram a existência de imunidade em um estudo de coorte com 11 mil profissionais de saúde. Na primeira onda, que durou de março a abril de 2020, 1.038 profissionais foram infectados (teste PCR e/ou sorológico positivo). Na segunda onda, aproximadamente 7 meses depois, entre outubro e novembro de 2020, houve 290 novos infectados entre os 10.137 que não haviam sido infectados na primeira onda, mas nenhum caso sintomático entre os que já haviam sido infectados antes. Os pesquisadores concluíram que a infecção pelo SARS-CoV-2 parece resultar em proteção contra infecção sintomática em adultos em idade produtiva, ao menos no curto prazo.
6) Immunological memory to SARS-CoV-2 assessed for up to eight months after infection
(artigo científico revisado por pares e publicado na revista Science em 05 de fevereiro de 2021)
Pesquisadores do Instituto La Jolla de Imunologia e da Icahn Escola de Medicina do Hospital Monte Sinai, ambos nos Estados Unidos, analisaram 254 amostras de sangue de 188 pacientes que se recuperaram da Covid-19, incluindo 43 amostras coletadas 6 a 8 meses depois da infecção. A maioria dos participantes (93%) havia tido sintomas leves ou mesmo nenhum sintoma e apenas 7% precisaram ser hospitalizados, alguns dos quais precisaram de UTI. Segundo os autores, essa distribuição da gravidade dos casos foi consistente com a distribuição geral da gravidade da doença sintomática entre os casos de Covid-19 nos EUA. Os cientistas encontraram memória imunológica em 95% dos indivíduos de 5 a 8 meses depois da infecção, concluindo que a imunidade durável contra uma segunda ocorrência da Covid-19 é uma possibilidade para a maioria das pessoas.
(preprint, postado no bioRxiv em 01 de março de 2021)
Esse estudo, desenvolvido em parceria entre pesquisadores do Instituto La Jolla, da Universidade da Califórnia e da Universidade de Gênova, analisou a possibilidade de novas variantes do coronavírus escaparem das respostas imunes dos linfócitos T, tanto em indivíduos que adquiriram essa imunidade naturalmente, após infecção pela cepa ancestral de Wuhan, quanto em indivíduos vacinados. As variantes estudadas foram: B.1.1.7 (Reino Unido), B.1.351 (África do Sul), P.1 (Brasil, Amazonas) e CAL.20C (Califórnia). As vacinas estudadas foram: Moderna e Pfizer. Os resultados do estudo demonstraram que a resposta dos linfócitos T não é substancialmente afetada pelas variantes do coronavírus, tanto nos indivíduos convalescentes quanto nos vacinados. Nos casos em que os linfócitos T já em circulação na corrente sanguínea não previnem uma nova infecção por uma variante do SARS-CoV-2, eles ao menos reduzem a gravidade da Covid-19. O estudo lembra que isso também se observa em relação a outro patógeno respiratório: o influenza (vírus da gripe).
Nota do Cabeça Livre:
Esse estudo está no estágio de pré-publicação (do inglês preprint), ou seja, é um projeto de artigo científico que ainda não foi revisado por pares nem publicado em revista científica. Há quem tenha preconceito contra preprints, mas fato é que muitos artigos científicos já foram preprints antes, e muitos preprints acabam virando artigos científicos.
Se você comparar os links originais na coluna dos doutores Kulldorff e Bhattacharya com os links que eu trouxe na tradução aqui no início, verá que 3 preprints (esse, esse e esse) acabaram virando artigos científicos (na Science, na Nature Immunology e na EClinicalMedicine, respectivamente). Eu já trouxe os links atualizados para as versões mais recentes, que são artigos científicos revisados por pares e publicados em revistas científicas.
8) Robust SARS-CoV-2-specific T cell immunity is maintained at 6 months following primary infection
(artigo científico revisado por pares e publicado na revista Nature Immunology em 05 de março de 2021)
Pesquisadores do Reino Unido coletaram e analisaram amostras de sangue de 100 doadores 6 meses após sua infecção inicial pelo coronavírus, que ocorreu entre março e abril de 2020. Os participantes do estudo tinham de 22 a 65 anos, nenhum precisou ser hospitalizado, 56 apresentaram sintomas, enquanto 44, não (assintomáticos). Linfócitos T específicos contra o SARS-CoV-2 foram detectados no sangue de todos os doadores. A magnitude da resposta imune foi 50% maior em infecções sintomáticas. Os resultados demonstraram que imunidade celular robusta contra o SARS-CoV-2 provavelmente está presente na grande maioria dos adultos 6 meses após infecção, seja ela assintomática, leve ou moderada.
(preprint, postado no medRxiv em 08 de março de 2021)
Pesquisadores israelenses avaliaram a possível ocorrência de reinfecção de Covid-19 entre os pacientes de um grande provedor de saúde em Israel, o Maccabi Healthcare Services, em Tel Aviv, que atende mais de 2,5 milhões de pessoas e é uma amostra representativa (aproximadamente 25%) da população israelense. Nesse estudo de coorte retrospectivo, de 149.735 indivíduos que tiveram um teste PCR positivo documentado entre março de 2020 e janeiro de 2021, apenas 154 tiveram 2 testes PCR positivos com pelo menos 100 dias de intervalo entre um e outro, refletindo uma proporção de reinfecção de 0,1% (1 em 1.000). Desses 73 (47,4%) apresentaram sintomas em ambas as vezes em que testaram positivo.
(artigo científico revisado por pares e publicado na revista EClinicalMedicine em 27 de abril de 2021)
Pesquisadores da Universidade Cornell em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e em Doha, capital do Catar, analisaram todos os testes sorológicos para SARS-CoV-2 realizados no Catar, registrados no banco de dados da Hamad Medical Corporation (HMC). Em um coorte de 43.044 pessoas que testaram positivo para anticorpos contra o SARS-CoV-2, somente 314 (0,7%) vieram a ter pelo menos um teste PCR positivo depois. Entre essas pessoas, o risco de reinfecção foi estimado em 0,17%. Em comparação, em um coorte complementar de 149.923 pessoas que testaram negativo para anticorpos, 3.185 (2,1%) vieram a ter pelo menos um teste PCR positivo depois. Entre essas pessoas, o risco de infecção foi estimado em 3,09%. A eficácia da imunidade adquirida naturalmente por infecção contra a reinfecção foi estimada em 95,2% — semelhante à eficácia reportada para as vacinas da Pfizer e da Moderna. O estudo afirma que é possível haver reinfecção entre pessoas que já foram infectadas, mas é raro. E na reinfecção, quando ocorre, os sintomas são mais leves que na primeira infecção. Um ponto forte desse estudo é que houve participantes acompanhados por até 45 semanas, tempo comparável ao dos estudos sobre vacinas.
11) SARS-CoV-2 infection induces long-lived bone marrow plasma cells in humans
(artigo científico revisado por pares e publicado na revista Nature em 24 de maio de 2021)
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington coletaram amostras de sangue de 77 participantes que estavam se recuperando da Covid-19, a maioria casos leves, mas 6 (7,8%) precisaram ser hospitalizados. As coletas iniciaram aproximadamente 1 mês após o início dos sintomas e foram repetidas em intervalos de 3 meses.
Em 74 dos 77 convalescentes, anticorpos já foram detectados na primeira coleta, 1 mês após o início dos sintomas. Entre 1 e 4 meses, a quantidade de anticorpos decaiu. Mas entre 4 e 11 meses, a quantidade permaneceu relativamente estável, ainda em declínio, mas mais devagar, indicando que possivelmente os anticorpos não eram mais secretados por células plasmáticas de vida curta, presentes no sangue, e sim por células plasmáticas de vida longa, presentes na medula óssea.
Para investigar se esse era o caso, os pesquisadores também coletaram amostras de medula óssea de 19 pessoas em recuperação, entre 7 e 8 meses após a infecção. Novas amostras foram coletadas de 5 dessas 19 pessoas aproximadamente 11 meses após a infecção. Para comparação, amostras de medula óssea também foram coletadas de 11 doadores voluntários que nunca tiveram Covid-19 nem se vacinaram contra a doença.
De fato, encontraram células produtoras de anticorpos em 15 das 19 amostras de indivíduos convalescentes, e em nenhuma das amostras dos 11 indivíduos do grupo controle.
O estudo afirma que as células plasmáticas da medula óssea (BMPCs, na sigla em inglês) de longa vida são uma fonte persistente e essencial de anticorpos protetores. E que indivíduos que se recuperaram da Covid-19 têm um risco substancialmente menor de reinfecção pelo SARS-CoV-2.
Em diversos pontos no artigo, os autores comparam a resposta imune à Covid com a resposta imune à influenza, notando semelhanças nos níveis de anticorpos com o passar do tempo.
12) Necessity of COVID-19 vaccination in previously infected individuals
(preprint, postado no medRxiv em 19 de junho de 2021)
Estudo de coorte retrospectivo conduzido na Cleveland Clinic, em Ohio, nos Estados Unidos, avaliou a necessidade de vacinação contra a Covid-19 em pessoas previamente infectadas com SARS-CoV-2. Participaram do estudo 52.238 funcionários que trabalhavam no hospital em 16 de dezembro de 2020, data em que a vacinação contra Covid-19 começou.
Dos 52.238 funcionários, 2.579 (5%) foram previamente infectados, ou seja, testaram positivo até 42 dias antes do início da vacinação.
Durante o período do estudo, de 16 de dezembro de 2020 a 15 de maio de 2021 (5 meses), foram vacinados 1.220 (47%) dos que foram previamente infectados e 28.855 (58%) dos que não se infectaram previamente. Nesse mesmo período, ocorreram 2.154 infecções com SARS-CoV-2, das quais 2.139 (99,3%) foram entre os que não foram previamente infectados e ainda não haviam se vacinado até o final do estudo, e 15 (0,7%) foram entre os que não foram previamente infectados e já haviam se vacinado.
Curiosamente, não foi observada diferença significativa na incidência de Covid-19 entre participantes previamente infectados e não vacinados, participantes previamente infectados e vacinados, e participantes previamente não infectados e vacinados.
É importante ressaltar que não houve reinfecção por SARS-CoV-2 nos participantes previamente infectados, com ou sem vacinação até o final do estudo.
De acordo com os resultados, a vacinação reduz significativamente o risco de infecção por SARS-CoV-2 entre pessoas que ainda não tiveram Covid-19, mas não necessariamente entre pessoas que já tiveram a doença.
Os autores concluem que é improvável que pessoas que já se infectaram pelo SARS-CoV-2 se beneficiem da vacinação contra a Covid-19. Os autores também sugerem, dada a escassez de vacinas no mundo todo, que sejam priorizadas para aqueles que não foram infectados pelo coronavírus antes.
Os autores também contra-argumentam a recomendação constante no site do CDC para que pessoas que já tiveram Covid-19 mesmo assim se vacinem. Segundo os autores, a justificativa frequentemente fornecida para aplicar a vacina é que é mais seguro ser vacinado do que contrair a doença. Isso certamente é verdade, mas não explica o motivo pelo qual pessoas que já contraíram a doença precisariam se vacinar.
Resumo do resumo
Resumindo, eis o que podemos aprender da leitura desses artigos:
- Quase todas as pessoas que contraíram Covid-19 e se recuperaram — mesmo os casos assintomáticos — desenvolveram anticorpos naturalmente
- A quantidade de anticorpos produzida é tão maior quanto maior é a gravidade da doença
- É possível haver reinfecção entre pessoas que já foram infectadas, mas é raro
- Mesmo nos raros casos em que os anticorpos não previnem a reinfecção, ao menos reduzem a gravidade da doença
- A imunização natural por anticorpos é tão eficaz quanto a imunização por vacina
- Tanto os anticorpos naturais quanto as vacinas protegem contra novas variantes (ou, pelo menos, as conhecidas até o momento)
- A vacinação pode reduzir o risco de infecção entre pessoas que ainda não tiveram Covid-19, mas não necessariamente entre pessoas que já tiveram a doença: vacinar pessoas que já tiveram Covid-19 não lhes traz benefício adicional
- A imunidade natural contra o SARS-CoV-2 dura muito: até o momento, sabe-se que ela dura 1 ano, mas pode ser que dure muito mais, como hoje sabemos que a proteção contra o SARS-CoV-1 dura, pelo menos, 17 anos
Conclusão
Se você parar pra pensar, o que esses artigos trazem é bem razoável, nada surpreendente, extraordinário ou diferente do conhecimento que já tínhamos de outras doenças, como influenza ou SARS. A sensação é que desde 2020 a humanidade esqueceu tudo que já sabia e está redescobrindo a roda. Mas isso é devido ao alarmismo da mídia e de governos, devidamente amparados por pseudo intelectuais, que pintaram a doença como um problema maior do que de fato é e instauraram o medo coletivo que assassina mentes. Claro que toda morte por essa doença é triste, mas exagerar o problema de nada ajuda a resolvê-lo. Pseudo soluções como lockdowns se mostraram inócuas em evitar casos e mortes, e ainda causaram danos colaterais terríveis, como aumento no número de suicídios.
Os doutores Kulldorff e Bhattacharya concluem sua coluna da seguinte forma:
As universidades costumavam ser bastiões da iluminação. Agora, muitas delas ignoram análises básicas de benefício-risco, que são como grampos na caixa de ferramentas dos cientistas; elas negam imunidade à infecção natural; elas abandonam a perspectiva internacional global por um nacionalismo estreito; e elas substituem confiança por coerção e autoritarismo. A obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 ameaça não apenas a saúde pública, mas também o futuro da ciência.
Falando em autoritarismo, aqui no Brasil temos o Projeto de Lei nº 1.674/2021, que, embora não torne a vacinação obrigatória explicitamente, pode torná-la obrigatória na prática. Ele propõe a criação do Certificado de Imunização e Segurança Sanitária (CSS), vulgo “passaporte de vacinação”, que “poderá ser utilizado pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios para suspender […] acesso de pessoas [não vacinadas] a serviços ou locais, públicos ou privados”. Percebe a pressão para que pessoas se vacinem?
Autoritarismo e totalitarismo andam de mãos dadas. E são explicados pelo psicólogo canadense Jordan Peterson em seu livro 12 Regras para a Vida: Um antídoto para o caos:
O que o salvará? O totalitarismo diz, em essência: “Você deve contar com a fé naquilo que já sabe.” Mas não é isso o que salva. O que salva é a disposição de aprender com aquilo que você não sabe.
Hoje aprendemos que as vacinas contra Covid-19 não trazem benefícios para todos — em particular, para os que já contraíram a doença. Para alguns, elas podem apresentar mais riscos que benefícios — em particular, os jovens — e, para estes, elas podem ser mais prejudiciais do que benéficas. Isso não é nada óbvio. Quem tem fé cega em vacinas ou nos “especialistas”, não vai compreender isso. Peterson continua:
O totalitário nega a necessidade do indivíduo de assumir a responsabilidade máxima pelo Ser. […] É isso o que totalitário significa: tudo o que precisa ser descoberto já o foi. Tudo vai se desdobrar precisamente como foi planejado. Todos os problemas desaparecerão para sempre uma vez que o sistema perfeito seja aceito. […] Com a ascensão da racionalidade a partir das cinzas do cristianismo, a grande ameaça dos sistemas totalitários a acompanhou. O comunismo, em particular, era atraente não tanto aos trabalhadores oprimidos, hipoteticamente seus beneficiários, mas aos intelectuais — àqueles cujo orgulho arrogante do próprio intelecto lhes garantia que estavam sempre certos. Porém, a utopia prometida nunca surgiu.
Assim como a Covid-19 nunca desapareceu a cada novo lockdown, e nem vai desaparecer com a vacinação de todos, medidas tão defendidas por “especialistas”.
Aliás, já reparou como a palavra “especialistas” tem sido usada com frequência? Você não precisa pensar, não precisa questionar: os “especialistas” já pensaram por você, já sabem o que é melhor pra você, você só precisa fazer o que eles te indicam. Aqui no Brasil, se você reparar, tem “especialista” a favor de absurdos autoritários como vacinação obrigatória:
Atila Iamarino | Autoritarismo necessário. Ou será preciso calar as vozes antivacina ou tornar a vacina compulsória (@oatila)https://t.co/m2CP7P0cHi
— Folha de S.Paulo (@folha) 12 de janeiro de 2021
Vacinação obrigatória é uma medida autoritária que acho muito válida e importante. Qual o problema de acomodar os dois pensamentos?
— Atila Imunizando (@oatila) 4 de novembro de 2020
Nenhuma medida autoritária é válida, por mais que se possa argumentar que é importante. O pensamento científico e o pensamento autoritário são inconciliáveis. Quem tem bons argumentos, tenta te convencer. Quem não, tenta impor sua opinião.
Com esse texto, eu não quero te convencer a não se vacinar, tampouco a se vacinar. Quero, sim, apresentar informações que podem te auxiliar a decidir o que fazer. Minha opinião, como já disse em outros textos aqui sobre a cloroquina e a ivermectina, e agora digo mais uma vez em relação à vacinação, é que a decisão final deve ser do médico e do paciente. Se estiver em dúvida sobre se vacinar ou não, consulte seu médico. Mas, em última análise, a decisão final deve ser sua: ninguém melhor do que você é capaz de pesar os riscos e benefícios para você mesmo e tomar a melhor decisão para você, seu corpo, sua vida.
Esse é o oposto do pensamento autoritário e totalitário: é o pensamento libertário, que se dispõe a aprender com a singularidade de cada indivíduo, e devolve a você, e tão somente a você, a responsabilidade e as rédeas da sua vida.
Queridos leitores,
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Autor: Cabeça Livre