Cabeça Livre

Por que a Nova Zelândia impôs novo lockdown após UM CASO de Covid em 170 dias

A decisão sem muito pensar da Nova Zelândia de fechar tudo devido a um único caso de Covid-19 pode parecer insana, mas há um método nessa loucura.

A Nova Zelândia registrou seu primeiro caso de Covid-19 transmitido localmente desde fevereiro, o que levou a primeira-ministra Jacinda Ardern a anunciar um lockdown nacional ontem.

Ardern disse a uma sala cheia de repórteres que as autoridades de saúde presumiram que o caso envolvia a variante Delta, altamente contagiosa, embora o sequenciamento do genoma ainda não tivesse sido concluído. Mesmo assim, Ardern disse que as ordens de “nível 4” — as mais fortes do estado — eram necessárias: fechamento de escolas e empresas, com apenas serviços “essenciais” operando.

“Permaneçam em seus locais. Não se reúnam”, disse Ardern. “Não falem com seus vizinhos. Por favor, fiquem em suas bolhas.”

“A Covid não vai passar”

Pandemias são terríveis, e a pandemia de Covid-19 tem sido especialmente terrível. Pela primeira vez na história, governos no mundo todo — imitando a abordagem linha-dura da China — adotaram políticas para quarentenar indivíduos saudáveis.

Um ano e meio depois, o vírus ainda está conosco. E temos dados abundantes — literalmente dezenas de estudos acadêmicos — que mostram que tentativas de mitigar a propagação do vírus por meio de lockdowns são ineficazes e trazem sérias (e muitas vezes letais) consequências indesejadas.

Por esse motivo, muitos chegaram à dolorosa conclusão destacada anteontem pelo The New York Times: “A Covid não vai passar”.

“Não podemos esperar que [o vírus] vá embora de modo que nunca mais teremos que pensar sobre ele”, disse Emily Martin, epidemiologista da Universidade de Michigan, ao Times.

A maioria dos norte-americanos concorda. Uma pesquisa da Gallup de julho descobriu que 59% dos que responderam achavam que pessoas saudáveis ​​deveriam levar a vida normalmente, em comparação com apenas 41% que achavam que pessoas saudáveis ​​deveriam ficar em casa para evitar o vírus.

Dan Partridge, diretor do Departamento de Saúde do Condado de Lawrence-Douglas, no Kansas, disse ao Times que as evidências indicam que as intervenções de saúde pública foram muito ineficazes para justificar uma segunda tentativa.

“Não acredito que uma ordem de saúde pública no futuro será mais eficaz do que foram as do passado — e elas não foram eficazes o suficiente”, disse Partridge ao jornal, acrescentando que ele acredita que ainda é apropriado recomendar uso de máscara e vacinação em vez de decretos e lockdowns.

Lidando com a Covid

O The New York Times não está errado. Parece haver consenso científico de que a Covid não vai desaparecer e não pode ser erradicada como foi, digamos, a varíola.

“Erradicar esse vírus do mundo pra já é muito parecido com tentar planejar a construção de uma rua para a lua. É irreal”, disse Michael Osterholm, epidemiologista da Universidade de Minnesota, em fevereiro à revista Nature.

Porém, essa notícia não é totalmente ruim. Cientistas dizem que os seres humanos provavelmente se tornarão mais resistentes à doença, que pode vir a se tornar simplesmente outra cepa sazonal da gripe, como o que aconteceu com o vírus H1N1 de 2009 (gripe suína).

“Penso que esse vírus estará conosco no futuro”, disse Ruth Karron, pesquisadora de vacinas da Johns Hopkins, ao The Atlantic. “Mas também o influenza está conosco e, na maior parte, a gripe não fecha nossas sociedades. Nós lidamos com isso.”

Karron fez esses comentários ao The Atlantic em agosto — de 2020.

Um caso clássico de teoria da escolha pública

Cientistas e pessoas comuns estão começando a perceber que a Covid-19 não pode ser derrotada por planejadores centrais impondo lockdowns e outras medidas coercitivas. (Na verdade, como a maioria dos casos de Covid se espalham em ambientes fechados, as ordens de “fique em casa” do governo têm o potencial de acabar na verdade piorando os surtos.)

Políticos e burocratas, no entanto, continuam a empurrar medidas draconianas que restringem as liberdades básicas das pessoas a quem deveriam supostamente servir. A Nova Zelândia é apenas o exemplo mais recente. A questão é: por quê?

É improvável que burocratas e políticos sejam simplesmente menos inteligentes (embora alguns sejam, é claro). Uma explicação muito mais provável é que eles estão operando sob um conjunto diferente de incentivos do que as pessoas às quais servem.

O economista James M. Buchanan, vencedor do Prêmio Nobel, apontou que os políticos, como todas as demais pessoas, tomam decisões com base nos seus próprios interesses e incentivos. Essa ideia é conhecida como Teoria da Escolha Pública, um campo da economia que analisa o comportamento político. Embora muitos aceitem a ideia de que os políticos estão motivados a promover “o bem comum”, Buchanan argumentou que eles não se tornam anjos altruístas ao conseguir um mandato.

Para muitos, esse é um conceito difícil de engolir — especialmente para os que realmente acreditam em grandes governos — mas ajuda a explicar por que políticos e burocratas continuam a impor lockdowns prejudiciais que se mostraram terrivelmente ineficazes em domar o vírus.

É importante lembrar que política é principalmente sobre autopreservação. E embora impor restrições prejudiciais possa parecer irracional, não impô-las também acarreta sérios riscos — riscos políticos. Basta olhar para os líderes criticados na Suécia, em Dakota do Sul e na Flórida por não imporem lockdowns rigorosos e abrangentes.

Nova York pode ter a segunda maior taxa de mortalidade por Covid nos EUA, e sua ordem para que asilos aceitassem idosos ainda em recuperação da Covid pode ter resultado na morte desnecessária de milhares, mas o governador Andrew Cuomo foi aclamado como um herói por suas políticas rígidas. Ele assinou um contrato de 5 milhões de dólares para um livro, recebeu um Emmy Award e foi convidado para o The Late Show com Stephen Colbert — antes da sua queda, que ocorreu logo em seguida (e que, é importante ressaltar, resultou principalmente de alegações de má conduta sexual, e não de suas políticas mortais).

Compare o tratamento que Cuomo recebeu com o de Anders Tegnell, autoridade de saúde pública da Suécia, ou da governadora de Dakota do Sul, Kristi Noem, que se recusaram a impor lockdowns.

A decisão da primeira-ministra Ardern de fechar a Nova Zelândia por causa de um único caso de Covid-19 pode parecer insana — até a CNN pareceu não acreditar — mas há um método nessa loucura. E está enraizado na teoria da escolha pública.

Autor: Jon Miltimore

Jonathan Miltimore é o editor-chefe da FEE.org. Seus escritos/reportagens tem sido tema de artigos na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.

Ele assina textos nos seguintes meios de comunicação: Newsweek, The Washington Times, MSN.com, The Washington Examiner, The Daily Caller, The Federalist, Epoch Times.

Tradutor: Cabeça Livre

Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Jon Miltimore em 17 de agosto de 2021 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).

O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:

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