Nos últimos meses, nossos estimados especialistas em saúde pública tiveram uma jornada difícil na defesa da ciência supostamente estabelecida por trás de lockdowns e de leis que obrigam o uso de máscaras.
O conselheiro sênior da Casa Branca para a Covid-19, Andy Slavitt, foi o primeiro a ser nocauteado em meados de fevereiro, quando se reduziu a repetir bordões vazios sobre distanciamento social, depois de não conseguir explicar por que uma Flórida completamente aberta não tinha números piores do que uma estritamente fechada Califórnia. Em seguida, veio o queridinho da mídia, Dr. Anthony Fauci, que tem tido uma série de aparições públicas particularmente embaraçosas ultimamente. Durante uma recente entrevista ao MSNBC, Fauci se mostrou confuso e não tinha “muita certeza” do motivo pelo qual o Texas estava apresentando redução no números de casos e mortes por um mês inteiro, depois de suspender suas leis que ordenavam uso de máscaras e limitações de capacidade. Além disso, durante uma audiência com o deputado Jim Jordan, Fauci se esquivou completamente da pergunta de Jordan sobre por que o Texas tem taxas de casos mais baixas do que alguns dos mais notáveis estados pró-lockdown. Fauci, recusando-se a responder à pergunta, simplesmente respondeu que ter um lockdown não é a mesma coisa que obedecer a um lockdown. Nisso, Fauci tem razão. Mas ele indiretamente afirmou que os cidadãos de Nova York e Nova Jersey, dois notórios estados pró-lockdown, estavam obedecendo menos às medidas de contenção do que um estado que tinha, e ainda tem, praticamente nenhuma medida. Uma rápida conferida nos relatórios de mobilidade da Covid-19 do Google enterra essa alegação contra-intuitiva.
A agenda da mídia norte-americana
Quando governos e meios de comunicação ao redor do mundo conseguiram capturar audiências alimentando o medo da Covid-19, os dados que deveriam tão facilmente amenizar esse medo tornaram-se irrelevantes. E entrevistas como as mencionadas acima são simplesmente deixadas de lado em favor de uma lealdade, concebida do medo, aos “moralmente superiores” lockdowns, toques de recolher, mandatos de máscara e outras tantas medidas impostas pelos governos. Essa abordagem “assustadora e direta”, como descrita corretamente por Bill Maher, é o cassetete que impõe a obediência ao estado.
No que diz respeito a assustar os cidadãos, o Projeto Veritas divulgou filmagens que mostram um funcionário da CNN explicando como a rede de TV manipula as estatísticas de mortos por Covid-19 para direcionar os números. Especialmente vergonhosa foi a admissão do diretor técnico da CNN, Charlie Chester, de que a rede não gosta de relatar taxas de recuperação porque “isso não é assustador… se sangra, lidera”.
A CNN não está sozinha no negócio de fomentar o medo. Graças ao excedente de meios de comunicação dos Estados Unidos dispostos a produzir uma quantidade desproporcional de manchetes negativas sobre a Covid-19 — cerca de 90% das notícias de Covid-19 nos Estados Unidos são negativas em comparação com 51% internacionalmente — é alguma surpresa que quase 70% dos democratas, 51% dos republicanos e 60% dos independentes achem que as chances de alguém ser hospitalizado com Covid-19 variam de 20% a mais de 50%? (quando, na verdade, a taxa de hospitalização varia de 1% a 5%)
Onde está a correlação?
O pânico induzido pelo governo e pela mídia nos cegou para os dados, que nos últimos quinze meses têm consistentemente mostrado zero correlação entre o momento, a rigidez e a duração das medidas de contenção e a incidência de Covid-19. Em nenhum lugar poderia essa falta de correlação ser mais prevalente do que entre lockdowns e uso de máscara.
Deixando de lado as consequências desastrosas e mortais dos lockdowns impostos pelos governos — veja aqui, aqui e aqui — a evidência da capacidade dos lockdowns de mitigar a mortalidade da Covid-19 permanece escassa.
Olhando para os Estados Unidos, podemos abordar a crença amplamente difundida de que estados com lockdowns mais rígidos verão menos mortes por Covid-19, plotando a média dos índices de restrição de cada estado nos últimos quinze meses versus o número total de mortes por Covid-19 em cada estado. Para obter a média do índice, o autor calculou a média dos dados da Escola de Governo Blavatnik da Universidade de Oxford — essa fonte classificou cada estado pelo tempo médio em que permaneceu com um índice de rigidez superior a 60 até meados de dezembro de 2020 — e da WalletHub, que também classificou cada estado por rigidez usando uma média ponderada de várias medidas de janeiro de 2021 em diante. Agora, se as palestras hipócritas dos especialistas em saúde pública do ano passado têm alguma base científica por trás delas, devemos ver uma correlação negativa muito forte entre a rigidez das restrições dos estados e o total de mortes por Covid-19.
Fontes: números de mortes obtidos do NYTimes Covid-19 Data Bot. Índices de restrição do NYTimes Covid-19 Data Bot (até dezembro de 2020); de Adam McCann, “States with the Fewest Coronavirus Restrictions”, WalletHub (desde janeiro de 2021); e de Laura Hallas, Ariq Hatibie, Saptarshi Majumdar, Monika Pyarali e Thomas Hale, “Variation in US States’ Responses to COVID-19” (working paper da Escola de Governo Blavatnik nº BSG-WP-2020/034, dezembro de 2020). Dados obtidos em 07 de junho de 2021.
Ao contrário do que especialistas em saúde pública vêm nos dizendo há mais de ano, não há correlação entre a rigidez das medidas de lockdown e o total de mortes por Covid-19. Na verdade, notórios estados pró-lockdown, como Nova York e Nova Jersey, têm alguns dos piores números de mortalidade até hoje. Culpar a desobediência por esses pobres resultados é claramente ridículo, considerando que estados sem restrições, como Texas e Flórida, têm muito menos mortes do que Nova York e Nova Jersey. Na verdade, é possível ver que todos os estados que retiraram seus mandatos de máscara ou todas as restrições contra Covid-19 completamente estão se saindo melhor que Nova York e Nova Jersey em termos de mortes.
A mesma falta de correlação pode ser observada ao comparar a rigidez média do lockdown com o número total de pacientes hospitalizados que tiveram suspeita ou confirmação de Covid-19. A título de esclarecimento, o autor somou o número atual de pacientes internados a cada dia para chegar ao total de pacientes internados. Isso resultará em números totais ligeiramente inflados, uma vez que os pacientes podem passar mais de um dia no hospital. Mas, tendo aplicado o mesmo método de agregação em todos os estados, a métrica de hospitalização total ainda fornece uma avaliação precisa das hospitalizações por Covid-19 em cada estado.
Fontes: dados sobre hospitalizações obtidos do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA. Índices de restrição do NYTimes Covid-19 Data Bot (até dezembro de 2020); de Adam McCann, “States with the Fewest Coronavirus Restrictions”, WalletHub (desde janeiro de 2021); e de Laura Hallas, Ariq Hatibie, Saptarshi Majumdar, Monika Pyarali e Thomas Hale, “Variation in US States’ Responses to COVID-19” (working paper da Escola de Governo Blavatnik nº BSG-WP-2020/034, dezembro de 2020). Dados obtidos em 07 de junho de 2021.
Olhando para o mundo, os dados continuam a expor os lockdowns como a maior falha de saúde pública na história da humanidade. Plotando a rigidez do lockdown versus o número total de mortes por Covid-19 em cada país revela, mais uma vez, zero correlação entre as duas variáveis.
Fonte: dados sobre mortes e rigidez dos lockdowns obtidos do Our World in Data em 07 de junho de 2021.
Analisando mais que um ano de dados que mostram resultados muito diferentes de mortalidade e hospitalização para 50 estados com 50 níveis de lockdowns muito diferentes, assim como resultados drasticamente diferentes de mortalidade para 166 países com 166 diferentes níveis de lockdowns, só podemos nos maravilhar que tal política ineficaz e mortal possa ser recomendada por especialistas em saúde pública.
Se os lockdowns falharam em mitigar a disseminação de Covid-19 nos Estados Unidos, assim como em dezenas de países ao redor do mundo — lembre-se: lockdowns falham sem nem mesmo levar seus custos em consideração — é possível que o uso de máscara seja a peça que faltava no quebra-cabeça da mitigação.
Não seria justo com o leitor postar literalmente centenas de gráficos que mostram resultados exatamente opostos aos que a mídia gostaria que o leitor esperasse depois que regiões removem ou instituem mandatos de máscara — Ian Miller tem feito mais trabalho nesse sentido do que qualquer outra pessoa. Também não seria justo alegar que ordens para usar máscaras e uso de máscaras são sinônimos. Contudo, com base nas reações aos estados levantando seus mandatos de máscara, não acredito que qualquer proponente do uso de máscara seriamente esperaria o mesmo nível de uso caso os mandatos fossem suspensos. Mesmo assim, a alegação de que o uso de máscara se correlaciona negativamente com casos e mortes é facilmente refutada com uma rápida olhada nos dados. Tendo em conta os dados disponíveis, voltaremos a olhar apenas para os 50 estados norte-americanos.
Fontes: dados sobre casos e mortes obtidos do NYTimes Covid-19 Data Bot. Dados sobre o uso de máscaras do COVIDcast do Grupo Delphi. Dados obtidos em 07 de junho de 2021.
Mesmo que as linhas de tendência viajem na direção exatamente oposta da que nossos especialistas em saúde pública gostariam que esperássemos, as correlações são estatisticamente insignificantes. Observe que o gráfico acima cobre apenas o período de aproximadamente 4 meses desde 9 de fevereiro de 2021, que foi quando o COVIDcast começou a reportar as estatísticas de uso de máscara para cada estado. Portanto, o autor incluiu apenas os casos e óbitos que ocorreram nesse período de quase 4 meses. Apesar desse período de tempo truncado, 4 meses deveriam ter sido mais do que suficientes para expor qualquer tipo de correlação significativa entre o uso de máscaras e casos e mortes.
Vale observar que os estados de Rhode Island e Nova York, cada um com algumas das maiores taxas de uso de máscaras e de lockdown restrito no país, estão liderando o grupo com alguns dos maiores aumentos de casos desde o início de fevereiro. Além disso, na maior parte dos 4 meses desde o início de fevereiro, os 10 estados com a maior taxa de uso de máscara tiveram pior desempenho em ambos casos e mortes do que os 10 estados com a menor taxa de uso de máscara.
Fontes: dados sobre casos e mortes obtidos do NYTimes Covid-19 Data Bot. Dados sobre o uso de máscaras do COVIDcast do Grupo Delphi. Dados obtidos em 07 de junho de 2021.
Lembre-se de que não estamos medindo a quantidade de regras que simplesmente dizem que você deve usar uma máscara. O que está sendo medido é a porcentagem de pessoas que realmente usam máscaras em público em cada estado. É muito difícil olhar para as linhas de tendências mostradas acima e argumentar não apenas a favor da continuação dos mandatos das máscaras, mas também a favor do uso de máscaras em si.
Algumas pessoas podem questionar o fato de que as linhas de tendências acima cobrem apenas alguns meses desde fevereiro. Vamos supor, a fim de termos uma visão mais completa, que as linhas de tendências de uso de máscaras sejam consistentes para cada estado desde o início da pandemia. Também podemos expandir nosso filtro para os 15 estados com as maiores e menores taxas de uso de máscara, para contabilizar o movimento de alguns estados para dentro e para fora dos 10 estados com maiores e menores taxas.
Fontes: dados sobre casos e mortes obtidos do NYTimes Covid-19 Data Bot. Dados sobre o uso de máscaras do COVIDcast do Grupo Delphi. Dados obtidos em 07 de junho de 2021.
Em termos de casos, de abril a junho de 2020, os estados com as menores taxas de uso de máscaras tiveram desempenho superior aos estados com as maiores taxas de uso de máscaras. Essa tendência foi revertida de junho de 2020 a janeiro de 2021 e, em seguida, revertida novamente em favor dos estados com a menor taxa de uso de máscara. Apenas recentemente, em junho de 2021, a tendência mudou de novo e desde então tanto os estados com as menores taxas quanto os estados com as maiores taxas de uso de máscaras tiveram desempenho praticamente igual.
Em termos de mortes, os estados com as menores taxas de uso de máscaras tiveram desempenho superior aos estados com as maiores taxas de uso de máscaras de abril até julho de 2020. De julho de 2020 a fevereiro de 2021, as tendências de mortalidade foram mais favoráveis aos estados com as maiores taxas de uso de máscara. Mas depois de fevereiro de 2021, as tendências de mortalidade tornaram-se novamente mais favoráveis aos estados com as menores taxas de uso de máscara. Novamente, se estivermos assumindo taxas bastante consistentes de uso de máscara durante toda a pandemia, ao mesmo tempo em que assumimos que a ciência por trás das máscaras está realmente estabelecida, é muito difícil explicar qualquer período de tempo em que estados com as menores taxas de uso de máscara estavam se saindo melhor do que os estados com as maiores taxas.
A ciência supostamente estabelecida por trás dos lockdowns e dos mandatos de máscaras sempre teve sérios problemas, mas tem ainda mais agora. Mesmo deixando completamente de lado o incrível número de mortos pelos lockdowns, seus inúmeros custos sociais e psicológicos, a negação totalitária de nossas liberdades mais básicas, e a dizimação de dezenas de milhares de pequenas empresas, ainda assim os lockdowns seriam um fracasso miserável de acordo com quase todas as métricas relativas à Covid-19 que temos disponíveis. Embora, para ser justo, os lockdowns foram bem sucedidos em deixar nossas cidades mais silenciosas. Mas, fora isso, os dados continuam a negar que tanto os lockdowns quanto os mandatos de máscara sejam ferramentas efetivas para mitigar a disseminação da Covid-19.
Autor: Anthony Rozmajzl
Anthony se formou no Grove City College em 2018 com um Bacharelado em Artes (B.A.) em Economia. Ele vem estudando a Escola Austríaca de Economia há mais de 8 anos e é um campeão do Libertarianismo Rothbardiano. Durante o dia, Anthony trabalha como Analista de Qualidade de Software para uma empresa de software ERP.
Nota do Cabeça Livre:
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Nota do Cabeça Livre:
Esse texto é uma tradução autorizada da matéria originalmente escrita por Anthony Rozmajzl em 04 de maio de 2021 para o Mises Institute.
O texto original, em inglês, pode ser conferido aqui:
Os gráficos mostrados aqui são atualizados (07 de junho) em relação aos da matéria original (28 de abril) e me foram fornecidos pelo próprio autor, que também me auxiliou com as atualizações necessárias no texto para corresponder aos gráficos atualizados. Agradeço imensamente pelo seu tempo e cooperação.