O CDC chegou atrasado na “festa” da imunidade natural, e muitos norte-americanos sofreram por causa disso.
Em agosto de 2021, a Science Magazine, uma revista científica revisada por pares da Associação Americana para o Avanço da Ciência, destacou pesquisas inovadoras de Israel que derrubaram o establishment da saúde pública.
A pesquisa, que se baseou em um banco de dados que envolveu cerca de 2,5 milhões de israelenses e foi liderada por Tal Patalon, chefe do Centro de Pesquisa e Inovação KSM da Maccabi Healthcare Services, e pelo deputado Sivan Gazit, descobriu que a infecção anterior por Covid-19 conferiu proteção consideravelmente mais forte e mais duradoura contra a variante Delta do que as vacinas.
“Os dados recém-divulgados mostram que as pessoas que já tiveram uma infecção por SARS-CoV-2 estavam muito menos propensas do que as nunca infectadas e vacinadas a contrair a variante Delta, desenvolver sintomas ou ser hospitalizadas com Covid-19 grave”, escreveu Meredith Wadman, redatora da Science.
Wadman também observou que a pesquisa mostrou que “pessoas nunca infectadas que foram vacinadas em janeiro e fevereiro tinham, em junho, julho e na primeira quinzena de agosto, seis a 13 vezes mais chances de serem infectadas do que pessoas não vacinadas” que haviam tido Covid anteriormente.
“É um exemplo clássico de como a imunidade natural é realmente melhor do que a vacinação”, disse Charlotte Thålin, médica e pesquisadora de imunologia do Hospital Danderyd e do Instituto Karolinska, à Science.
A morte das leis que obrigam a vacinação?
O momento dessas descobertas foi importante.
No verão de 2021, muitos países no mundo todo, bem como cidades dos Estados Unidos, estavam em processo de implementar passaportes de vacina. Outros governos, em nível nacional, estadual e local, estavam considerando medidas coercitivas para obrigar as pessoas a se vacinarem, uma política eticamente duvidosa que contraria um direito humano básico: a autonomia corporal.
Os resultados do estudo de Israel deveriam ter levado as autoridades de saúde pública a reconsiderar essas políticas. O professor da Escola de Medicina de Harvard, Martin Kulldorff, observou que as descobertas pareciam destruir a lógica das leis que obrigam a vacinação.
“A infecção prévia por Covid (muitos na classe trabalhadora) fornece melhor imunidade do que as vacinas (muitos profissionais)”, escreveu Kulldorff, epidemiologista e bioestatístico que estuda doenças infecciosas há décadas, “portanto, os mandatos de vacinas não são apenas um absurdo científico, eles também são discriminatórios e antiéticos.”
Apesar dessas descobertas e de outras evidências claras e convincentes de que a imunidade natural oferecia proteção poderosa contra a Covid, os governos continuaram a aprovar e fazer cumprir mandatos.
Em dezembro, o presidente Biden impôs regras rigorosas de vacinação para funcionários federais, corporações e profissionais de saúde que a CNN estimou que poderiam ser aplicadas a 100 milhões de norte-americanos.
“Temos as ferramentas para combater o vírus se nos unirmos para usar essas ferramentas”, disse Biden.
A política significava que muitos trabalhadores dos EUA seriam demitidos se não se vacinassem, mesmo que já tivessem contraído Covid anteriormente. (Vale a pena notar que, enquanto fazia campanha para presidente, Biden disse “Não penso que [a vacinação] deveria ser obrigatória. Eu não exigiria que fosse obrigatória.”)
Enquanto a Suprema Corte bloqueou partes da ordem de vacina de Biden, outras partes ainda estão em vigor. Além disso, vários governos estaduais e locais também aprovaram políticas de vacinação coercitiva por causa das recomendações do CDC.
Um tom diferente?
Nove meses depois, o CDC está cantando uma música muito diferente.
Ao divulgar novas diretrizes pandêmicas na semana passada, a epidemiologista do CDC, Greta Massetti, explicou aos repórteres o que muitos vêm dizendo há mais de um ano: tanto as vacinas quanto as infecções anteriores oferecem proteção contra a Covid sintomática grave.
“Tanto a infecção prévia quanto a vacinação conferem alguma proteção contra a forma grave da doença”, disse Massetti aos repórteres. “E, portanto, realmente faz mais sentido que nossa orientação ou nossas recomendações não diferenciem com base no estado de vacinação neste momento”.
Por causa disso, as novas diretrizes do CDC tratam da mesma forma pessoas vacinadas e não vacinadas. Menos de um ano depois de declarar a Covid “uma pandemia dos não vacinados”, o governo Biden está construindo uma campanha de médio prazo em torno do “retorno triunfante à normalidade”, reporta o The Atlantic.
We won.
— Hannah Cox (@HannahDCox) 11 de agosto de 2022
An important reminder to always be ungovernable when they come for your civil liberties. pic.twitter.com/rTMGpnrNC8
Criamos um grupo interessado na pandemia
Devemos ser gratos que as políticas do CDC finalmente alcançaram a ciência, e que os epidemiologistas estatais estão agora reconhecendo a ciência básica da imunidade natural.
No entanto, a mudança também convida a perguntas, a mais importante sendo: Por que demorou tanto?
Tínhamos evidências científicas convincentes há mais de um ano de que pessoas com imunidade natural eram muito menos propensas a desenvolver Covid sintomática com a doença prévia do que pessoas vacinadas que nunca tiveram a doença.
Ainda assim, os norte-americanos que não foram vacinados foram demitidos, envergonhados e ostracizados porque as autoridades de saúde pública se recusaram a reconhecer o que reconhecem hoje: a imunidade natural protege os seres humanos. Então, por que levou um ano para as autoridades de saúde pública reconhecerem a “ciência dos livros didáticos”?
Não há resposta fácil para essa pergunta. Uma hipótese é que o governo criou incentivos perversos, o que os críticos da abordagem do governo, como o epidemiologista de Stanford, Dr. Jay Bhattacharya, chamam de “o Complexo Industrial da Covid”.
“Criamos um grupo interessado em manter a pandemia”, disse Bhattacharya em entrevista recente à jornalista britânica Lucy Johnston.
"We've created Billionaires - I call it the Covid Industrial Complex."
— sketchnoteson (@sketchnoteson) 16 de agosto de 2022
"We've created an interest group to keep the pandemic going. Their argument is 'we're keeping people safe when in fact we're just keeping the anxiety going."@DrJBhattacharya
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Isso pode parecer cínico, mas a economia nos ensina a olhar para a política sem romance.
A Pfizer tem um valor de mercado de 275 bilhões de dólares e, de março de 2020 a dezembro de 2021, o preço das suas ações (ticker PFE) mais que dobrou – de US$ 26,02 para US$ 59,48 por ação. O crescimento da Moderna foi ainda mais impressionante. Antes da pandemia, suas ações (MRNA) eram negociadas a US$ 19. Em setembro de 2021, o preço das suas ações ultrapassou US$ 449, um aumento de mais de 2.000%.
Valorização das ações da Pfizer (ticker PFE). Fonte do gráfico: Robinhood.
Valorização das ações da Moderna (ticker MRNA). Fonte do gráfico: Robinhood.
Não é exagero dizer que bilhões de dólares estavam em jogo sobre se as vacinas Covid seriam obrigatórias ou voluntárias, o que pode explicar por que a Pfizer sozinha gastou mais de 10 milhões de dólares em lobby em 2021 e ainda mais em 2020.
Sugerir que algo tão cru quanto incentivos financeiros poderia ter desempenhado um papel (ainda que pequeno) na política da Covid pode chocar as pessoas, mas é importante lembrar que forçar as pessoas a comprar ou usar bens (ostensivamente para seu próprio benefício) é verdadeiramente uma tática já bem testada do capitalismo de compadrio.
Quando as pessoas pensam em capitalismo de compadrio, muitas vezes pensam em subsídios governamentais para megacorporações, mas esse dificilmente é o único método que o Grande Governo e as Grandes Empresas usam para benefício próprio.
Frédéric Bastiat, economista francês do século XIX, observou certa vez, em seu ensaio O Estado, que “o Estado é a grande ficção através da qual todo mundo se esforça para viver às custas de todo mundo”. Diferente de bandidos comuns, ladrões de rua ou saqueadores, no entanto, Bastiat explicou que os atores estatais e seus aliados furtam pessoas por meios legais e encontram formas elaboradas de fazê-lo – como fazer lobby junto a legisladores para obrigá-las a usar produtos que elas não querem usar, dobrando suas receitas no processo e enriquecendo os acionistas.
“Quando a pilhagem se torna um modo de vida para um grupo de homens em uma sociedade, com o passar do tempo eles criam para si um sistema legal que a autoriza e um código moral que a glorifica”, observou Bastiat no livro Sofismas Econômicos (Economic Sophisms).
Nada disso é para dizer que as vacinas não são eficazes ou não oferecem proteção contra a Covid. Elas fazem isso sim, e as evidências sugerem que as vacinas dão ainda mais proteção às pessoas que já tiveram Covid (embora, como todas as vacinas, elas não venham sem riscos).
Mas a decisão de tomar uma vacina deve pertencer apenas a uma pessoa: o indivíduo.
E o fato de o CDC – uma agência atormentada por erros ao longo da pandemia, de acordo com sua própria diretora – ter demorado tanto para reconhecer a ciência básica da imunidade natural mostra precisamente por que decisões médicas importantes devem ser tomadas por indivíduos, não burocratas ou interessados.
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Autor: Jon Miltimore
Jonathan Miltimore é o editor-chefe da FEE.org. Seus escritos/reportagens tem sido tema de artigos na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.
Ele assina textos nos seguintes meios de comunicação: Newsweek, The Washington Times, MSN.com, The Washington Examiner, The Daily Caller, The Federalist, Epoch Times.
Tradutor: Daniel Peterson
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Jon Miltimore em 22 de agosto de 2022 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em: