Cabeça Livre

Dois novos estudos médicos mostram como obrigar o uso de máscaras falhou — e pode ter prejudicado inúmeras pessoas

Um par de estudos recentes sugere que leis que obrigaram o uso de máscara foram terrivelmente ineficazes em reduzir a propagação da Covid, mas trouxeram claros danos à saúde.

Tenho um amigo, um sujeito muito esperto, que no início da pandemia começou a usar máscara. Na época, as máscaras não eram recomendadas pelas autoridades de saúde, muito menos obrigatórias.

Não pensei muito sobre a decisão dele. Não me afetou. Eu era o que você pode chamar de agnóstico de máscara. Talvez as máscaras fossem benéficas, talvez não.

À medida que a pandemia continuava, no entanto, eu me encontrava cada vez mais no “campo anti-máscara”. Eu não passei a de repente invejar meu amigo ou pensar que ele era um tolo por usar máscara, mas estava incomodado que decisões pessoais haviam se tornado decisões públicas.

Para piorar a situação, uma espécie de dogma da máscara havia se instalado. Questionar publicamente os benefícios de usar máscara ou apontar possíveis efeitos adversos era proibido, um crime punível com banimento das redes sociais ou lista negra de verificadores de fatos. Isso não me impediu de escrever sobre máscaras – veja aqui, aqui e aqui – mas fui muito, muito cuidadoso ao fazê-lo.

Como a maioria das pessoas, eu não sabia o quão eficazes eram as máscaras em prevenir a propagação da Covid. Porém, eu tinha dúvidas. Dúvidas essas que eram suportadas por uma abundância de pesquisas científicas e especialistas em saúde pública.

Igualmente importante, como estudante de economia, entendia que todas as ações vêm com compensações (tradeoffs). (Alguns especialistas em saúde pública aprenderam essa lição da maneira mais difícil.) Quais foram essas compensações? E quem poderia determinar se o benefício das máscaras para a saúde pública superava as consequências adversas?

Não tivemos muito tempo para essas questões em 2020, em grande parte porque poucas pessoas queriam considerá-las. Os burocratas da saúde pública certamente não quiseram. Eles tinham seu plano e não estavam interessados em explorar ciência que pudesse minar suas diretrizes. Três anos depois, no entanto, surgiram pesquisas que ajudam a responder a essas perguntas.

Um estudo publicado no início deste mês na Frontiers in Public Health conduziu uma revisão sistemática de mais de 2.000 estudos sobre os efeitos adversos do uso de máscaras, encontrando “efeitos significativos tanto nas máscaras cirúrgicas quanto nas N95”.

Como era de se esperar, cobrir os orifícios respiratórios de seres humanos por longos períodos resulta em consequências para a saúde, entre elas: diminuição da saturação de oxigênio e aumento da frequência cardíaca, pressão arterial, níveis de CO2 no sangue e temperatura da pele, além de tonturas, distúrbios da voz, dores de cabeça e dispneia (dificuldade respiratória).

Os autores do estudo disseram que é imperativo que essas descobertas sejam consideradas em futuras políticas de saúde pública.

“Os efeitos colaterais da máscara facial devem ser avaliados (risco-benefício) contra as evidências disponíveis de sua eficácia contra transmissões virais”, concluíram os autores. “Na ausência de fortes evidências empíricas de eficácia, o uso de máscaras não deve ser obrigatório e muito menos imposto por lei.”

Agora nós conhecemos algumas das consequências negativas de usar máscaras (e das leis que as obrigam). Mas e a eficácia delas em reduzir a propagação da Covid?

Acontece que um grande estudo realizado no Reino Unido, que examinou um dos maiores hospitais de Londres por 10 meses durante a altamente contagiosa variante Omicron, lança uma nova luz sobre essa questão.

Embora a pesquisa completa ainda não tenha sido publicada (dizem as autoridades que será apresentada no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas de 2023, que está ocorrendo agora em abril), os autores do estudo deixam claro que a exigência do uso de máscara por parte do hospital fez “nenhuma diferença perceptível”.

“Nosso estudo não encontrou evidências de que obrigar a equipe a usar máscara afeta a taxa de infecção hospitalar por SARS-CoV-2 com a variante Omicron”, disse o autor principal, Dr. Ben Patterson, da St. George’s University Hospitals NHS Foundation Trust, em Londres.

“O resultado final é que suspender a obrigatoriedade da máscara no hospital não levou a um aumento mensurável nas infecções por Covid adquiridas no hospital”, disse Jeanne Noble, professora associada de Medicina de Emergência da Universidade da Califórnia, em São Francisco, à Healthline, acrescentando que a pesquisa foi mais robusta do que muitos ensaios observacionais anteriores.

Em outras palavras, os dois estudos mais recentes sobre o uso de máscaras sugerem que as máscaras foram terrivelmente ineficazes em reduzir a propagação da Covid, mas trouxeram claros danos à saúde. Ainda assim, países em todo o mundo e estados nos Estados Unidos exigiram seu uso por meses, senão anos.

Como algo assim acontece? A Economia dá uma pista.

Em seu discurso do Prêmio Nobel de 1974, Friedrich Hayek falou sobre os perigos de agir com a “pretensão do conhecimento”. De certa forma, esse conhecimento era pior do que nenhum conhecimento, porque levava os funcionários do governo e especialistas a acreditar que possuíam conhecimento suficiente para projetar com sucesso a sociedade.

Como muitos notaram, a história mostrou que Hayek estava certo em se preocupar. E por décadas historiadores e economistas destacaram o alerta de Hayek sobre essa “arrogância fatal” enraizada na pretensão do conhecimento, enfatizando a importância de demonstrar “aos homens o quão pouco eles realmente sabem sobre aquilo que imaginam que podem planejar”.

Menos, no entanto, notaram um parágrafo específico do discurso de Hayek, no qual ele observa o que leva funcionários públicos a agir com conhecimento insuficiente.

O conflito entre o que, no atual estado de espírito, o público espera da ciência para satisfazer os anseios populares e o que ela realmente pode oferecer é uma questão muito séria, porque ainda que todos os verdadeiros cientistas reconheçam as limitações do que são capazes de fazer no campo das ciências humanas, contanto que o público espere mais, sempre haverá alguns que aparentarão, e talvez honestamente creiam, que podem fazer mais do que lhes é possível para responder às demandas populares.

Esse parágrafo descreve perfeitamente o fenômeno testemunhado durante a pandemia.

Os funcionários públicos claramente não tinham conhecimento suficiente para tomar decisões racionais para centenas de milhões de pessoas. Mas tiveram que fingir que tinham (e talvez alguns realmente acreditavam que tinham, como sugere Hayek) porque essa era a demanda popular. Tanto conservadores quanto progressistas influentes acreditaram amplamente na ficção de que as autoridades de saúde pública poderiam planejar racionalmente a sociedade – por meio de leis que obrigavam o uso de máscara, lockdowns e distanciamento social – para proteger a humanidade do coronavírus.

A pandemia não foi apenas uma falha da ciência. Também foi uma evidência clara de que o governo, livre de suas limitações constitucionais e racionais, cresceu demais, assim como nossas expectativas em relação a ele.

Autor: Jon Miltimore

Jonathan Miltimore é o editor-chefe da FEE.org. (Siga-o no Substack.)

Seus escritos/reportagens tem sido tema de artigos na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.

Ele assina textos nos seguintes meios de comunicação: Newsweek, The Washington Times, MSN.com, The Washington Examiner, The Daily Caller, The Federalist, Epoch Times.

Tradutor: Daniel Peterson

Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Jon Miltimore em 17 de abril de 2023 para a Foundation for Economic Education (FEE, “Fundação para Educação Econômica”).

O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:

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