Crédito da imagem: Tyson Moultrie / Unsplash
Medidas de “segurança” inúteis mas onerosas (que na verdade visam apenas tranquilizar as pessoas) não são mais exclusivas dos aeroportos. Quando a pandemia de Covid-19 começou, não entendíamos completamente como o vírus se espalhava. Mas, à medida que aprendemos mais sobre como ele se espalha — e como não se espalha — nossas práticas de segurança contra a pandemia não foram adaptadas.
Neste momento, muitas supostas políticas de higiene contra a Covid-19 são essencialmente um “teatro de segurança” que nem o do aeroporto. Mas elas não são apenas inúteis. Novos estudos sugerem que algumas supostas medidas preventivas, como “escudos” de plástico erguidos entre as pessoas, podem na verdade piorar a disseminação da Covid-19.
Todos nós os vimos. Eles estão no supermercado, no caixa do banco, ou mesmo em muitas escolas separando professores de alunos. Em bares, separando a banda da plateia. Mas especialistas dizem que essas barreiras não estão funcionando.
“Cientistas que estudam aerossóis, fluxo de ar e ventilação dizem que muitas vezes as barreiras não ajudam e provavelmente dão às pessoas uma falsa sensação de segurança”, reporta o New York Times. “E às vezes as barreiras podem piorar as coisas”.
De fato, um estudo publicado em junho na revista Science mostrou que na verdade o uso de proteções de mesa, separando os alunos nas salas de aula, pouco reduz, ou mesmo aumenta o risco de disseminação da Covid-19. Por que será que isso acontece?
“Se você tem uma floresta de barreiras em uma sala de aula, ela vai interferir na ventilação adequada dessa sala”, disse ao Times a professora de engenharia da Virginia Tech, Linsey Marr. “Os aerossóis de todo mundo vão ficar presos e parados lá e se acumular, e eles vão acabar se espalhando para além das próprias mesas”.
“Se houver partículas de aerossol no ar da sala de aula, esses escudos ao redor dos alunos não os protegerão”, concordou Richard Corsi, reitor de engenharia da Universidade da Califórnia em Davis. “Dependendo das condições do fluxo de ar na sala, você pode ter uma corrente descendente entrando nesse pequeno espaço em que você está confinado e fazer com que as partículas se concentrem no seu espaço.”
Nota do Cabeça Livre:
Vou traduzir outros trechos da matéria do New York Times que eu achei interessantes:
[…] Em um distrito escolar de Massachusetts, pesquisadores descobriram que as divisórias de acrílico com paredes laterais no escritório principal estavam impedindo o fluxo de ar. Um estudo analisando escolas na Geórgia descobriu que as barreiras nas mesas tiveram pouco impacto na disseminação do coronavírus em comparação com melhorias na ventilação e uso de máscaras.
Antes da pandemia, um estudo publicado em 2014 descobriu que divisórias de cubículos de escritório estavam entre os fatores que podem ter contribuído para a transmissão da tuberculose durante um surto da doença na Austrália.
Pesquisadores britânicos realizaram estudos de modelagem simulando o que acontece quando uma pessoa em um lado de uma barreira — como um cliente em uma loja — exala partículas enquanto fala ou tosse sob várias condições de ventilação. A tela é mais eficaz quando a pessoa tosse, porque as partículas maiores têm maior impulso e atingem a barreira. Mas quando uma pessoa fala, a tela não prende as partículas exaladas — que apenas flutuam em torno dela. Embora o balconista possa evitar um impacto imediato e direto, as partículas ainda estão na sala, representando um risco para o balconista e outras pessoas que possam vir a inalar o ar contaminado.
“Nós mostramos esse efeito de bloquear partículas maiores, mas também que os aerossóis menores viajam pela tela e se misturam no ar da sala em cerca de cinco minutos”, disse Catherine Noakes, professora de engenharia ambiental para edifícios da Universidade de Leeds em Inglaterra. “Isso significa que se as pessoas estiverem interagindo por mais de alguns minutos, provavelmente serão expostas ao vírus independentemente da tela.”
[…]
Para entender por que as telas muitas vezes têm pouco efeito em proteger as pessoas contra partículas de aerossol, ajuda pensar no ar exalado como uma nuvem de fumaça de cigarro, disse Marr.
“Uma maneira de pensar sobre as barreiras de plástico é que elas são boas para bloquear coisas como cusparadas, mas ineficazes para coisas como fumaça de cigarro. A fumaça simplesmente flutua, então dá à pessoa do outro lado um pouco mais de tempo antes de ser exposta à fumaça. Enquanto isso, as pessoas do mesmo lado do fumante estarão expostas a mais fumaça, já que as barreiras a prendem naquele lado até que ela tenha a chance de se diluir em todo o espaço.”
Resumindo de forma simples: as barreiras de plástico não impedem a transmissão do coronavírus pelo ar. E elas podem até mesmo aumentar as chances de infecção por obstruir a ventilação da sala. Portanto, essas barreiras são mais do que apenas irritantes. O teatro de segurança é possivelmente perigoso e contraproducente.
Alguns podem argumentar que não importa se dessas medidas nem todas são altamente eficazes. Por que não tomar todas as precauções possíveis? E o que há de errado em fazer as pessoas se sentirem melhor?
Muito, na verdade. Essa visão é profundamente ingênua e ignora a lição mais básica de economia: escassez, custo de oportunidade e trade-offs (relações de compromisso, “perde-e-ganha”). A realidade é que não temos todo o tempo e energia do mundo para nos dedicar às medidas de segurança. O tempo e a energia investidos em uma medida significam necessariamente menos tempo e energia investidos em outra. Ninguém pode ou vai tomar todas as precauções, e todas as medidas restritivas têm um custo social, econômico e humano.
Portanto, é uma boa notícia que até mesmo o New York Times está acordando para os perigos do teatro de segurança. Talvez logo eles percebam que todas as restrições à pandemia, não apenas as barreiras de plástico, vêm com sérios danos colaterais.
Nota do Cabeça Livre:
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Autor: Brad Polumbo
Brad Polumbo (@Brad_Polumbo) é um jornalista libertário-conservador e correspondente político na Foundation for Economic Education.
Tradutor: Cabeça Livre
Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Brad Polumbo em 21 de agosto de 2021 para a FEE.
O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em: