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Quatro recém-nascidos morreram após cirurgia cardíaca negada devido às restrições de viagem pela Covid

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Tragicamente, a pandemia de Covid-19 tem sido um laboratório virtual para lições sobre males “invisíveis” que resultaram da busca por “um benefício no presente”.

Quatro bebês morreram em Adelaide, Austrália, em outubro de 2020, após terem transporte negado para Melbourne por causa das restrições do governo que visavam conter o avanço da Covid-19, disseram autoridades de saúde.

Adelaide, a capital do estado da Austrália do Sul, não oferece cirurgia cardíaca pediátrica. De acordo com notícias de jornais locais, isso significa que anualmente cerca de 100 bebês são enviados para outro estado para fazer tratamento, normalmente para o Hospital Royal Children, em Melbourne.

Devido às restrições de lockdown contra a Covid-19, no entanto, Melbourne não era mais uma opção. Em vez disso, os pacientes tinham que ser enviados para Sydney.

A distância de Adelaide a Melbourne é de cerca de 725 quilômetros, um vôo de aproximadamente 75 minutos, enquanto a distância até Sydney é de cerca de 1.375 quilômetros, um vôo de quase 2 horas. A adição de 45 minutos pode não parecer muito tempo, mas quando estamos falando sobre operar um órgão vital de um bebê doente, minutos importam.

As notícias indicaram que os bebês nunca saíram de Adelaide, provavelmente porque os médicos determinaram que não sobreviveriam à longa viagem, ou porque o Hospital Infantil de Sydney em Westmead – o único hospital disponível, devido às restrições de viagem – não tinha capacidade para tratá-los.

Seja como for, por causa das restrições de viagens e da falta de um centro cardíaco em Adelaide, as crianças não receberam tratamento que poderia ter salvado suas vidas.

O Dr. John Svigos, obstetra e ginecologista, disse à rede de TV australiana 9 News que os quatro bebês que morreram em Adelaide “quase certamente” teriam se beneficiado de uma cirurgia no local. Ele observou que as restrições estaduais às viagens impossibilitaram o hospital de tratar bebês em outras instalações.

“Particularmente em nossa situação atual com a Covid, em que o processo normal de encaminhamento para a unidade cardíaca de Melbourne não é mais sustentável, e o encaminhamento para Sydney é feito avaliando-se caso a caso, devo deixar que vocês imaginem o profundo efeito dessas mortes sobre os pais, suas famílias e a dedicada equipe médica e de enfermagem que lida com essas tragédias”, disse Svigos, que administrou um consultório particular no Women’s and Children’s Hospital em Adelaide desde 1978.

A história é trágica. Também é frustrante, em parte porque sabemos que existem incontáveis casos como esse acontecendo todos os dias no mundo todo. Neste momento, é inegável: as leis sobre restrições que visam conter o avanço da Covid-19, embora projetadas para salvar pessoas, estão custando vidas.

A tragédia é agravada pelo fato de que era muito previsível. Qualquer estudante de economia que leu a linha de abertura do grande ensaio de Bastiat O que se vê e o que não se vê poderia ter previsto tais resultados. Nesse ensaio, Frédéric Bastiat escreveu:

Na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição, uma lei não geram somente um efeito, mas uma série de efeitos.

O economista explicou que toda ação traz não apenas uma única consequência, mas muitas consequências. Seres humanos tendem a se concentrar nos efeitos imediatos de uma ação (o que é visível), enquanto ignoram os inúmeros outros efeitos que não são visíveis. Bastiat advertiu que o economista deve ter cuidado ao perseguir “um pequeno benefício no presente, que será seguido por um grande mal no futuro”.

Em outras palavras, devemos olhar além dos efeitos imediatos de uma ação e considerar as consequências indesejadas de longo alcance.

Tragicamente, a pandemia de Covid-19 tem sido um laboratório virtual para lições sobre males “invisíveis” que resultaram da busca por “um benefício no presente”. Ao impor lockdowns em massa e proibir viagens e outras liberdades básicas, governos podem ter aumentado o distanciamento social, mas o fizeram a custos que talvez nunca consigamos compreender totalmente (mas que agora estamos apenas começando a compreender).

Vemos os efeitos imediatos, desejados – menos viagens, negócios fechados ou limitados em capacidade, mais crianças trabalhando em laptops e não na escola – mas tendemos a ignorar os muitos males invisíveis de segunda ordem. Isso inclui os exames de câncer que as pessoas não estão fazendo, as 100.000 empresas norte-americanas que nunca serão reabertas, as reuniões dos Alcoólicos Anônimos às quais as pessoas não podem comparecer, o aumento da depressão à medida que as pessoas perdem empregos, os milhões de pessoas caindo na pobreza e na extrema pobreza, o aumento dos suicídios, e sim – bebês e outras pessoas que tiveram negadas cirurgias que poderiam tê-las salvado.

Cada um desses efeitos, por sua vez, desencadeará inúmeros outros efeitos, muitos dos quais nunca serão vistos ou documentados.

O esforço para proteger indivíduos do coronavírus por meio de decretos governamentais em vez de ações individuais é semelhante a realizar uma cirurgia cardíaca com uma espada larga – atrapalhada, tola e mortal.

“Quantas mais mortes de bebês e crianças a comunidade e a equipe serão forçadas a suportar?”, perguntou o Dr. Svigos.

É uma pergunta que todas as pessoas que sofrem com lockdowns desumanos e outras restrições governamentais draconianas deveriam estar fazendo.

Autor: Jon Miltimore

Jonathan Miltimore é o editor-chefe da FEE.org. Seus escritos/reportagens tem sido tema de artigos na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.

Ele assina textos nos seguintes meios de comunicação: Newsweek, The Washington Times, MSN.com, The Washington Examiner, The Daily Caller, The Federalist, Epoch Times.

Tradutor: Cabeça Livre

Esse texto é uma tradução da matéria originalmente escrita por Jon Miltimore em 23 de outubro de 2020 para a FEE.

O texto original, em inglês, publicado sob a licença CC BY 4.0, pode ser conferido em:

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